Off Piotrkowska
O que fazer para dar vida a uma cidade com um centro
urbano em visível declínio? Ter um boa ideia. Foi isso que tiveram em mente os
criadores deste espaço que, tal como diz o nome, é off-Piotrkowska (fora
da Piotrkowska) e estava em quase total abandono desde o fim da I Grande Guerra
e os anos entre-guerras quando a industrial têxtil entrou em decadência. Ali,
no centro da cidade, mesmo ao lado da mais movimentada rua da cidade de Łódź um
imenso espaço esperava melhores dias.
O consórcio
OPG (Orange Property Group) tornou-se proprietário daquilo que em
tempos foi a fabrica Francis Ramisch revitalizando o espaço e aproveitando a
vasta área de fabrica e armazém deixando que o próprio estilo decadente e tão
típico de Łódż com os seus prédios e fabricas em tijolo-burro construídas
durante a revolução industrial no século XIX servissem como atracção. Isto aliado a uma ocupação do espaço por artistas,
artesãos, activistas e gente criativa gerou um ambiente especial que
inevitavelmente nos faz activar a câmara do telemóvel ou mesmo fazer uma sessão
de fotos com a câmara digital se a tivermos à mão. Os detalhes dos velhos e escurecidos
tijolos encarnados, recantos sombrios, ventiladores, chaminés, pesadas portas
em metal com rebites, escadas em metal oxidadas por décadas de intempérie, os
candeeiros e as amplas janelas com vidraças proporcionam imagens únicas que se
associam na perfeição com Łódź e contam histórias a quem por isso se
interessar.
Lojas como a Pan Tu nie Stał (expressão
que significa "o senhor não estava aqui" e usada amiúde durante as
longas filas de espera no comunismo), o Tari Bari Bistro, Mebloteka YELLOW e diversos
cafés, estúdios e pequenos negócios atraem uma clientela que procura uma
alternativa ao comum centro comercial que pouco se distingue de um outro
similar em Lisboa, Berlim, Bordéus, Madrid ou Rio de Janeiro.
Algumas das atracções na
off-Piotrkowska
Feiras, exibições, exposições, um halfpipe em
betão para skate, actividades culturais diversas, pintura de murais, grafitti e
concertos têm lugar neste espaço onde outrora se encontrava a "China
Town" de Łódź; uma concentração de barracas onde proliferavam os
vietnamitas e o odor a óleo de fritar queimado que se impregnava nas narinas
sentido-se particularmente nas noites frias de Inverno. Nos tempos em que
fiz Erasmus era um local conhecido e frequentado por os estudantes por se comer
barato e onde havia uma tasca de um polaco ex-emigrante na Finlândia que tinha
as paredes forradas a cachecóis e galhardetes de clubes de futebol. Como seria
de esperar ou não fossemos uma nação de fanáticos de futebol - com algumas
excepções como o vosso escriba - não faltavam os cachecóis do Benfica,
Sporting, Futebol Clube do Porto e Selecção Nacional a par com os do Real
Madrid, Barcelona dados por os portugueses e espanhóis que por ali passaram.
Essa pseudo-atracão da cidade já não existe e diga-se em abono da verdade que
não faz realmente falta.
A existência do off-Piotrkowska prova
que a cidade de Łódź e os inúmeros espaços urbanos decadentes e abandonados
podem ser reaproveitados de modo inteligente haja capital e sobretudo boas
ideias.
As promessas de 6000 postos de trabalho na Polónia na
Amazon.com
Quando vivia em Portugal e sobretudo durante a
infância e adolescência devo confessar que a minha ideia de Europa acabava ali
na Alemanha numa fronteira sombria e hostil com os países-satélite da URSS. A
França era um pouco como a Europa Central e o centro do continente, uma visão
redutora fruto das décadas de guerra-fria e medos causados pela bipolaridade
EUA-URSS. A Polónia era o país do Solidariedade, do Lech Wałęsa, do Papa João
Paulo II, dos desenhos animados apresentados por Vasco Granja e pouco
mais.
Na realidade a Polónia junto com a Áustria, a
República Checa e a Eslováquia constituem a Europa Central havendo para lá das
suas fronteiras uma vastidão de território europeu, ignorado pela maioria, e
que termina nos Urais na Federação Russa. A localização geográfica da Polónia e
os seus portos no Mar Báltico conferem-lhe uma vantagem importante face aos
outros países da Europa Central. Aqui estamos perto de quase todas as capitais
europeias o que se torna uma vantagem - com excepção para a distância a que
estamos de Portugal e de Lisboa!
A empresa norte-americana Amazon teve em consideração
esse facto anunciando a criação de 6000 postos de trabalho a curto-prazo na Polónia nas cidades quasi-fronteiriças de Poznań e
Wrocław. Do mesmo modo foi anunciado que a mão-de-obra especializada foram
também factores cruciais nesta decisão contudo o valor do investimento não foi
revelado sendo anunciado que são "centenas de milhões de euros".
As Bolachas Maria do Vieira
Sempre fui um bolacheiro especialmente ao
pequeno-almoço. Adoro molhar meia-dúzia de bolachas na chávena do
café. Quando sai de Portugal deixei para trás
também as minhas adoradas bolachas Maria. Aquela nossa típica
bolacha circular, com furinhos, o padrão típico nas bordas e a o MARIA ao
centro.
Na Polónia a alternativa são umas bolachas que eles
chamam de Holanderskie ou Herbatniki (para o
chá) e nos últimos anos umas semelhantes que se chamam de Petit Beurre junto
com outras de fabrico turco... Graças ao Facebook e às saudades dos
compatriotas fui notificado das Maria no Biedronka (também conhecido por os
nacionais como Joaninha). Encontradas as Maria reparo que são daquelas feitas
na fabrica Vieira de Castro de Vila Nova de Famalicão, que conheço tal como os
filhos do dono, e onde havia há muitos anos um cruzamento pouco frequentado
onde a areia junto com o asfalto era o local ideal para fazer piões e arranques
a sacudir o eixo traseiro de um velho Toyota Corolla 1200...
Reviver o passado em Google Street Views. A fabrica da
Vieira de Castro em Famalicão e o cruzamento onde outrora fazíamos rally-pirata
com um Toyota Corolla 1200. Hoje em dia uma mini-rotunda e estrada bem
asfaltada onde se vê à esquerda a fabrica e em primeiro plano um campo de
cultivo. Uma típica imagem do Minho e de Famalicão onde o progresso está mesmo
ao lado da tradição.
O Grupo Jerónimo Martins importa, ainda que em pouca
quantidade, produtos portugueses. Os supermercados Biedronka estão claramente
virados para o consumidor polaco e a própria publicidade faz questão de
sublinhar essa intenção, Uma loja polaca para polacos ainda que os
proprietários sejam portugueses. Este mês temos bolachas Maria, sardinhas em
conserva e a feira dos vinhos onde encontramos a preço razoável bom vinho
nacional. Por vezes aparecem sobremesas do Pingo Doce, bacalhau, pescada,
queijo da ilha, vestuário e calçado Made in Portugal e devo sublinhar que as
botas que comprei no Biedronka por 20€ estão para as curvas depois de 2 anos de
neve, gelo e sal nos passeios.
O que é
nacional é bom!
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