Por uma série de circunstâncias de vida mas sobretudo por opção pessoal e consciente estive alguns anos sem regressar à "ditosa pátria minha amada". Este Verão de 2014 marcou o romper deste ciclo e, espera-se, o inicio de um outro de grandes mudanças que passam por não estar tanto tempo afastado de Portugal e - veremos - a saída desta outra pátria de adopção, a Polónia. Tudo em aberto mas tomado com grande serenidade e tempo pois tal como diz o nosso provérbio: Depressa e bem não há quem...
Este "voluntário distanciamento" de Portugal, sobretudo fisicamente, pois de resto estamos sempre ligados ao nosso país seja pela comunidade portuguesa na Polónia, as novas tecnologias, Internet, telefone, televisão e até - no meu caso - pela participação no fórum da revista de automóveis AutoHoje online onde por vezes se sabem certas noticias antes dos próprios media portugueses as divulgarem! Verdade, verdadinha...
O regresso soube autenticamente a sentir-me como estrangeiro na minha própria terra. Uma experiência sensacional que permite ver Portugal sem a capa do ressentimento e sem o peso de nos envolvermos em politica apesar de ter ficado estarrecido com as consequências do caso do BES e dos milhões de milhões disponibilizados pelo Estado para "sanar" mais uma das chagas bancárias deixadas a descoberto pela elite portuguesa, tudo em plena crise com cortes revoltantes nos salários e pensões e aumento absurdo dos impostos.
Da pequena janela do Airbus da TAP a vista de Portugal é a prova imediata que o nosso país é de facto muito bonito e que o mar e a água em contraste com as rochas e montanhas são a característica mais especial que o distingue de outros países mais a Norte e a Leste da Europa onde impera o cinzento nas grandes cidades e a falta de luz e calor do "nosso" sol português.
A emoção do reencontro com a família no aeroporto, sem aqueles cenários de pranto e descontrolo que a televisão adora passar em prime time para mostrar aos portugueses aquilo a que "os pobres dos emigrantes" têm de se sujeitar por causa do governo e da crise, dá rapidamente lugar à alegria e à redescoberta do mundo que outrora fez parte do nosso quotidiano. As matrículas dos carros com o "P" e o rectângulo amarelo à direita desfilam enquanto atravessamos a longa ponte Vasco da Gama no Toyota da minha tia mais nova que se prestou sem reservas e restrições a nos transportar para a outra banda onde reside actualmente a minha irmã. Os luso-polacos no banco de trás estão deslumbrados com a ponte e com o Tejo ouvindo-se algumas expressões típicas dos polacos quando ficam surpresos com algo: O jejko! Ale most!!! A tia portuguesa não entende rigorosamente nada mas sorri enquanto o sobrinho pequeno de 40 anos leva a repreensão, típica, de não lhes ter ensinado devidamente português e que as crianças aprendem facilmente idiomas, que os pais devem falar em duas línguas, que... A avó e mãe do pequeno Ricardo de 40 anos concorda e lá tenho de fazer o mea culpa de ter dois petizes que mal falam português mas dominam o complicado idioma polaco...
Alguns paroquianos preparam o andor para a procissão na Igreja Matriz de Alhos Vedros. No tecto ricamente adornado podemos ver a grelha, símbolo do mártir que deu nome à mesma. |
Um saboroso jantar regado a vinho branco do Alentejo espera-nos em Alhos Vedros, a "base" destas férias. Uma localidade dormitório na Moita onde imperam prédios quase iguais uns aos outros e com um centro antigo e bastante abandonado mas com recantos interessantes que recordam a História da outrora grande vila de Alius Vetus dos romanos posteriormente parte de um califado e reconquistada pelos cristãos à espadeirada e força bruta. A antiquíssima Igreja Matriz de Alhos Vedros caiada de branco e dedicada a São Lourenço que literalmente morreu grelhado, daí o seu símbolo ser uma grelha, leva-nos a uma viagem a séculos imemoriais onde a Igreja era de uma importância primordial na sociedade. Por sorte tivemos direito a visita guiada pelo simpático e idoso padre que ficou a saber virmos da católica Polónia sem contudo se interessar por detalhes relativos questões da nossa fé. O próprio pároco estava vestido informalmente de camisa de manga curta e calças de fazenda enquanto na Polónia tipicamente encontramos os padres devidamente "fardados" relembrando-nos que aqui a Igreja tem ainda uma papel dominante na opinião pública e nas vidas de grande parte da população.
Para espanto - ou não - a presença polaca junto à estação de caminhos de ferro em Alhos Vedros num velho casario. Os kibole ou ultras de futebol da cidade de Lublin deixam para "mais tarde recordar" como as Kodak uma parede pichada com os dizeres RKS Motor Lublin com os "O" devidamente cruzados como a cruz celta pretendendo reforçar a ideia de que são de ideais de extrema-direita e racistas. Ao lado o Benfica Merda que dispensa comentários mas que eventualmente terão sido rabiscados pelos mesmos autores.
Na ida para a Praia da Figueirinha em Setúbal - contarei na próxima parte - um momento típico de "emigra" que é o café e o pastel de nata. Certo que não é o turístico pastel de nata de Belém em Lisboa onde os turistas se empilham para comprar os ditos (não contem comigo) mas soube tão bem! É bom estar de volta, penso, enquanto saboreio estas coisas tão simples que me trazem à memória uma torrente de imagens desde os cafés e pastelarias em Famalicão onde passei a infância e juventude aos tempos de universidade no Porto onde o mesmo ritual servia para passar o tempo enquanto a chuva escorria pela janela do Café Jovem no Amial e se esperava pela namorada ou pelo autocarro para regressar a casa.
De volta à realidade oiço polaco e inglês. É tempo de apanhar o autocarro "descapotável" - mais um fenómeno aos olhos dos petizes - e ir em rumo à praia da Figueirinha para ir a banhos...
2 comentários:
Obviamente,amei.....estava lá cheia de contentamento.
Ja não vou a Portugal ha mais de um ano. Coincidência estive também nessa zona. Repousa bem e aproveita enquanto podes que isto de estar na terra e do melhor que podemos ter.
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