domingo, 18 de janeiro de 2015

Vale a pena emigrar e viver na Polónia?


O nosso grande poeta português Fernando Pessoa escreveu no "Mar Português"; Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena. Escrevi a marcador essa parte do poema na parede de um apartamento de Łódź há mais de dez anos quando aqui estudei ao abrigo do programa Sócrates-Erasmus. E valeu a pena? Pela minha parte sim. Foi um apelo e uma decisão emocional, alias parece-me que assim o fizeram os portugueses e portuguesas que aqui viveram e ainda vivem. 

A "Casa Torta" em Sopot


A discussão na página da Comunidade Portuguesa na Polónia do Facebook foi fogo em estopa. A pergunta sobre o nível de vida na Polónia e em Cracóvia foi o mote para se constatar que de facto não é pelo "vil metal" ou para poupar que a esmagadora maioria dos portugueses e provavelmente dos brasileiros e outros emigrantes da Europa Ocidental aqui estão. 

O salário médio na Polónia situa-se actualmente nos 3781 PLN ou seja 877€, grosso modo, significa que metade ganha acima desse valor e outra metade abaixo do mesmo. IT é um dos empregos populares para os nossos compatriotas e valores entre os 3000 e os 4000 PLN (695€ 927€) parecem ser a média que as inúmeras empresas de IT pagam aos seus colaboradores multilingues. Alinha-se o diapasão com os salários dados aos locais ou quando muito um bónus por o idioma para os nivelar ligeiramente acima. Só que 700 ou 1000€ na Polónia dão para comprar mais coisas do que em Portugal... A verdade é que vão-se preenchendo vagas, surgindo outras e chegam todos os anos mais "tugas" à Polónia, quase sempre com uma polaca ou um polaco à sua espera ou de mão dada com eles.

No caso do vosso escriba a estadia prolongada na Polónia (já lá vão 11 anos) trouxe dois rebentos e todas as mudanças no estilo de vida, disponibilidade, preocupações (muitas vezes nervos e cansaço!) mas também alegrias e momentos únicos ao estilo Kodak - para mais tarde recordar - que uma família acarreta mesmo que parte dela esteja lá longe em Portugal e as saudades aprendem-se a domar como se faz com um cavalo selvagem. 

Uns queixam-se da comida local não ser como a nossa - habituam-se e até passam a gostar de muitos pratos - ou que os polacos passam a vida a comer pepinos ou picles de pepino, kasza gryczna em vez de arroz, que bebem chá quente às refeições, coisa que nós fazemos quando estamos adoentados, de ressaca, ou com uma gripe de caixão à cova, que não são capazes de comer queijo das montanhas oscypek, que têm problemas em comer um pedaço de golonka mas parecem lambuzar-se com a sopa zurek ou uns pierogi acompanhados com uma caneca de Żywiec. Ah! E aquele dziękuję (obrigado) que eles dizem no fim das refeições não é pela vossa amável presença mas a agradecer a Deus a refeição - recordai-vos portanto que estais num país católico apostólico romano e que tendes uma grande probabilidade de virdes a casar numa Igreja... 

Na realidade o emigrante na Polónia não sabe muito bem o que faz aqui... os salários são mais baixos do que em Portugal ainda que a possibilidade de ficar no desemprego seja menor, o clima é frio no Inverno, as estradas ainda deixam muito a desejar apesar dos melhoramentos na rede viária e a herança comunista sente-se num sistema pesado e burocrático, cheio de papeis e carimbos onde se faz tudo de acordo com a cartilha sem grandes alaridos ou sorrisos de simpatia. O atendimento e serviço ao cliente por vezes roça o absurdo deixando o freguês com a sensação que lhe estão a fazer um favor em o atenderem.



As escolas requerem pesquisa na escolha e no nosso caso oito quilómetros de automóvel ou de transporte público. O ensino é eminentemente teórico e os professores ainda gozam de um certo estatuto sobretudo nas universidades onde o formalismo é regra e não excepção - o guarda-roupa pode mesmo ser determinante para aquele ponto extra que dita a ida a uma prova oral, repetir o exame ou mesmo chumbar. Normalmente há alguma tolerância com os estrangeiros e os portugueses que conheço com os seus brincos, o seu estilo totalmente informal, com os seus cortes de cabelo xpto e gel mais a barba de duas semanas e as calmas com que se deslocam - como se estivessem a andar na passadeira de acesso à praia - têm-se safado mas duvido seriamente que um estudante polaco tivesse o mesmo tratamento. 

Para quem quer estroinice, copos, vida nocturna e sexo ao estilo Instinto Fatal ou Nove Semanas e Meia a Polónia é uma boa escolha. Ainda é relativamente barato beber uns tragos com os amigos ou levar aquela miúda gira ao restaurante ou ao cinema; alias mulheres e miúdas giras é o que não falta para estes lados como se sabe com a agradável surpresa que muitas delas são capazes de manter uma conversa interessante e têm uma boa cultura geral. Depois o "tuga" que vem armado em macho-latino fica rapidamente amaciado, manda inúmeras postas de pescadas que é um autêntico Rocco Siffredi lusitano mas apaixona-se e assim cai mais um dos porta-estandartes da bandeira das quinas... tal com a mulher "tuga" que também se deixa seduzir pela beleza eslava mas isso dos polacos espero pelo blogue (ou artigo) de alguma compatriota para que tenhamos uma melhor perspectiva... 

Alugar apartamento pode revelar-se uma tarefa espinhosa não tanto pela disponibilidade - não estamos no Reino Unido ou Alemanha onde há crise - mas pela barreira linguística e pequenos pormenores como o calculo da electricidade, do condomínio, da água e do gás e do sistema central de aquecimento. Por vezes há senhorios "Chico-Espertos" que aparecem com umas contas-mistério e umas conversas rebuscadas, que nem os polacos entendem, de pasta de argolas em punho cheia de papeis e recibos. As rendas depende da cidade, do tamanho, ano do prédio e obviamente da zona como em todo o lado mas há inúmeros sites onde procurar como por exemplo o rentflatpoland.com do emigrante francês Nicolas Jerzyk. 

Por isso se é para fazer pé de meia ou aparecer com a viatura nova em Agosto esqueçam. A Alemanha, Noruega, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Bélgica, o Luxemburgo e a França apresentam-se como soluções mais racionais a par com outros países fora da UE que têm politicas mais restritivas de emigração como a Suiça, Canadá, EUA, Austrália e Nova Zelândia. Para quem procura diversão a preço moderado a Polónia, República Checa, Estónia e Eslovénia são bons destinos. Se querem sol, calor e relaxamento tentem a sorte na Espanha, Itália, Croácia, Grécia ou... fiquem em Portugal.  

Este ano vou tentar a minha sorte noutras paragens, provavelmente darei motivos  a Nigel Farage para se atrasar nos seus comícios políticos mas há que tentar. Uma coisa é certa, quando estou na Polónia sinto saudades de Portugal e quando estou em Portugal sinto falta da Polónia.  

Para quem pensa em deixar o nosso país, seja para onde for, os meus votos de boa sorte relembrando que os portugueses são no fundo uma raça de descobridores e de gente destemida não desvalorizando os que estão e que ficam em Portugal que são igualmente destemidos perante tantas adversidades. 


1 comentário:

Paulo Sousa disse...

Viva,
depois de ler o paragrafo abaixo transcrito, pensei e o vinho???
O tintol??' não há?
"Uns queixam-se da comida local não ser como a nossa - habituam-se e até passam a gostar de muitos pratos - ou que os polacos passam a vida a comer pepinos ou picles de pepino, kasza gryczna em vez de arroz, que bebem chá quente às refeições, coisa que nós fazemos quando estamos adoentados, de ressaca, ou com uma gripe de caixão à cova, que não são capazes de comer queijo das montanhas oscypek, que têm problemas em comer um pedaço de golonka mas parecem lambuzar-se com a sopa zurek ou uns pierogi acompanhados com uma caneca de Żywiec. Ah! E aquele dziękuję (obrigado) que eles dizem no fim das refeições não é pela vossa amável presença mas a agradecer a Deus a refeição"
Portugal é Portugal e o resto é... mais ou menos.
Quem gosta de Portugal gosta de
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Acho eu!
Um abraço e continuação de excelentes crónicas.
Obrigado