segunda-feira, 27 de abril de 2009

Vida na Polónia - Kiełbasa e uma działka

Um grelhador a carvão, kiełbasa (uma espécie de alheira polaca), coxas de frango, cogumelos e cerveja, por vezes vodka nacional. Para muitos polacos a festa está feita e é para durar até de madrugada, se houverem convivas e boa disposição.

Assim passamos a tarde de 25 de Abril na Polónia, ao ar-livre, em liberdade. No fórum Portugueses na Polónia ainda tentamos alinhavar um jantar de portugueses em Łódź para celebrarmos juntos o feriado nacional mas, na falta de quórum, acabamos por adiar, para um dia destes.

O inesperado barbecue foi organizado por um membro do fórum de um inusitado clube de panos porta-bebé, para quem não sabe; os panos porta-bebé são aqueles panos que embrulham a criança à volta da mãe deixando-a confortável, com a coluna perfeitamente alinhada e dando à mãe a possibilidade de se deslocar ou fazer tarefas sem se preocupar com o carrinho de bebé ou com a alcofa, existem de vários tamanhos e feitios e, pelo que entendi, podemos comprar panos de qualidade Kia, VW, Toyota, Jaguar ou Mercedes.
O clube chama-se Klub Kangura e é de Łódź, o endereço é www.klubkangura.com.pl

O maravilhoso mundo das "działkas"

Um bom polaco deve ter uma działka - casinha de campo - onde possa fazer os seus grelhados, convidar os amigos e beber uns canecos ou uns shots de vodka nacional e, se a conversa durar e o álcool puxar, há sempre espaço para todos dormirem na casa, ninguém fica melindrado se no dia seguinte acordar com um pé desconhecido em frente do nariz. Quem aqui vive sabe-o bem, na Polónia quando é festa é festa!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Fé na Polónia


Guerra Junqueiro

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este,finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."


Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

Isto por aqui anda mau...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Polak potrafi - Portugalczycy też... ou a lei do desenrasca....

Em Portugal, um fumeiro caseiro feito a partir de um estendal! Quem não tem cão...

Na Polónia um Fiat 126P não é apenas um automóvel, um 126 é uma ferramenta multi-usos

Desenrascanço faz falta no léxico inglês

por P.B.Hoje
'Site' de humor elegeu as 10 palavras estrangeiras mais fixes que fazem falta na língua inglesa e o famoso 'desenrascanço' português lidera.
O "desenrascanço" dos portugueses, ou a "capacidade de resolver problemas rapidamente e com poucos meios; desembaraço" (Dicionário da Língua Portuguesa de 2009), acaba de ser eleita a palavra que mais falta faz no léxico inglês.
A eleição, realizada pelo site norte-americano Cracked - auto- -intitula "o único site de humor e vídeos, desde 1958" -, resultou num top 10 das expressões de outras línguas que mais fazem falta à língua inglesa, em que "desenrascanço" lidera (ver tabela ao lado).
Ilustrada com o personagem da série de TV dos anos 80, MacGyver, um agente secreto que não usava armas e resolvia todos os problemas com engenhocas várias e com o seu canivete, o site dá exemplo da aplicação do "desenrascanço". A saber: "Quando se usa o cabide para apanhar as chaves do carro que caíram na retrete, ou um bigode arranjado de emergência com pêlos púbicos."
Curiosamente, o Cracked chega mesmo a dizer que são os próprios portugueses a elegê-la como parte integrante da sua cultura. "Enquanto a maioria de nós [americanos] defende o lema de escuteiro 'Be prepared' (prepara-te), e está sempre em dificuldades se não planeia a mais pequena coisa em antecipação, os valores dos portugueses são justamente o oposto", refere o site, acrescentando que esta capacidade de improviso é ensinada nas universidades e nas forças armadas. "Eles acreditam que esta habilidade de resolver situações de última hora com soluções de momento foi a chave da sobrevivência noutros países", nomeadamente na "construção do império que começava no Brasil e ia até às Filipinas". "F... preparation (preparação). Eles têm o desenrascanço", conclui o Cracked.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os portugueses são preguiçosos e os polacos uns bêbados?




Ser português é medir 1,50 m, ter bigode preto farfalhudo e bater na mulher e nos filhos quando o Benfica perde...


Os portugueses são povos latinos, isso significa que são preguiçosos, baixinhos de cabelos e olhos pretos, falam alto, batem e traem as suas mulheres e fervem em pouca água, são criaturas de sangue quente...
Os polacos são eslavos, isso significa que são uns bêbados, são pobres, altos e loiros, falam baixo (quando estão sóbrios), as mulheres são prostitutas ou dançarinas e eles trolhas, são criaturas frias e distantes...



Ser polaco é beber vodka ao pequeno-almoço, cerveja ao jantar e conhaque antes de ir para a cama...

Estes são alguns dos estereótipos a que estamos sujeitos quando vivemos na Polónia, por vezes nem nos apercebemos do que vai na cabeça de certas pessoas quando convivem ou conhecem portugueses, o mesmo se passa com alguns portugueses quando conhecem ou convivem com polacos.
Recordo-me de um jantar no Porto, em casa do Luís R. e da Iwona, no qual conheci um português que havia estudado em Łódź. Dizia ele à minha amiga Iwona, sem mas intenções, que tinha estado recentemente em Itália e visto inúmeras prostitutas polacas nas ruas...
Do mesmo modo recordo-me do pessoal do escritório me perguntar se o "mañana" era mesmo verdade! Na altura não percebi rigorosamente nada mas lá me explicaram que os espanhóis (meteram-me no mesmo barco) eram conhecidos por deixarem tudo para fazer amanhã (mañana)...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Hábitos que se vão perdendo


O tradicional cumprimento português com dois beijinhos na cara é porventura fruto do 25 de Abril e das novas liberdades que se foram adquirindo a par com um afrouxamento de alguns costumes, tradições e formalidades mais enraizadas na nossa cultura.

Dizia Fernando Pessoa, num dos mais conhecidos slogans da Coca-Cola (antes do Salazarismo, obviamente!) que o dito refrigerante primeiro estranha-se e depois entranha-se, assim aconteceu comigo e com a substituição dos tradicionais beijinhos no rosto por o mais formal passou-bem ou, em determinadas circunstâncias, um ou três beijinhos na cara! Os dois beijinhos no rosto não têm lugar na Polónia.
Pondo as coisas ao contrário: Quando a minha polaca chegou a Portugal e foi apresentada à família portuguesa enfrentou repentinamente um verdadeiro festival do beijinho com os tios, tias e primos e também alguns conhecidos meus e vizinhos! O que para mim era algo tão natural como beber água era, para uma polaca, uma espécie de invasão de privacidade...
O tio de bigode farfalhudo, a vizinha e o marido do segundo esquerdo, a mulher-das-escadas e a Dona Gina, do quiosque da estação dos comboios, davam dois beijinhos na maior das naturalidades. Isto aliado a ser confundida com uma alemã ou com uma escandinava levou a Paula a ter de se habituar rapidamente a esta calorosa recepção e rol de perguntas fruto da grande curiosidade e naturalidade dos Europeus do Sul.