O popular diário britânico The Sun conhecido também como um dos pasquins das terras de Sua Majestade está a dar que falar depois de um polémico artigo sobre Łódź da autoria do jornalista Graeme Culliford publicado no dia 6 do corrente. Łódź foi promovida a cidade-fantasma depois da debandada da maior parte dos seus habitantes para a Grã-Bretanha.
Será realmente assim? No artigo do The Sun o jornalista refere a ausência de transeuntes na principal rua da cidade, a Ulica (rua) Piotrkowska, tida como uma das mais longas da Europa. "Edifícios devolutos, empresas agora entaipadas, alvenaria a desmoronar - os pobres e idosos ficando na fila para comprar pão." Este é o cenário descrito. As fotografias, tiradas em Janeiro, não se sabe a que hora e dia da semana (supõe-se num Domingo de manhã) mostram a rua Piotrkowska deserta e dois sem-abrigo junto ao conhecido Irish Pub - na realidade é um local típico onde sempre se encontram indigentes pelo facto de ser uma saída de ventilação que emana constantemente ar quente mas isto não é explicado tal como as filas do pão que, desde 1989, praticamente deixaram de existir depois da eliminação do sistema de senhas de ração típico do sistema comunista.
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Captura de ecrã do The Sun mostrando dois indigentes junto ao ventilador do Irish Pub na Piotrkowska |
Łódź, a histórica cidade que sobreviveu inúmeras guerras, o holocausto e o comunismo está desprovida de vida: "Why is this historic city that survived numerous wars, the Holocaust and
Communism bereft of life?". Porquê? Pergunta o jornalista britânico com a resposta pronta. Porque a maioria da população foi encontrar trabalho noutras paragens, muitas delas na Inglaterra. Vários polacos dão o seu testemunho e confirmam a debandada dos seus concidadãos na procura de melhores condições de vida.
Monika Makowska também dá o seu testemunho ao afirmar que é difícil encontrar especialistas em IT nesta cidade e que os bares e clubes da cidade têm falta de jovens e as mulheres não encontram maridos. Tal como o vosso escriba muitos habitantes de Łódź não concordam com este quadro pintado em tons escuros.
Clubes como Lordis, Gossip, Pomarańcza, Bedroom, Brooklyn, Ambasada, Czekolada, Kokoo, Kalizka e todos aqueles junto à zona universitária em Lumumbi e Politechnika parecem revelar precisamente o contrário. Especialistas em IT também devem encontrar-se e o Global Delivery Center da Fujitsu (onde trabalho), o recém-inaugurado escritório da HP e da Infosys são também prova de que há especialistas mas não por qualquer salário. A Fujitsu Technological Solutions tem correntemente mais de seiscentos empregados e prepara-se para abrir um novo piso, a Infosys tem mais de mil e está em crescimento. Maridos talvez não se encontrem facilmente mas companheiros e parceiros sexuais sim, não é assim noutras cidades polacas e mesmo noutras cidades europeias?
No entanto, de acordo com o The Sun, a Polónia irá decrescer a sua população em 20% por voltas do ano de 2060 havendo um empregado por cada dois pensionistas e Łódź perderá perdido um quarto da sua população em 2035. Varsóvia apresenta-se como o exemplo oposto Łukasz diz que a capital da Polónia "é como se fosse outro país". A emigração não tem uma estatística oficial pelo que é subjectivo avançar com números. De acordo com o director do Gabinete de Estratégia de Łódź, Tomasz Jakubiec, os números oficiais apontam para 1% mas pode ser entre 5 a 10%. Por fim o testemunho de um padre polaco, da vila de Chodaków que "sublinha a tragédia humana" da emigração; "Pela minha experiência, se o marido vai embora por um curto espaço de tempo, o casamento fica OK. Se ele vai embora por um longo tempo, ele quase sempre termina mal."
Tal como o provérbio diz "no meio é que está a virtude". Łódź é uma cidade com um centro urbano decadente, especialmente nas ruas paralelas à Piotrkowska e nas zonas industriais que outrora foram florescentes industrias têxteis. As velhas kamienica (prédios) no centro estão, de um modo geral, em mau estado ou em ruínas e o plano de reabilitação do centro prevê a demolição de uma parte substancial dos mesmos e a construção de novos prédios. Tudo não passa, para já, do papel pois demolição vê-se aqui e ali mas construção só mesmo a iniciativa privada que, por exemplo, inaugurou em 2006 o Centro Comercial Manufaktura tornando-o o novo centro da cidade e destronando a ulica Piotrkowska.
Não é mentira que Łódź não é uma cidade atraente para turistas e pouco interessante para quem vive na mesma, é uma cidade-dormitório por excelência. Está longe do encanto de Cracóvia, a minha cidade polaca preferida, da vida fervilhante de Varsóvia, do carisma de Gdańsk ou do desenvolvimento de Wrocław. O centro urbano está decadente em muitas das suas ruas, a Piotrkowska entregue a "Lojas do Chinês" e a meia-dúzia de restaurantes e bancos e nas kamienica e prédios os problemas de alcoolismo e desemprego trazem consigo um apego ao fanatismo futebolístico que pinta a cidade de grafittis dúbios, insultuosos e agressivos entre os dois clubes rivais, o ŁKS e o Widzew. Cenas de pancadaria, alcoolismo e vandalismo são, infelizmente, comuns em certas zonas escusas do centro da cinzenta cidade especialmente durante os fim-de-semana, feriados ou depois de jogos de futebol.
A revitalização do centro urbano é urgente mas o cerne da questão não será a emigração ou o envelhecimento da população. Como em tantas outras coisas é mesmo uma questão política de falta de organização, falta de vontade política e desleixo. Culpar Varsóvia não chega, a Polónia é membro da UE desde 2004 e desde então a quantidade de oportunidades perdidas (Capital da Cultura, Euro 2012) somam-se a tantas outras.
Quem quer tomar conta de Łódź?
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