domingo, 15 de fevereiro de 2015

A Europa dos Nómadas


Isto de ser português e viver na Polónia é no mínimo curioso... Portugal e Polónia são países de emigrantes, cada vez mais. Sou portanto proveniente de um país conhecido pela emigração e vivo actualmente noutro onde - de acordo com fontes "Wikipedicas" - mais de 20 milhões de almas residem permanentemente no estrangeiro. Nos EUA cerca de 10 milhões de americanos são descendentes de polacos e no Reino Unido e Irlanda consta que mais meio milhão deles por ali fazem as suas vidas... 

Tal como tenho vindo a escrever desde há algum tempo atrás a saída da Polónia para outras paragens desenha-se no horizonte se bem que o plano é para ser realizado paulatinamente e sem precipitações ao estilo da canção do Clemente "Vais Partir" ou no meu caso; Musisz opuścić. Nada de dramatismos lusos ou polacos ao estilo; "vou mas é para a Inglaterra - ou Alemanha ou Suiça ou Angola ou Brasil ou... - e só com bilhete de ida! Estou cansado desta merda!" - good ridance and good luck para os que assim o decidem, é preciso coragem!

A verdade é que nos primeiros passos que estou a tomar nesse sentido não deixo de ficar surpreendido positivamente pela conexão e disponibilidade da comunidade portuguesa em ajudar no que pode quando um compatriota lhes pede uma mãozinha. De familiares a amigos e portugueses na Polónia e na ilhas britânicas há sempre quem tenha uns minutos para o chat no Facebook, se preste a entregar o CV a quem de direito ou que tenha um conselho a dar seja ele a favor ou contra a ideia de se emigrar para o país x ou y. Portugal pode estar a ser governado por energúmenos e as agências de rating nos EUA classificarem-no de lixo mas a nossa gente, a que está em Portugal e espalhada pelo mundo são o nosso maior valor. É sempre bom relembrarmos isso.

As costas escarpadas da Irlanda são conhecidas internacionalmente mas poucos sabem que é um países com menos de 5 milhões de habitantes e com um idioma próprio, o Irlandês, ainda que maioritariamente se fale em língua inglesa. 
Brasileiros, espanhóis, sobretudo os galegos, e angolanos são também aqueles povos com quem sentimos afinidade e com os quais temos uma quase imediata empatia. Também eles estão espalhados pelo mundo e na República da Irlanda, por exemplo, há uma significativa comunidade brasileira que se foi formando atraída pela possibilidade de aprender e estudar a língua inglesa. Trabalham nos mais variados sectores e estão muito melhor organizados que a nossa própria comunidade. O emigrante português de certo modo é mais individualista se bem que o facto de pertencermos ao Espaço Schengen e à UE nos facilite a vida de sobeja quando em comparação com os que chegam vindos de outros continentes. 

Wrocław ou Breslávia (em português) é uma das cidades polacas que se desenvolveu exponencialmente. A sua universidade atrai anualmente inúmeros estudantes portugueses de intercâmbio e alguns por lá ficam a trabalhar nas multinacionais que necessitam de trabalhadores multilingues. 

A Polónia tem de facto vindo a desenvolver-se desde a adesão à UE em 2004 e os polacos têm uma força de trabalho e um potencial muito grande, o país está cada vez mais a distanciar-se daquilo que era, e daquilo que me recordo, no principio do século, sobretudo em Varsóvia, Cracóvia e de certo modo em Wrocław e Poznań. O problema que ainda persiste é sobretudo nas precariedades da rede ferroviária e rodoviária, os meandros da burocracia e lentidão que muitos serviços públicos apresentam (por exemplo um colega polaco que deslocou uma perna teria de esperar dois anos por uma operação no hospital público - lista de espera até 2016!) e o peso brutal dos impostos, sobretudo nos descontos para a segurança social (ZUS) e outros impostos que ninguém sabe ao certo para onde vão parar... 

O partido de Direita UKIP de Nigel Farage, tem como estandarte politicas anti-emigração  e anti-UE. Tem vindo a subir nas sondagens para as próximas eleições gerais em Maio. No cartaz: 5000 pessoas estabelecem-se aqui todas as semanas. Diga não à emigração  histeria em massa
Muitos britânicos queixam-se amargamente dos emigrantes, de e fora da UE, que ali se deslocam com o intuito de sugarem a segurança social e utilizarem os serviços públicos - maioritariamente gratuitos - e que a adesão à então denominada CEE em 1973 foi um dos maiores erros que fizeram. O terceiro idioma mais falado no Reino Unido é hoje em dia o polaco sendo o segundo Hindi.

Enquanto isso, aqui ao lado, na Ucrânia, uma guerra ruge com o apoio implícito da Federação Russa e o braço de ferro entre Moscovo, os EUA, a NATO e o expansionismo da UE numa espécie de reactivar da Guerra Fria que marcou tantas gerações no século passado. Aviões, navios e submarinos russos estão neste momento em actividade um pouco por toda a Europa, num desafio ao Ocidente. Não pensem que o facto do preço dos combustíveis estar neste momento em níveis ridículos, em comparação com outros anos, é por acaso. A Federação Russa mostra o seu poderio militar enquanto o rublo cai para valores não vistos há anos e os americanos mostram a sua capacidade de manipular o xadrez mundial pelo poderio económico fruto de décadas de conquistas belicistas e não-belicistas, amiúde por trás das cortinas, na procura de alianças e de aliados no médio-oriente como os Sauditas. Money talks... 

As recentes e chocantes imagens de civis mortos na Ucrânia, em paragens de autocarro e em blocos residenciais e também dos soldados que deram a sua vida pela pátria e independência são o relembrar de uma Europa dividida onde a Polónia foi palco de um dos mais execráveis conflitos mundiais. Mais uma vez este país serve como zona-tampão entre a Rússia, a Alemanha (já notaram que quase ninguém menciona Bruxelas mas sim a Sra. Merkel?) e o resto da UE. 

Membro da NATO e da UE a Polónia tem vindo a ser anfitriã de um cada vez maior contingente de militares, ao abrigo dos acordos com a NATO, sobretudo vindos dos EUA e inclusivamente já se registaram cenas de pancadaria, ao bom estilo polaco, entre os locais (conhecidos pela comunidade portuguesa como "os carecas do fato-de-treino e Adidas") e os ianques e assim seria desejável se todos os conflitos fossem desse calibre...  

Há aproveitar a mobilidade que o projecto europeu nos dá para podermos trabalhar e organizar a vida noutras paragens. Até quando será isso possível?


Sem comentários: