terça-feira, 8 de outubro de 2013

Polónia avulso parte XI

Off Piotrkowska

O que fazer para dar vida a uma cidade com um centro urbano em visível declínio? Ter um boa ideia. Foi isso que tiveram em mente os criadores deste espaço que, tal como diz o nome, é off-Piotrkowska (fora da Piotrkowska) e estava em quase total abandono desde o fim da I Grande Guerra e os anos entre-guerras quando a industrial têxtil entrou em decadência. Ali, no centro da cidade, mesmo ao lado da mais movimentada rua da cidade de Łódź um imenso espaço esperava melhores dias. 

O consórcio OPG (Orange Property Group) tornou-se proprietário daquilo que em tempos foi a fabrica Francis Ramisch revitalizando o espaço e aproveitando a vasta área de fabrica e armazém deixando que o próprio estilo decadente e tão típico de Łódż com os seus prédios e fabricas em tijolo-burro construídas durante a revolução industrial no século XIX servissem como atracção. Isto aliado a uma ocupação do espaço por artistas, artesãos, activistas e gente criativa gerou um ambiente especial que inevitavelmente nos faz activar a câmara do telemóvel ou mesmo fazer uma sessão de fotos com a câmara digital se a tivermos à mão. Os detalhes dos velhos e escurecidos tijolos encarnados, recantos sombrios, ventiladores, chaminés, pesadas portas em metal com rebites, escadas em metal oxidadas por décadas de intempérie, os candeeiros e as amplas janelas com vidraças proporcionam imagens únicas que se associam na perfeição com Łódź e contam histórias a quem por isso se interessar.
Lojas como a Pan Tu nie Stał (expressão que significa "o senhor não estava aqui" e usada amiúde durante as longas filas de espera no comunismo), o Tari Bari Bistro, Mebloteka YELLOW e diversos cafés, estúdios e pequenos negócios atraem uma clientela que procura uma alternativa ao comum centro comercial que pouco se distingue de um outro similar em Lisboa, Berlim, Bordéus, Madrid ou Rio de Janeiro.

Algumas das atracções na off-Piotrkowska
Feiras, exibições, exposições, um halfpipe em betão para skate, actividades culturais diversas, pintura de murais, grafitti e concertos têm lugar neste espaço onde outrora se encontrava a "China Town" de Łódź; uma concentração de barracas onde proliferavam os vietnamitas e o odor a óleo de fritar queimado que se impregnava nas narinas sentido-se particularmente nas noites frias de Inverno.  Nos tempos em que fiz Erasmus era um local conhecido e frequentado por os estudantes por se comer barato e onde havia uma tasca de um polaco ex-emigrante na Finlândia que tinha as paredes forradas a cachecóis e galhardetes de clubes de futebol. Como seria de esperar ou não fossemos uma nação de fanáticos de futebol - com algumas excepções como o vosso escriba - não faltavam os cachecóis do Benfica, Sporting, Futebol Clube do Porto e Selecção Nacional a par com os do Real Madrid, Barcelona dados por os portugueses e espanhóis que por ali passaram. Essa pseudo-atracão da cidade já não existe e diga-se em abono da verdade que não faz realmente falta.
A existência do off-Piotrkowska prova que a cidade de Łódź e os inúmeros espaços urbanos decadentes e abandonados podem ser reaproveitados de modo inteligente haja capital e sobretudo boas ideias.
As promessas de 6000 postos de trabalho na Polónia na Amazon.com
Quando vivia em Portugal e sobretudo durante a infância e adolescência devo confessar que a minha ideia de Europa acabava ali na Alemanha numa fronteira sombria e hostil com os países-satélite da URSS. A França era um pouco como a Europa Central e o centro do continente, uma visão redutora fruto das décadas de guerra-fria e medos causados pela bipolaridade EUA-URSS. A Polónia era o país do Solidariedade, do Lech Wałęsa, do Papa João Paulo II, dos desenhos animados apresentados por Vasco Granja e pouco mais. 
Na realidade a Polónia junto com a Áustria, a República Checa e a Eslováquia constituem a Europa Central havendo para lá das suas fronteiras uma vastidão de território europeu, ignorado pela maioria, e que termina nos Urais na Federação Russa. A localização geográfica da Polónia e os seus portos no Mar Báltico conferem-lhe uma vantagem importante face aos outros países da Europa Central. Aqui estamos perto de quase todas as capitais europeias o que se torna uma vantagem - com excepção para a distância a que estamos de Portugal e de Lisboa!
A empresa norte-americana Amazon teve em consideração esse facto anunciando a criação de 6000 postos de trabalho a curto-prazo na Polónia nas cidades quasi-fronteiriças de Poznań e Wrocław. Do mesmo modo foi anunciado que a mão-de-obra especializada foram também factores cruciais nesta decisão contudo o valor do investimento não foi revelado sendo anunciado que são "centenas de milhões de euros".
As Bolachas Maria do Vieira
Sempre fui um bolacheiro especialmente ao pequeno-almoço. Adoro molhar meia-dúzia de bolachas na chávena do café. Quando sai de Portugal deixei para trás também as minhas adoradas bolachas Maria. Aquela nossa típica bolacha circular, com furinhos, o padrão típico nas bordas e a o MARIA ao centro.  

Na Polónia a alternativa são umas bolachas que eles chamam de Holanderskie ou Herbatniki (para o chá) e nos últimos anos umas semelhantes que se chamam de Petit Beurre junto com outras de fabrico turco... Graças ao Facebook e às saudades dos compatriotas fui notificado das Maria no Biedronka (também conhecido por os nacionais como Joaninha). Encontradas as Maria reparo que são daquelas feitas na fabrica Vieira de Castro de Vila Nova de Famalicão, que conheço tal como os filhos do dono, e onde havia há muitos anos um cruzamento pouco frequentado onde a areia junto com o asfalto era o local ideal para fazer piões e arranques a sacudir o eixo traseiro de um velho Toyota Corolla 1200...

Reviver o passado em Google Street Views. A fabrica da Vieira de Castro em Famalicão e o cruzamento onde outrora fazíamos rally-pirata com um Toyota Corolla 1200. Hoje em dia uma mini-rotunda e estrada bem asfaltada onde se vê à esquerda a fabrica e em primeiro plano um campo de cultivo. Uma típica imagem do Minho e de Famalicão onde o progresso está mesmo ao lado da tradição.

O Grupo Jerónimo Martins importa, ainda que em pouca quantidade, produtos portugueses. Os supermercados Biedronka estão claramente virados para o consumidor polaco e a própria publicidade faz questão de sublinhar essa intenção, Uma loja polaca para polacos ainda que os proprietários sejam portugueses. Este mês temos bolachas Maria, sardinhas em conserva e a feira dos vinhos onde encontramos a preço razoável bom vinho nacional. Por vezes aparecem sobremesas do Pingo Doce, bacalhau, pescada, queijo da ilha, vestuário e calçado Made in Portugal e devo sublinhar que as botas que comprei no Biedronka por 20€ estão para as curvas depois de 2 anos de neve, gelo e sal nos passeios.

O que é nacional é bom!

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