sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Job-poland.com ou como encontrar emprego na Polónia


A nossa relação (dos portugueses) com os franceses e com a França é inevitavelmente do tipo amor-ódio. Por um lado temos imensas palavras de origem francesa no nosso idioma - os galicismos ou francesismos - e por outro um certo rancor dos nossos emigrantes (conhecidos como os avec) não esquecendo as invasões francesas a Portugal no século XVIII. Mas isto é uma outra estória a abordar noutro fórum que não este e desenquadradas do mundo contemporâneo. 

Também há emigrantes franceses. Não só na Suiça, Bélgica, Luxemburgo e Inglaterra  (e na Rússia como Depardieu) mas também na Polónia ou en Pologne. São poucos e não formam uma comunidade mas alguns são celebridades como o cozinheiro Pascal Brodnicki e o seu programa televisivo na TVN Pascal: Po prostu gotuj! Outros vão-se fazendo ver na dita realidade virtual, como Nicolas Jerzyk e aparecem também nos media internacionais incluindo Portugal.
Nicolas Jerzyk tem origem polaca mas é um cidadão francês. É o autor do site Job-poland.com que podemos encontrar na Internet sempre que "googlamos" por job in Poland ou work in Poland. Melhor do que escrever um artigo sobre Nicolas e o seu site é entrevista-lo. Foi o que fiz há uns dias atrás no restaurante W te Pędy na rua Traugutta em Łódź, entre um café feito à portuguesa e dois portáteis a configurarem páginas de Internet e blogues.


Nicolas Jerzyk e o seu site foram notícia em Portugal no Jornal Público
Entrevista com Nicolas Jerzyk
Ricardo Taipa - Nicolas, Uma apresentação em poucas palavras. 
Nicolas Jerzyk - Sou o Nicolas Jerzyk e nasci em Metz, França. De momento vivo em Łódź tal como tu Ricardo. Estou na recta final para concluir o meu BA (Bachelor of Arts), felizmente, e desde Fevereiro de 2013 tenho o site job-poland.com com um sócio.
 RT - Frequentemente ouvimos falar de italianos, espanhóis e portugueses na Polónia mas não muito de franceses. Como é que vieste para a Polónia e desde quando?
NJ - Bem, na verdade é uma longa história. A primeira vez que estive na Polónia foi em 2007 quando tinha 19 anos. Nessa altura o meu objectivo era o de descobrir as minhas raízes pois os meus avós haviam nascido na Polónia. Infelizmente quando nasci já eles haviam falecido portanto não tive a oportunidade de conhecer a Polónia através deles. Tive de o fazer por mim próprio. Sendo assim tive a oportunidade de ir para Wrocław durante três meses, em regime de voluntariado, graças ao European Voluntary Service. O EVS é óptimo pois permite a todos os jovens entre os 18 e os 30 anos de obterem experiência no estrangeiro, nomeadamente na Europa e desde há alguns anos a esta parte também na América do Sul e Ásia. O melhor é deixar alguns detalhes acerca dos benefícios do EVS: É gratuito. Viagens, estadia, comida, seguros, cursos de idiomas e transportes públicos são financiados pela Comissão Europeia. O voluntário recebe dinheiro de bolso em função do país da missão. O voluntário pode escolher o país, a cidade e a duração do EVS.
Durante o meu EVS fiquei surpreendido com a Polónia e desde então aprendi imenso. O meu inglês era por assim dizer fraco e foi interessante receber lições de polaco de inglês para polaco.
Graças ao meu professor de polaco o meu inglês melhorou e mais tarde já era capaz de falar em polaco. Quando regressei a França decidi continuar os meu estudos por mais dois anos e entretanto queria regressar à Polónia.
Quando o diploma estava nas minhas mãos o meu objectivo era o de encontrar um novo EVS mas a longo-termo, Uma ONG baseada em Łódź deu-me a oportunidade de ser voluntário durante oito meses e, claro, aceitei-o. Estávamos em 2009. Durante o meu voluntariado fui surpreendido com a possibilidade de ser estudante universitário seguindo cursos em língua inglesa. A aplicação foi enviada mais tarde e comecei um bacharelato em Business Management (Gestão de Negócios) na faculdade de Łódź.
No que diz respeito aos franceses na Polónia existe provavelmente uma pequena comunidade em Varsóvia. No entanto concordo contigo que não há muitos franceses por aqui. Recordo-me que quando fui para Wrocław só conheci um francês seis semanas depois. Mas desde 2007 a Polónia mudou muito.
RT – Em resumo, o que gostas e desgostas na Polónia? 
NJ - Gosto da atmosfera, o dinamismo do país, a facilidade em se encontrar trabalho quando se é capaz de falar vários idiomas e ser um pouco tenaz. O facto das empresas darem oportunidade aos jovens de começarem uma carreira e se desenvolverem. As festas, a facilidade em se alugar um apartamento; em França é um verdadeiro pesadelo. Os senhorios pedem inúmeras provas como por exemplo o valor do salário, que tipo de contrato de trabalho e pedem também um fiador em caso de não se poder pagar a renda. A comunidade internacional, as pessoas e a possibilidade de se poder comprar algo sempre que queremos. Não aprecio os condutores polacos, odeio o modo como conduzem, a agressividade e como não querem saber dos pedestres. O serviço ao consumidor: na maior parte dos negócios (restaurantes, lojas, fábricas e outros). Na Polónia o serviço ao consumidor é pobre, são frios e actuam de forma inumana. Penso que não sabem o significado da palavra empatia. A maior parte das pessoas dão a desculpa dos salários serem baixos vai dai os clientes receberem tal tratamento. Parcialmente concordo mas mesmo os donos dos negócios tratam mal os clientes e no fim queixam-se que o negócio vai mal ou não está a gerar lucro suficiente. Bem, isto é pura e simplesmente ilógico. Felizmente alguns negócios tem uma relação com os clientes positiva e os clientes voltam. O comportamento de alguns polacos que justificam as suas atitudes pelo facto de não terem dinheiro, trabalho etc. A burocracia nas universidades: De modo algum são flexíveis e focam-se sobretudo na teoria estando fechados ao mundo real. O inverno quando as temperaturas vão abaixo de 0 a -25°. As tempestades na Polónia; por vezes parece que estamos algures na Amazónia.

RT - Recentemente estiveste nas noticias com o site Job-poland.com. Como é que esta plataforma pode ajudar aqueles que procuram oportunidades e empregos aqui?
NJ - O conceito é bastante simples. O objectivo desta plataforma é o de facilitar a conexão entre as empresas e os que procuram trabalho. Quando alguém no estrangeiro procura trabalho na Polónia não vai escrever em polaco "oferta pracy" mas sim "job offer in Poland". A maioria das plataformas de emprego na Polónia estão maioritariamente em idioma polaco e torna-se complicada a sua utilização. Queremos permanecer simples e evitar que as pessoas pensem demasiado quando usam o site. Simplicidade é o mote. Os que procuram trabalho podem criar um CV online onde as empresas podem verificar directamente. Se quem procura trabalho tiver conta no Linkedin pode importar os seus dados com alguns clicks. Também respondemos a cada e-mail que recebemos ou pedido especifico no prazo de um dia-útil. Temos grande consideração por quem procura trabalho pois com a crise actual nem sempre é fácil conseguir colocação, por isso acreditamos que é sempre bom providenciar um serviço acolhedor e não apenas um para empresas .
RT - Disseste-me que tens bastante tráfego no teu site. Quais os países com mais visitantes? 
NJ - Bem, o Top Ten é: Portugal, Polónia, EUA, França, Índia, Reino Unido, Espanha, Ucrânia, Alemanha e Itália.
 RT – Existe um perfil especifico daqueles que procuram trabalho no job-poland.com?
NJ - Ao principio pensamos que a plataforma iria  atrair maioritariamente homens mas na realidade temos 50% de homens e 50% de mulheres. Em termos de idade entre dos 20 aos 55. Em qualificações a maioria tem bacharelato ou licenciatura e poucos com PHD ou MBA.
 RT – Algum conselho para aqueles que procuram trabalho na Polónia?

NJ - Tenho algumas recomendações que podem seguir ou não; Escolher correctamente a cidade onde querem viver, não terem receio de vir sozinhos, não pensarem que o diploma é suficiente para arranjar trabalho. Na realidade eles vão verificar o que fez durante o seu tempo-livre como por exemplo trabalhos de caridade, voluntariado, negócios, projectos etc. Escolher uma boa empresa para começar a carreira (obviamente). Quando chegarem aqui procurar outras oportunidades (criação de negócios por exemplo). Aprender polaco, pelo menos básico, não se vão arrepender de viver na Polónia.

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