sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sobre a nossa fama (dos portugueses) na Polónia

Um recente incidente numa multinacional onde trabalham vários portugueses, chamemos-lhe de o "incidente do comunicador" no qual os "portugueses" (no plural) foram dados como exemplo de maus utilizadores do comunicador interno da empresa - tipo MSN - por utilizarem o serviço para "flirtarem" com as colegas polacas serviu como reflexão pessoal sobre o que estamos aqui a fazer e como somos vistos pelos polacos. 

Mapa da Europa de acordo com os polacos

 Obviamente que não ponho a mão no fogo por alguns patrícios mais afoitos em trabalhar para a boémia do que para os objetivos de corporações ou daqueles relacionados com uma ocupação mas o que é revoltante são as generalizações para uma comunidade. O colega polaco que teve a tirada foi prontamente avisado e seguiu-se um pedido de desculpas ao português que ouviu o infeliz comentário. Não a todos mas houve um mea culpa dado entre grande embaraço e desviar do olhar.

Mas afinal temos boa fama ou não? Depois de onze anos de Polónia receio que não, infelizmente. No entanto partilhamos com espanhóis, italianos e gregos a fama de pouco trabalhadores e no nosso caso também por arrasto de sermos infiéis com as mulheres e até de lhes batermos. A juntar a isso o falar alto. Aqui é que a porca torce o rabo e só a diferença cultural explica que ser emocional não corresponde a gritar. Tenho ouvido muitos portugueses a queixarem-se disso; que elas dizem que gritamos quando nos exaltamos seja pelo futebol ou por outra coisa qualquer. Porra! Gritar é gritar, até se ver a epiglote! Quem não sente não é filho de boa gente - diz-se, lá na nossa terra...

Quanto ao sermos preguiçosos compreendo em parte. Os polacos têm um nível de stress muito maior e aceitam as chefias e hierarquias mais naturalmente, contestam menos e sofrem em silêncio. Os portugueses quando juntos metem medo. Falam alto, riem e praticamente ninguém entende esse velho idioma latino. Estarão a conspirar? Dizem mal de quem? Olham demasiado para as mulheres comentando algo que ninguém descortina? Reconheçamos que é difícil de aceitar. Como seria se fosse ao contrário?

Mapa da Europa de acordo com os portugueses.


Somos infiéis?  Sim. Os homens, regra geral, são mais infiéis que as mulheres apesar da tendência ter vindo a equilibrar-se. Nesse aspecto temos as costas largas. Um alemão, um sueco, um finlandês, um russo, ou um ucraniano não tem fama de mulherengo. Ao contrário, tudo o que vem da Europa do Sul e também da América Latina é à partida suspeito. Há sempre alguém - normalmente uma mal amada ou frustrada - com um mau exemplo de um português que traiu a mulher, de um brasileiro que "pulou a cerca", de um espanhol com uma mulher e filhos em Pamplona e outra família em Zduńska Wola e de um italiano com uma namorada em Varsóvia, outra em Łódź, Poznań, Wrocław, Gdańsk, Cracóvia, Zakopany...

Os maus exemplos são sempre os que mais impacto causam portanto fica praticamente como tábua rasa os inúmeros casos de integração sucedida e de empreendedorismo que os portugueses têm vindo a deixar na Polónia. O momento de crise ou melhor o corolário de crises desde o 25 de Abril não ajudam à reputação de Portugal no estrangeiro, de certo modo somos vistos como um mau exemplo junto com a Grécia, Espanha e Itália - os tais PIGS.

É inevitável que hajam generalizações. Os próprios polacos são alvo delas no estrangeiro. São anedota nos EUA (como nós somos no Brasil), eles são canalizadores, bêbados e elas prostitutas ou stripteasers. Dizem que no Brasil se diz polonesa e não polaca (como em Portugal) pelo facto de ser conotado com mulheres da má vida, fruto da emigração para o Brasil no pós-guerra. Em certas regiões de Itália um portuguesi é sinónimo de oportunista e na França dos anos 60 e 70 chegamos a ser chamados de cárralhôs por ser a palavra mais ouvida nas obras e estaleiros com elevada percentagem de emigrantes portugueses. 

 Talvez seja tudo um sinal claro de que estamos de facto a começar a ser uma comunidade. Falam de nós, formam uma opinião e claro existe uma aculturação. Algo há no entanto que não nos tiram e que nos distingue de outros emigrantes - seja em que país ou continente for. Onde quer que estejam meia-dúzia de portugueses há-de haver sempre um reconhecimento quase instantâneo, uma bandeira verde e rubro, longas conversas, gargalhadas, vernáculo, vinho e, claro está, o elemento feminino...

Desculpem qualquer coisinha.

1 comentário:

zekarlos disse...

Ouvi, pela boca duma croata, uma boa descrição para a nossa fama além fronteiras: "Iberican fu**ers" :P