sábado, 5 de janeiro de 2013

2013 - por aqui fico, na Polónia



O ano novo traz consigo um inevitável momento de reflexão, não só do ano velho e daquilo que fizemos - ou não fizemos - mas também o que gostaríamos de mudar e os objectivos a que nos propomos para os doze meses que temos pela frente. Pela parte que me toca e apesar de alguma vontade de mudarmos radicalmente o local de emigração ficamos por aqui. Decisões tomadas no plural ainda para mais tendo em conta que os nossos dois pequenos luso-polacos estão felizes e perfeitamente integrados na terra que os viu nascer, tão longe daquela do pai e dos avós. 

A beleza natural do Morkie Oko na região dos Cárpatos, no Sul da Polónia

Na empresa onde trabalho fui chamado para um novo projecto onde se formou uma equipa de oito pessoas; um espanhol e uma espanhola, um angolano e cinco portugueses. Numa das graçolas típicas do trabalho em equipa alguém colocou no placard (aqueles onde se colocam os resultados e os "SLA") os membros e as suas alcunhas ou aquilo que os caracteriza. A mim calhou-me o epíteto de married men (homem casado) e um desenho de um casal, com aspecto mal-disposto, sentado à mesa unido por correntes, como aquelas que punham nos prisioneiros...
Esse é o modo como sou visto pela maior parte dos amigos e colegas de trabalho. Um homem casado e com filhos. O próprio carro que conduzo é típico de alguém com filhos - um monovolume - e as cadeirinhas no banco de trás identificam o estilo de vida do condutor do mesmo modo que um carro patrulha sobressai imediatamente num bairro problemático. Não adianta portanto ser "engraçadinho" e fazer um sorriso mais aberto a uma qualquer beleza polaca no trânsito ou numa passadeira. O tipo ao volante tem um people carrier com duas cadeiras para criança no banco de trás e devia ter juízo. Ao contrário do chick-magnet como um BMW, Mercedes, Audi, um desportivo ou cabriolet os monovolumes são o verdadeiro repelente mas perfeitos para o transporte da criançada, têm até umas mesinhas desdobráveis atrás do bancos onde eles podem colocar os sumos, as guloseimas e até os crayons. Os bancos traseiros dobram-se e desmontam-se e o central se removido pode levar um cão comodamente - sim... temos uma cadela de raça "cães da Polónia" que encaixa perfeitamente entre os dois bancos de trás, já comprovei...

O trabalho é por turnos; por vezes aos fins-de-semana ou à noite, das dez às seis da manhã, noutras vezes entro às seis da manhã para sair às duas da tarde tendo de me levantar às cinco, ou como costumo dizer, levantar-me com o padeiro. Outras vezes entra-se às duas da tarde e sai-se às dez da noite; mais raramente entra-se às nove e sai-se às cinco. Para ajudar à festa nada como entrar no Facebook e ler alguém que escreveu no mural "Hoje é Sexta!!!!!!" ou "Yes!!!!!! Fim-de-semana!!!!!!!!". Sempre com muitos pontos de exclamação o que gramaticalmente não só é incorrecto como soa a histerismo. Esta questão do horário e do trabalhar por turnos - ando nisto há três anos - começa a pesar e só mesmo a gratificação financeira e o simples facto de se ter trabalho ajuda a superar. Espero que hajam ventos de mudanças e possa ter uma vida mais "normal".

Esta passagem de ano passei-a a trabalhar, não na empresa (estava de férias) mas ajudando a cara-metade e as suas sócias da cooperativa social e Restaurante/Café W te Pędy (tradução difícil senão impossível!) a servirem um réveillon. O negócio na área do canal HORECA é por conta própria mas requer muito trabalho, muito tempo de pé, muita comida e bebida a servir, muita loiça a lavar e a transportar. Foi uma experiência interessante e apesar do cansaço é reconfortante saber que se está a trabalhar para algo que é próprio e não para terceiros ou para accionistas endinheirados como aqueles que são os patrões anónimos na corporação onde trabalho ou para um psicopata - como um para o qual trabalhei certa vez. Este foi também um dos motivos para ficar e não procurar outras paragens como por exemplo a Inglaterra ou a Irlanda. Qualidade de vida não se mede apenas pelo salário auferido. O ambiente que nos rodeia, a integração pessoal e dos filhos na sociedade e no caso polaco não ser descriminado por ser emigrante é algo a ter em conta. Em Inglaterra a emigração é um problema sério e os ingleses não são do tipo de se imiscuírem com estrangeiros. Eu cá tu lá...

Para já por aqui fico sentindo-me cada vez mais dividido entre estes dois país tão distintos. Portugal e Polónia, já não sei viver sem os dois.





Sem comentários: