domingo, 15 de setembro de 2013

Polónia proíbe abate ritual de animais – judeus protestam veementemente


Em Junho do corrente ano o parlamento polaco aprovou um decreto-lei que proíbe em território da República da Polónia o abate de animais em forma de ritual. Foram 222 votos a favor e 178 contra. A decisão provocou reacções de regozijo nas sociedades protectoras de animais, activistas e em todos aqueles que têm empatia com a causa animal mas como não se pode agradar a gregos e a troianos a comunidade judaica e a muçulmana viram nessa decisão um atentado aos seus direitos enquanto minoria.  Os protestos fizeram-se notar globalmente e até o Papa Francisco teve de analisar o assunto. 

Jovens israelitas visitam o campo de concentração de Auschwitz em Oświęcim na Polónia.  As medidas de segurança apertadas têm causado polémica mas os pais assim o exigem com receio de que os seus filhos sejam atacados. Foto picada de: http://www.vosizneias.com
Antes de 1939 cerca de 10% da população da Polónia era judaica e neste país desenvolveram a indústria e a banca a par com outras tantas actividades comerciais. Não se pode narrar a história da Polónia no período anterior à II Grande Guerra sem mencionar a comunidade judaica - isso é um facto incontornável quer para os polacos quer para os próprios judeus. O que se passou no pós-guerra foi uma história de desmantelamento dos resquícios que ficaram. Os sobreviventes ou passaram a ter de viver ocultando a sua descendência ou foram deportados nas "purgas" ditadas pelos comunistas. Uns foram para Israel, outros para os EUA e poucos ficaram na Europa havendo ainda hoje uma comunidade visível nos países-baixos.


Ao "Googlar" na Internet facilmente se constata o enorme ressentimento dos judeus para com os polacos, sobretudo os Israelitas e do mesmo modo se encontram artigos na imprensa polaca sobre o comportamento inaceitável de jovens judeus durante as visitas aos campos de concentração onde os seus antepassados foram barbaramente assassinados. Hoteis vandalizados em Cracóvia, cenas de pancadaria com os seguranças dos grupos visitantes e polacos (é comum serem acompanhados por guardas - alegadamente da Mossad - nos voos e visitas) e sentimentos de vingança pelas crueldades especialmente os progroms (execuções em massa de judeus) que ocorreram em algumas aldeias polacas durante a ocupação Nazi. Os alemães parecem ser menos mencionados e odiados que os polacos quando se fala do Holocausto, essa palavra que significa também um sacrifício judaico no qual a vitima era consumida pelo fogo.

O casal polaco-italiano, Robert Lucchesini a sua esposa Anna e a sua filha de dois anos de idade não conseguem entender a atitude do governo polaco. Contrariamente ao governo de Israel não é capaz de garantir a segurança dos seus cidadãos. A segurança não é a única coisa entre as prioridades do casal mas também paz e tranquilidade. No entanto são acordados todas as manhãs pelos barulhos de motores, dos autocarros polacos com grupos de jovens israelitas. Os motoristas polacos infringem constantemente o código da estrada. Estão autorizados a estacionar na praça perto da sinagoga (em frente da casa de Robert) apenas um máximo de 10 minutos. Eles ficam lá por muito mais tempo, mesmo horas. Com os motores ligados. Razão? Segurança dos jovens - serem capazes de evacuar rapidamente em caso de ameaça. E também porque as crianças israelitas precisam de ser servidas com café. Porque apesar de Kazimierz estar cheia de cafés, os adolescentes israelitas não os frequentam. É-lhes dito: nenhum contacto com o meio ambiente, não falar com transeuntes, nada de sorrisos nem de gestos. In: http://polishpress.wordpress.com/2007/05/11/israeli-teenagers-are-a-nuisance-in-poland/
O decreto-lei estabelece que os animais devem ser atordoados antes do abate e é uma pratica aceite pela União Europeia cujo objectivo, em teoria, será o de minimizar o sofrimento do animal. Acontece que isto colide com a religião judaica e muçulmana, especialmente os rituais de abate “Kosher” (judaico) e “Halal” (muçulmano). Foi aqui que a história dos judeus na Polónia reapareceu, no momento em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel protestou:
“A história da Polónia está intimamente ligada à história do povo judeu. Esta decisão prejudica seriamente o processo de restauração da vida judaica na Polónia”. 
De acordo com os judeus o ritual é praticado tendo em conta as leis do Talmude que dita um abate limpo, com faca afiada e sem sofrimento para o animal. Carne não-Kosher é portanto impura para consumo.

Com esta decisão a Polónia junta-se à Suécia, Noruega, Suiça e Islândia na proibição forçando os judeus e muçulmanos ortodoxos a terem de importar carne proveniente de abates feitos tendo em conta as suas convicções religiosas ou em última instância a terem de o fazer ilegalmente. O Papa Francisco, depois de ouvir Ronald Lauder, presidente do World Jewish Congress, pediu uma investigação ao motivo pelo qual foi aprovada esta lei. Posto isto resta saber se a Polónia terá de se vergar ao Vaticano ou se permanecerá incólume na sua soberania e nas suas decisões evidentemente tomadas em democracia.

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