sábado, 16 de fevereiro de 2013

Enquanto isso na Polónia


Nem dei conta que praticamente passou um mês desde o meu último "post" neste blogue! As minhas desculpas. Apercebi-me do meu faux pas - esse galicismo tão querido aos polacos - com os meus leitores ao ler as últimas do blogue do meu conterrâneo em Varsóvia, o Nuno Bernardes. Vale a pena ler o artigo dele, intitulado Hiato que, com as devidas nuances, justifica a minha serôdia prosa poupando-me em parte o trabalho de explicar os meus motivos... 

Janeiro e Fevereiro na Polónia custam a passar... A Primavera ainda está longe e a já gasta estória da neve, gelo, frio, estalactites, sal nas estradas e calçadas mais os inevitáveis "bate-cus" não inspiram a nada exceto ver passar os dias no calendário. O primeiro sinal da mudança são os dias mais longos e as manhãs com o sol a raiar (quando não está nublado) a horas indecorosas para os nossos padrões de europeus do Sul. Isto ainda se agrava mais pelo facto de os polacos não nutrirem simpatia pelos estores o que, de certo modo, permite que o nosso corpo siga um ritmo natural despertando com a alvorada mas indo deitar-se muito depois do crepúsculo. Assim é o Inverno polaco onde outro galicismo serve como uma luva c'est la vie!

Habemus Papa



Conhecido como o país mais católico da Europa Central e de Leste a Polónia religiosa reagiu com espanto à decisão do Papa Bento XVI. Depois do longo pontificado de João Paulo II que resistiu até ao fim das suas forças o Sumo Pontífice alemão retira-se alegando não ter condições físicas para exercer a sua função na ICAR. A piada do momento é a de que os polacos trabalham até morrer enquanto os alemães gozam a reforma. Por outro lado, sobretudo na Internet e redes sociais o espanto dá lugar à zombaria com a figura papal e com a Igreja enquanto instituição. Velhos fantasmas da pedofilia e de abusos sexuais pairam sobre o clero católico e também sobre os Papas pela falta de reação contra essa chaga.

As Profecias Papais de São Malaquias dizem que depois de Ratzinger virá um Paulo; o último Papa antes da destruição de Roma em tempos de grande tribulação. Os profetas da desgraça e os fanáticos da escatologia não poderiam estar mais satisfeitos. Depois do anúncio do Papa dois relâmpagos caem em cheio nas cúpulas da Catedral de São Pedro, um meteoro cai na Rússia ferindo centenas de pessoas e outro passa a rasar - em termos astronómicos - a nossa delicada atmosfera. 


Emigração portuguesa. Diáspora o caneco, é debandada!



De acordo com o Jornal de Negócios em 2012 100.000 portugueses emigraram. A faixa etária compreende-se entre os 25 e 35 anos. José Cesário, o Secretário de Estado para as Comunidades, ao típico estilo dos políticos dos últimos 20 anos minimiza o efeito da debandada coletiva ao afirmar que não houve aumento em 2012, ou seja, 100.000 portugueses (uma grande parte licenciados ou recém-licenciados) partem à procuram de uma nova vida no estrangeiro mas o que interessa é que não houve aumento, portanto está tudo estabilizado.

O último paragrafo é para reter: "Os números indicam que a emigração esteja a ocorrer, maioritariamente, em faixas etárias até aos “30 e poucos anos”, segundo o mesmo especialista. Pode observar-se também que o fenómeno atinge muitos jovens licenciados que “nem tentam cá”, ao concluir o ensino superior, abandonam logo o país."

Confirmo isto pelo que tenho visto desde 2010. Mesmo na Polónia, um país pouco procurado pelos emigrantes, os portugueses que aqui chegam são licenciados ou recém-licenciados e de facto não tentaram sequer empregar-se em Portugal. Mais grave ainda é a pouca ou nenhuma vontade, em muitos casos, de regressarem ao seu país a não ser para passarem as férias e matar saudades. Ao contrário do típico emigrante da mala de cartão dos anos 60 e 70, que ia para o estrangeiro com mulher portuguesa e em muitos casos com filhos menores, o novo emigrante está a fazer o que os portugueses fizeram nas colónias durante o Império Português; estamos a contribuir para a miscigenação. O mundo no futuro vai ter mais luso-brasileiros, luso-angolanos e moçambicanos, luso-germânicos, luso-ingleses, luso-franceses, luxemburgueses e suíços e também luso-polacos, luso-americanos, luso-... 

Atendo ao facto, conhecido mas convenientemente pouco divulgado, que a taxa de natalidade em Portugal diminuiu 40% em 40 anos, a terceira mais baixa da UE, que solução pode restar, para aqueles que querem formar familia, senão procurar melhores de condições de vida noutro lugar? Com estes números dramáticos deveria haver logicamente mais apoios para as famílias mas talvez só daqui por 40 ou 50 anos quando o país for um país de anciãos e não hajam jovens para pagarem as reformas alguém ponha finalmente as mãos na cabeça! 

Por outro lado, com tantos medos, receios e reticências em formar família os emigrantes árabes, asiáticos e africanos ganham terreno. Não é uma questão de racismo ou de segregação, não me interpretem mal! Eles fazem aquilo que é natural num casal, reproduzem-se. Com a diferença que enquanto uns vão dando "quecas contraceptivas" até à menopausa outros fazem filhos e formam família. Questão cultural? Sim certamente. Não querer ser pai ou mãe é também uma opção legitima, ter mais do que um filho com receio de não lhe poder pagar a universidade e sobretudo pelo receio de terem de se fazer sacrifícios (esse chavão!) é igualmente tão respeitável quando a primeira mas tudo tem um preço e o futuro da Europa não vai estar comprometido antes pelo contrário. Pura e simplesmente vamos ser um continente multicultural e uma sociedade radicalmente diferente daquela que temos hoje em dia.

A Diáspora a que os nossos políticos se referem - sobretudo o Presidente da República - é portanto um eufemismo como tantos outros, como aqueles de "injeção de capital" pago pelo Estado em bancos falidos para banqueiros mafiosos. A emigração portuguesa nos moldes actuais deixou de ser uma Diáspora ao modo bíblico, é mesmo uma debandada.

O último que apague a luz, até já.

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