sábado, 28 de setembro de 2013

Portugueses na Polónia em Erasmus e intercâmbio


Chegamos a Setembro e com ele as descidas de temperatura, a queda das folhas, o começo do ano escolar e com ele o aparecimento de estrangeiros trazidos pelos programas de intercâmbio entre universidades, sobretudo o Programa Erasmus e Leonardo da Vinci. Em Łódź reconhecem-se por andarem aos pares e por falarem entre si entusiasticamente e um tom acima da média dos transeuntes. Por vezes oiço a língua portuguesa quando se cruzam comigo sobretudo na rua Piotrkowska e no Centro Comercial Manufaktura. Estão eles longe de imaginar que acabaram de se cruzar com um compatriota e também com um ex-Erasmus que decidiu viver no país onde supostamente deveria ter estado apenas um semestre. 


Do semestre de 2001/2002 até hoje muito mudou na Polónia e no mundo, Em Agosto e Setembro de 2001 pesquisar no Yahoo (o Google era ainda uma miragem) por Polónia ou Poland resultava num ror de informação pouco útil e nem mesmo um mapa decente do centro da cidade de Łódź consegui encontrar para imprimir.  Nessa altura fazer um Erasmus na Polónia era uma verdadeira aventura. Um país que havia saído do comunismo há pouco mais de dez anos e ainda a sonhar com a adesão à UE. Uns a favor e outros, ainda que menos, eram contra sobretudo nos meios mais conservadores e rurais. Teríamos de esperar mais quatro anos para essa mudança.



Em 2013 com a Internet e o fenómeno das redes sociais como o Facebook já ninguém se perde e agora até podemos caminhar pelas grandes cidades polacas graças ao serviço prestado pelo Google Street Views e Google Earth. Milhares de páginas no Google respondem a tudo e as saudades matam-se pelo Skype ao contrário do telefone, telemóvel (nada de smartphones), e karta telefoniczna que se usava em 2001. Os "orelhões" e cabines praticamente desapareceram tal como as dezenas de cyber-cafés (a 2 złoty à hora) e, espantem-se, as inúmeras sex shops que proliferavam no centro da cidade. As ruas estavam pejadas de minúsculos Fiat 126P ou Maluch e Fiat Cinquecento fabricados em Tychy a par com o Fiat 125P e o horrendo FSO Polonez. Certo que ainda se vêm muitos carros velhos e com dez anos ou mais mas hoje em dia proliferam os SUV japoneses e os topos de gama alemães e japoneses. O empresário e o empreendedor bem sucedido não pode ficar atrás da concorrência e o automóvel é o espelho do seu sucesso nem que seja para manter fachada.
Os apartamentos eram mais cinzentos e ainda iguais aquilo que eram durante o comunismo. Ao longo destes anos que passaram muitos foram pintados, renovados, isolados com tela de asfalto e esferovite (Isopor em português BR) e muitos outros construídos de raiz em condomínio privado, isolados do exterior com direito a rede a toda a volta, câmaras de vigilância, segurança privada e medidas de segurança a roçarem a paranóia.
A rede rodoviária e ferroviária renova-se ainda que lentamente tendo que se ter em consideração o tamanho do país com os seus 312.600 Km2 contra os 92.000 km2 de Portugal. Alguns portugueses quando confrontados com esta realidade acabam por reflectir que o nosso país afinal não está tão atrasado como isso e os fundos da UE usados na construção e concessão de de autoestradas e via-rápidas afinal tiveram alguma utilidade ainda que as mesmas se paguem a peso de ouro e estejam vazias em muitos troços.
O que não mudou e nunca vai mudar foram as preocupações dos pais com os filhos. Recebo frequentemente no e-mail pessoal e também no blogue, página pessoal do Facebook e página da comunidade portuguesa na Polónia do Facebook mensagens de mães preocupadas com os filhos e filhas. Pedem ajuda e informações variadas. Haver um português ou portugueses na Polónia é um pouco como um xaile para colocar nos ombros. Acaba por dar algum conforto e nós os "tugas" residentes invariavelmente tentamos ajudar no que podemos seja pessoalmente ou nas redes sociais. Estudar na Polónia ainda causa apreensão e estou convencido que quem faz Erasmus em Espanha, França ou Itália não dará tantas ralações aos progenitores. Primeiro a distância de mais de 3000 Km, depois a pouca ligação que estes países tiveram entre si durante séculos, o frio que por aqui se sente e que por vezes se extrapola para temperaturas siberianas e a barreira linguística. Se entre as novas gerações se encontra com relativa facilidade quem fale inglês nas mais antigas e mesmo naquela dos que encontram agora entre os 30 e os 40 é bastante mais complicado. Ainda mais difícil em repartições públicas e do Estado.

Átrio do Politécnico de Varsóvia

Aprender polaco na universidade pode ser a solução mas não só é moroso como complexo aprender os sons e palavras de origem eslava no espaço de tempo que dura um intercâmbio.
Para a maioria é a primeira vez que vão estar longe dos pais e da família e junto com uma miscelânea de culturas e idiomas, de histórias de vida, festas de arromba e bebedeiras de caixão à cova (especialmente nas festas com polacos) rir com os estereótipos como o inglês falado por italianos e franceses ou como os finlandeses e suecos descongelam depois de uns meses na Polónia passando de sérios e contidos nórdicos para autênticos boémios. Depois vem o amor e o sexo, paixões que ficam e duram, outras fugazes que podem acabar como aquela de um português que amnésico da Vodka deu por si a acordar de manhã, num apartamento qualquer, na periferia da cidade com uma simpática polaca a oferecer-lhe chá ou cenas surreais como a do francês que ao sentir frio no velho apartamento que tinha alugado decidiu trazer um bidão para a sala e nele queimar lenha acabando interrogado pela polícia entre as luzes da sirene do auto-tanque dos bombeiros e os protestos dos vizinhos polacos, o barulho de uma árvore de Natal ressequida e respectivo vaso atirada de um terceiro andar à uma da manhã, uma colecção de garrafas de álcool vazias que dava para encher um vidrão de reciclagem ou os destemidos que se fizeram à estrada ao volante de um corroído Fiat 126P depois de acabaram o intercâmbio.

Fiat 126P no Mónaco depois do Erasmus na Polónia. In: http://www.3maluchtrip.blogspot.com/


A par com o objectivo primordial - estudar - o Erasmus é uma experiência única, só se repete uma vez, quase como o primeiro beijo e é também uma experiência de vida daquelas em que passa a haver um antes e um depois, nunca mais somos os mesmos depois de um Eramus.

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