A História ensinada nas escolas portuguesas e no
Ocidente em geral é aquela dos vencedores. Como se de um almanaque se tratasse
a nossa juventude fica a conhecer a História da fundação do Reino de Portugal,
a glória dos descobrimentos portugueses e do Império Colonial - com pouca ou
quase nenhuma menção ao lado obscuro do mesmo - e dão-se noções dos conflitos
de 1914-1918 e 1939-1945 com passagem pela Ditadura Salazarista, a Revolução
dos Cravos em 1974 e a adesão à C.E.E. em 1986. Quem se
interessa e quer saber mais tem de ler, pesquisar e estudar História mesmo que
não seja garante de emprego nos dias que correm. Como tal a ideia que fica da
Polónia é a de um país longínquo e frio que preferiu
unir-se à URSS preterindo o dito "Mundo Livre" o que na
realidade não foi bem assim.
O
Spitfire do Esquadrão polaco 330 liderado por o Comandante Jan Zumbach (à
direita). Por baixo da carlinga encontra-se pintado o "countdown" dos
inimigos abatidos em batalha.
A invasão da Polónia em 1939 foi o primeiro sinal do
distanciamento e abandono dos aliados ocidentais nomeadamente a Inglaterra.
Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Joseph Stalin dividiram entre si o
bolo que a Alemanha Nazi levedava mesmo antes do possível fim de uma guerra que
todos sabiam ser inevitável e de consequências dramáticas.
Mas para se compreender o sucedido há que recuar um
pouco no tempo para o período áureo entre guerras. Depois da derrota da
Alemanha em 1918 as nações afectadas pela guerra e a Europa tinham de se
precaver contra o ressurgimento de novos conflitos que desestabilizassem o
velho continente. A Polónia que nesse período era uma Democracia Parlamentar (a
sua Segunda República durou de 1918 a 1939) assinou alianças com a Inglaterra e
a França conhecidas como Aliança Franco-Polaca e Aliança Anglo-Polaca. O
prometido era o apoio militar francês e inglês em caso de ataque. Em 1939 a
Polónia contava com esses aliados para debelar o invasor alemão contudo, apesar
da declaração de guerra ao III Reich, a ajuda não se efectivou nem com a
invasão a Oeste nem com a posterior invasão a Leste, pela URSS, no mesmo mês,
no dia 17 de Setembro. Era evidente que a Polónia estava entregue a si própria
e a um exército que não tinha nem de perto nem de longe a capacidade do
inimigo.
O Governo Polaco no
Exílio
O
General Sikorski liderou o governo polaco no exílio até à sua morte em 1943.
Tal como Kaczyński e a sua comitiva o líder polaco faleceu num desastre de
aviação. Na altura a morte do General foi recebida com grande apreensão e
desanimo numa Polónia anexada.
O Governo
Polaco no Exílio (ząd Rzeczypospolitej Polskiej na uchodźstwie) teve
papel determinante na imagem da Polónia no exterior quer durante a II Grande
Guerra quer posteriormente durante o regime totalitário que converteu o país em
mais um dos satélites da URSS. Incrivelmente
este governo exilado esteve sediado em Londres durante 50 anos apenas cessando
funções em 1990 quando o regime comunista foi finalmente desmantelado.
É neste contexto que surgem os heróis polacos da RAF
ou Royal Air Force, a Força Aérea Britânica. Junto com o novo governo polaco no
exílio vieram também parte das forças armadas polacas. Os pilotos de aviação
estabeleceram-se em França até à invasão Nazi em 1940 combatendo ferozmente e
com sucesso, na Batalha de França, a agressão dos esquadrões da Luftwaffe; facto
assinalável tendo em consideração a utilização de aviões obsoletos face à
tecnologia da aviação alemã com os seus eficazes e rápidos Messerschmitt.
Em Inglaterra uma recepção algo fria e desconfiada por
parte dos militares e oficiais ingleses viria posteriormente a tornar-se numa cause
célèbre quando os esquadrões polacos e os seus 8400 destemidos pilotos
somavam vitorias em batalhas aéreas memoráveis e de grande importância para a
derrota da Wehrmacht no teatro de guerra europeu. A
Inglaterra passou a ser chamada de Ilha da Ultima Esperança (Wyspa Ostatniej
Nadziei) perante a desolação de uma Polónia anexada e destruída.
Com o brutal esforço de guerra inglês perante uma
Alemanha preparada para a guerra em varias frentes os pilotos ingleses não eram
suficientes e em muitos casos faltava-lhes a experiência necessária. Os polacos
bem preparados, com experiência em batalha e com a motivação de destruírem o
inimigo da sua pátria tomavam os comandos dos caças Spitfire da
RAF enquanto aprendiam língua inglesa adoptando nomes "inglesados"
perante a impossibilidade dos ingleses pronunciarem os seus complicados nomes e
apelidos polacos...
A sua fama passou fronteiras e chegou a ser descrita
pelo escritor e editor americano Ralph Ingersoll.
Nos finais de 1940 o visitante americano Ralph
Ingersoll reportava que os polacos "faziam as conversas de Londres"
pelas suas vitorias. Apesar de numa primeira instância os polacos memorizarem
frases simples em inglês para se identificarem, caso fossem abatidos em
território britânico e para não serem confundidos com alemães, o visitante
escrevia que agora "andam sempre com uma moça em cada braço. Dizem eles
que as moças não resistem aos polacos e os polacos às moças".
Com o final da guerra em 1945 e o armistício os
esquadrões polacos da RAF seriam descontinuados apesar de muitos dos seus
heróis terem continuado no exílio em Inglaterra. Depois de combaterem pela
liberdade, os que sobreviveram, teriam de ver o seu próprio país com os
grilhões da URSS até 1989.
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