O ano novo traz consigo um inevitável momento de reflexão, não só do ano velho e daquilo que fizemos - ou não fizemos - mas também o que gostaríamos de mudar e os objectivos a que nos propomos para os doze meses que temos pela frente. Pela parte que me toca e apesar de alguma vontade de mudarmos radicalmente o local de emigração ficamos por aqui. Decisões tomadas no plural ainda para mais tendo em conta que os nossos dois pequenos luso-polacos estão felizes e perfeitamente integrados na terra que os viu nascer, tão longe daquela do pai e dos avós.
A beleza natural do Morkie Oko na região dos Cárpatos, no Sul da Polónia |
Na empresa onde trabalho fui chamado para um novo projecto onde se formou uma equipa de oito pessoas; um espanhol e uma espanhola, um angolano e cinco portugueses. Numa das graçolas típicas do trabalho em equipa alguém colocou no placard (aqueles onde se colocam os resultados e os "SLA") os membros e as suas alcunhas ou aquilo que os caracteriza. A mim calhou-me o epíteto de married men (homem casado) e um desenho de um casal, com aspecto mal-disposto, sentado à mesa unido por correntes, como aquelas que punham nos prisioneiros...
Esse é o modo como sou visto pela maior parte dos amigos e colegas de trabalho. Um homem casado e com filhos. O próprio carro que conduzo é típico de alguém com filhos - um monovolume - e as cadeirinhas no banco de trás identificam o estilo de vida do condutor do mesmo modo que um carro patrulha sobressai imediatamente num bairro problemático. Não adianta portanto ser "engraçadinho" e fazer um sorriso mais aberto a uma qualquer beleza polaca no trânsito ou numa passadeira. O tipo ao volante tem um people carrier com duas cadeiras para criança no banco de trás e devia ter juízo. Ao contrário do chick-magnet como um BMW, Mercedes, Audi, um desportivo ou cabriolet os monovolumes são o verdadeiro repelente mas perfeitos para o transporte da criançada, têm até umas mesinhas desdobráveis atrás do bancos onde eles podem colocar os sumos, as guloseimas e até os crayons. Os bancos traseiros dobram-se e desmontam-se e o central se removido pode levar um cão comodamente - sim... temos uma cadela de raça "cães da Polónia" que encaixa perfeitamente entre os dois bancos de trás, já comprovei...
O trabalho é por turnos; por vezes aos fins-de-semana ou à noite, das dez às seis da manhã, noutras vezes entro às seis da manhã para sair às duas da tarde tendo de me levantar às cinco, ou como costumo dizer, levantar-me com o padeiro. Outras vezes entra-se às duas da tarde e sai-se às dez da noite; mais raramente entra-se às nove e sai-se às cinco. Para ajudar à festa nada como entrar no Facebook e ler alguém que escreveu no mural "Hoje é Sexta!!!!!!" ou "Yes!!!!!! Fim-de-semana!!!!!!!!". Sempre com muitos pontos de exclamação o que gramaticalmente não só é incorrecto como soa a histerismo. Esta questão do horário e do trabalhar por turnos - ando nisto há três anos - começa a pesar e só mesmo a gratificação financeira e o simples facto de se ter trabalho ajuda a superar. Espero que hajam ventos de mudanças e possa ter uma vida mais "normal".
Esta passagem de ano passei-a a trabalhar, não na empresa (estava de férias) mas ajudando a cara-metade e as suas sócias da cooperativa social e Restaurante/Café W te Pędy (tradução difícil senão impossível!) a servirem um réveillon. O negócio na área do canal HORECA é por conta própria mas requer muito trabalho, muito tempo de pé, muita comida e bebida a servir, muita loiça a lavar e a transportar. Foi uma experiência interessante e apesar do cansaço é reconfortante saber que se está a trabalhar para algo que é próprio e não para terceiros ou para accionistas endinheirados como aqueles que são os patrões anónimos na corporação onde trabalho ou para um psicopata - como um para o qual trabalhei certa vez. Este foi também um dos motivos para ficar e não procurar outras paragens como por exemplo a Inglaterra ou a Irlanda. Qualidade de vida não se mede apenas pelo salário auferido. O ambiente que nos rodeia, a integração pessoal e dos filhos na sociedade e no caso polaco não ser descriminado por ser emigrante é algo a ter em conta. Em Inglaterra a emigração é um problema sério e os ingleses não são do tipo de se imiscuírem com estrangeiros. Eu cá tu lá...
Para já por aqui fico sentindo-me cada vez mais dividido entre estes dois país tão distintos. Portugal e Polónia, já não sei viver sem os dois.
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