Em Junho do ano passado escrevia neste blogue um novo tópico com o título Novos Rumos.
Foi um tempo de grande alegria depois de vários anos numa empresa polaca que foi de primordial importância para o meu desenvolvimento a nível pessoal e profissional e estabilidade financeira e familiar mas não oferecia mais perspectivas a curto, médio ou longo prazo.
Em finais de Junho de 2009 meti os meus objectos pessoais numa caixinha de cartão e apresentei a carta de demissão ao meu chefe polaco que, debalde, tentou ficar impávido e sereno. Despedi-me dos meus colegas de trabalho durante mais de cinco anos e com o carro atravessei aquele portão pela última vez na expectativa de novos rumos e com uma proposta aliciante de um patrício de nome João Lima.
Através do fórum Portugueses na Polónia esse individuo soube que procurava emprego e fui contactado via mensagem privada à qual respondi e que me levou a uma reunião na pequena cidade de Konin (a 100 km de Łódź) que me levaria ao tal pedido de demissão.
Bastou uma semana na empresa desse português para ficar com os pés frios (não só por causa do frio medonho que fazia no escritório e naquela casa) mas também pela estranheza em verificar certas atitudes e reacções que me deixavam a pensar se aquele individuo tão eloquente e simpático com quem havia almoçado uns dias antes era o mesmo que estava agora na mesa ao meu lado. Ao fim da segunda semana a minha colega polaca que trabalhava naquela empresa há uns meses (sem contrato e sem segurança social) elucidava-me sobre o lodo onde me tinha metido e a pessoa para quem trabalhava - o contrato de trabalho prometido estava entretanto a ser feito pelo contabilista...
Na terceira semana já desconfiava que algo ia correr mal e a motivação inicial caiu de tal forma ao ponto de ter começado a enviar o meu CV para outras empresas enquanto o contrato de trabalho estava a ser feito pelo contabilista...
Na quarta semana a equipe de vendas que era suposta começar nem sequer estava organizada, as entrevistas não se fizeram nunca apesar de inúmeros telefonemas a agências de recrutamento (headhunters) e uma eventual frota de automóveis Fiat estava dependente de uma assinatura, tal como o meu contrato de trabalho e o contrato com a agência de recrutamento e outros assuntos que não eram da minha conta...
No final dessa quarta semana fui promovido de Director Comercial para caixeiro viajante e o meu carro particular servia para fazer vendas porta-a-porta com o indicador do gasóleo a chegar à reserva tendo de meter combustível do meu bolso para chegar a casa. O salário prometido seria adiado mais uma semana e entre o fumo do tabaco que saía daquela boca mentirosa foi-me dito que não havia dinheiro pois a conta da firma estava congelada pelo tribunal e a venda de um stock de azeite português iria por um fim aos problemas de todos.
A quinta semana começou com uma ida à estação de serviço para meter 50 złoty de combustível e acabou numa quarta-feira depois de termos um empregado de armazém esfomeado e bêbado a pedir o salário em atraso (pouco mais de 1000 złoty) e a querer bater no patrão, uma mulher-a-dias que não recebeu 50 złoty e apenas recebeu o dinheiro do autocarro para ir embora praguejando algo do género "to nie możliwe!" (não é possível!). Nesse dia apenas disse que voltaria quando recebesse o salário ao que o patrício me respondeu, sem olhar nos olhos, com um "desculpa não tenho dinheiro".
Obviamente que aquele trabalho era para esquecer mas o mais extraordinário estaria ainda para acontecer. Depois de alguns telefonemas - atendidos depois de alguma insistência - o patrício deixou de atender o seu telemóvel, telefone de rede fixa ou responder a e-mails. Com a raiva com que lhe estava cheguei a escrever dezenas de SMS e chamar 100 vezes o número mas de nada serviu e nessa altura desisti de o contactar.
O contrato de trabalho nunca me foi dado, a segurança social não foi paga e o dinheiro nunca o vi.
Ao que consta o tal João Lima ainda vive algures na Polónia e continua as suas fantasias de ser um grande empresário e enterpreneur português na Polónia.
Ano Novo vida nova!
Amanhã começo a trabalhar numa multinacional em Łódź. Novos rumos definitivamente e sem ter árvores e sombras como a imagem que coloquei em Junho de 2009.
Bem haja a minha mulher por estar sempre ao meu lado, a minha sogra, mãe, irmã e amigos que procuraram ajudar no que podiam. Sem eles não teria aguentado esta pressão toda e fiquei a saber o que são realmente os valores mais importantes e queridos que podemos ter na vida. A família e os verdadeiros amigos que se preocupam connosco.
Abraço a todos!
6 comentários:
Parabéns !
Boa sorte na tua nova experiência. :)
Um bom ano para ti.
Fernando
Compreendo exactamente aquilo que passas-te. Vim para a Polónia sem grandes planos e mais numa de vir à aventura. Estive bastante tempo desempregado e quando não podia mesmo mais surgiu um emprego que estou a gostar. Não é nada de especial. Estou numa multinacional mas desejo-te as melhores venturas.
Boa sorte e que as coisas corram pelo melhor.
Bom ano por para ti e para a tua família.
Conhecia a tua história e não imagino como foi aguentar estes meses todos. Do vigarista nem vale a pena falar, não o merece. Apenas merece ser desmascarado para mais nenhum cair!
Espero que este ano novo seja o ano da reviravolta!
Abraço!
Boa sorte no novo trabalho, e de facto e espero que rapidamente consigas eliminar o mais possivel da memória esse traste.
Abraço e um melhor ano.
Um grande abraco!
Como esse patricio... existem outros que tentam enganar a malta que se encontra por estas bandas.
Desejo-te Boa Sorte e, espero que nos encontremos em Lodż.
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