Em Junho
do corrente ano o parlamento polaco aprovou um decreto-lei que proíbe em
território da República da Polónia o abate de animais em forma de ritual. Foram
222 votos a favor e 178 contra. A decisão provocou reacções de regozijo nas
sociedades protectoras de animais, activistas e em todos aqueles que têm
empatia com a causa animal mas como não se pode agradar a gregos e a troianos a
comunidade judaica e a muçulmana viram nessa decisão um atentado aos seus
direitos enquanto minoria. Os protestos fizeram-se notar globalmente e
até o Papa Francisco teve de analisar o assunto.
Jovens israelitas visitam o
campo de concentração de Auschwitz em Oświęcim na Polónia. As medidas de
segurança apertadas têm causado polémica mas os pais assim o exigem com receio
de que os seus filhos sejam atacados. Foto picada de: http://www.vosizneias.com
Antes de 1939 cerca de 10% da população
da Polónia era judaica e neste país desenvolveram a indústria e a banca a par
com outras tantas actividades comerciais. Não se pode narrar a história da
Polónia no período anterior à II Grande Guerra sem mencionar a comunidade
judaica - isso é um facto incontornável quer para os polacos quer para os
próprios judeus. O que se passou no pós-guerra foi uma história de
desmantelamento dos resquícios que ficaram. Os sobreviventes ou passaram a ter
de viver ocultando a sua descendência ou foram deportados nas
"purgas" ditadas pelos comunistas. Uns foram para Israel, outros para
os EUA e poucos ficaram na Europa havendo ainda hoje uma comunidade visível nos
países-baixos.
Ao "Googlar" na Internet
facilmente se constata o enorme ressentimento dos judeus para com os polacos,
sobretudo os Israelitas e do mesmo modo se encontram artigos na imprensa polaca
sobre o comportamento inaceitável de jovens judeus durante as visitas aos campos
de concentração onde os seus
antepassados foram barbaramente assassinados. Hoteis vandalizados em Cracóvia,
cenas de pancadaria com os seguranças dos grupos visitantes e polacos (é comum
serem acompanhados por guardas - alegadamente da Mossad - nos voos e visitas) e sentimentos de
vingança pelas crueldades especialmente os progroms (execuções em massa de judeus) que
ocorreram em algumas aldeias polacas durante a ocupação Nazi. Os alemães
parecem ser menos mencionados e odiados que os polacos quando se fala do
Holocausto, essa palavra que significa também um sacrifício judaico no
qual a vitima era consumida pelo fogo.
O casal polaco-italiano, Robert
Lucchesini a sua esposa Anna e a sua filha de dois anos de idade não conseguem
entender a atitude do governo polaco. Contrariamente ao governo de Israel não é
capaz de garantir a segurança dos seus cidadãos. A segurança não é a única
coisa entre as prioridades do casal mas também paz e tranquilidade. No entanto
são acordados todas as manhãs pelos barulhos de motores, dos autocarros polacos
com grupos de jovens israelitas. Os motoristas polacos infringem constantemente
o código da estrada. Estão autorizados a estacionar na praça perto da sinagoga
(em frente da casa de Robert) apenas um máximo de 10 minutos. Eles ficam lá por
muito mais tempo, mesmo horas. Com os motores ligados. Razão? Segurança dos
jovens - serem capazes de evacuar rapidamente em caso de ameaça. E também
porque as crianças israelitas precisam de ser servidas com café. Porque apesar
de Kazimierz estar cheia de cafés, os adolescentes israelitas não os
frequentam. É-lhes dito: nenhum contacto com o meio ambiente, não falar com
transeuntes, nada de sorrisos nem de gestos. In: http://polishpress.wordpress.com/2007/05/11/israeli-teenagers-are-a-nuisance-in-poland/
O decreto-lei estabelece que os animais
devem ser atordoados antes do abate e é uma pratica aceite pela União Europeia
cujo objectivo, em teoria, será o de minimizar o sofrimento do animal. Acontece
que isto colide com a religião judaica e muçulmana, especialmente os rituais
de abate “Kosher” (judaico) e “Halal” (muçulmano). Foi aqui que a história
dos judeus na Polónia reapareceu, no momento em que o Ministério dos Negócios
Estrangeiros de Israel protestou:
“A
história da Polónia está intimamente ligada à história do povo judeu. Esta
decisão prejudica seriamente o processo de restauração da vida judaica na
Polónia”.
De acordo com os judeus o ritual é praticado tendo em conta as leis do
Talmude que dita um abate limpo, com faca afiada e sem sofrimento para o
animal. Carne não-Kosher é portanto
impura para consumo.
Com esta decisão a Polónia junta-se à Suécia, Noruega, Suiça e
Islândia na proibição forçando os judeus e muçulmanos ortodoxos a terem de
importar carne proveniente de abates feitos tendo em conta as suas convicções
religiosas ou em última instância a terem de o fazer ilegalmente. O Papa Francisco, depois de ouvir Ronald Lauder,
presidente do World Jewish
Congress, pediu uma investigação ao motivo pelo qual foi aprovada esta lei. Posto isto resta saber se a Polónia terá de se
vergar ao Vaticano ou se permanecerá incólume na sua soberania e nas suas
decisões evidentemente tomadas em democracia.
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