domingo, 20 de outubro de 2013

Os heróis polacos da RAF (Polskie Siły Powietrzne)


A História ensinada nas escolas portuguesas e no Ocidente em geral é aquela dos vencedores. Como se de um almanaque se tratasse a nossa juventude fica a conhecer a História da fundação do Reino de Portugal, a glória dos descobrimentos portugueses e do Império Colonial - com pouca ou quase nenhuma menção ao lado obscuro do mesmo - e dão-se noções dos conflitos de 1914-1918 e 1939-1945 com passagem pela Ditadura Salazarista, a Revolução dos Cravos em 1974 e a adesão à C.E.E. em 1986. Quem se interessa e quer saber mais tem de ler, pesquisar e estudar História mesmo que não seja garante de emprego nos dias que correm. Como tal a ideia que fica da Polónia é a de um país longínquo e frio que preferiu unir-se à URSS preterindo o dito "Mundo Livre" o que na realidade não foi bem assim.

O Spitfire do Esquadrão polaco 330 liderado por o Comandante Jan Zumbach (à direita). Por baixo da carlinga encontra-se pintado o "countdown" dos inimigos abatidos em batalha.

A invasão da Polónia em 1939 foi o primeiro sinal do distanciamento e abandono dos aliados ocidentais nomeadamente a Inglaterra. Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e Joseph Stalin dividiram entre si o bolo que a Alemanha Nazi levedava mesmo antes do possível fim de uma guerra que todos sabiam ser inevitável e de consequências dramáticas.



Mas para se compreender o sucedido há que recuar um pouco no tempo para o período áureo entre guerras. Depois da derrota da Alemanha em 1918 as nações afectadas pela guerra e a Europa tinham de se precaver contra o ressurgimento de novos conflitos que desestabilizassem o velho continente. A Polónia que nesse período era uma Democracia Parlamentar (a sua Segunda República durou de 1918 a 1939) assinou alianças com a Inglaterra e a França conhecidas como Aliança Franco-Polaca e Aliança Anglo-Polaca. O prometido era o apoio militar francês e inglês em caso de ataque. Em 1939 a Polónia contava com esses aliados para debelar o invasor alemão contudo, apesar da declaração de guerra ao III Reich, a ajuda não se efectivou nem com a invasão a Oeste nem com a posterior invasão a Leste, pela URSS, no mesmo mês, no dia 17 de Setembro. Era evidente que a Polónia estava entregue a si própria e a um exército que não tinha  nem de perto nem de longe a capacidade do inimigo.
O Governo Polaco no Exílio

O General Sikorski liderou o governo polaco no exílio até à sua morte em 1943. Tal como Kaczyński e a sua comitiva o líder polaco faleceu num desastre de aviação. Na altura a morte do General foi recebida com grande apreensão e desanimo numa Polónia anexada.

O Governo Polaco no Exílio (ząd Rzeczypospolitej Polskiej na uchodźstwie) teve papel determinante na imagem da Polónia no exterior quer durante a II Grande Guerra quer posteriormente durante o regime totalitário que converteu o país em mais um dos satélites da URSS. Incrivelmente este governo exilado esteve sediado em Londres durante 50 anos apenas cessando funções em 1990 quando o regime comunista foi finalmente desmantelado.
É neste contexto que surgem os heróis polacos da RAF ou Royal Air Force, a Força Aérea Britânica. Junto com o novo governo polaco no exílio vieram também parte das forças armadas polacas. Os pilotos de aviação estabeleceram-se em França até à invasão Nazi em 1940 combatendo ferozmente e com sucesso, na Batalha de França, a agressão dos esquadrões da Luftwaffe; facto assinalável tendo em consideração a utilização de aviões obsoletos face à tecnologia da aviação alemã com os seus eficazes e rápidos Messerschmitt.
Em Inglaterra uma recepção algo fria e desconfiada por parte dos militares e oficiais ingleses viria posteriormente a tornar-se numa cause célèbre quando os esquadrões polacos e os seus 8400 destemidos pilotos somavam vitorias em batalhas aéreas memoráveis e de grande importância para a derrota da Wehrmacht no teatro de guerra europeu. A Inglaterra passou a ser chamada de Ilha da Ultima Esperança (Wyspa Ostatniej Nadziei) perante a desolação de uma Polónia anexada e destruída.
Com o brutal esforço de guerra inglês perante uma Alemanha preparada para a guerra em varias frentes os pilotos ingleses não eram suficientes e em muitos casos faltava-lhes a experiência necessária. Os polacos bem preparados, com experiência em batalha e com a motivação de destruírem o inimigo da sua pátria tomavam os comandos dos caças Spitfire da RAF enquanto aprendiam língua inglesa adoptando nomes "inglesados" perante a impossibilidade dos ingleses pronunciarem os seus complicados nomes e apelidos polacos...
A sua fama passou fronteiras e chegou a ser descrita pelo escritor e editor americano Ralph Ingersoll.
Nos finais de 1940 o visitante americano Ralph Ingersoll reportava que os polacos "faziam as conversas de Londres" pelas suas vitorias. Apesar de numa primeira instância os polacos memorizarem frases simples em inglês para se identificarem, caso fossem abatidos em território britânico e para não serem confundidos com alemães, o visitante escrevia que agora "andam sempre com uma moça em cada braço. Dizem eles que as moças não resistem aos polacos e os polacos às moças".
Com o final da guerra em 1945 e o armistício os esquadrões polacos da RAF seriam descontinuados apesar de muitos dos seus heróis terem continuado no exílio em Inglaterra. Depois de combaterem pela liberdade, os que sobreviveram, teriam de ver o seu próprio país com os grilhões da URSS até 1989.

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