quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Idade Média no século XXI

Historicamente tido como o período entre o declínio do Império de Roma e o inicio do Renascimento - cerca de mil anos - a Idade Média exerce um fascínio inexplicável em muitos de nós. Apelidada pelos renascentistas como Idade das Trevas (em oposição à Idade da Luz) pelo retrocesso civilizacional gerado em grande parte pelo domínio do clero e pelas perseguições da Igreja, o advento do feudalismo, as superstições e crendices, foi também um período histórico rico em batalhas, conquistas e reconquistas onde o sangue e a brutalidade definiram fronteiras e formaram novos países e culturas. 

Assim seriam os cavaleiros medievais.


Foi a primeira vez que fui a uma feira medieval. Aos 38 anos e já bem dentro do século XXI. Na Polónia organizam-se muitos eventos destes especialmente no Verão e a pequena vila de Uniejów não é excepção. Łódź não organiza feiras medievais pelo simples facto de ser acima de tudo um ícone de um período muito posterior, a Revolução Industrial.  No entanto pequenas cidades e vilas históricas fazem questão de reviver esses tempos remotos onde imperava a lei do mais forte e onde a Polónia nasceu - no Ano do Senhor de 966, há mais de mil anos.

Um trio de polacos vestidos como monges (pelo menos assim me pareceu) tocava musica medieval numa esplanada contigua enquanto a multidão visitava as pequenas tendas de artesanato onde os vendedores estavam vestidos com trajes típicos da época. Apreciei particularmente o pormenor das socas "anti-lama" que se colocavam por cima dos sapatos - imagina-se como seria um mundo sem asfalto e sem cimento! Réplicas de armaduras medievais usadas pelos cavaleiros estavam à venda bem como espadas e escudos para as crianças feitos em contraplacado, uma tecnologia que só dali por mais de 6 séculos se veria...

O sarraceno fartou-se de levar porrada. Atentem na figura à esquerda em madeira usando um turbante e dois escudos.

A atração principal eram mesmo os torneios a cavalo. Vários cavaleiros tinham de disputar diversas provas entre as quais derrotar os sarracenos - representado por um figura de tez escura usando um turbante - e tentar apanhar argolas com bastões. O inicio do torneio foi encetado com disparos ruidosos de bacamarte (pelo que apurei uma invenção renascentista) com um anfitrião estilo Blackhadder munido de microfone. Os cavaleiros de armadura e os cavalos aparelhados e enfeitados com os panos e insígnias medievais polacas combateram o sarraceno e mostraram com mestria um pouco daquilo que divertia as gentes de tempos imemoriais. A dada altura um polaco dos seus sessenta anos perguntou-me se era sírio, portanto se o vosso conterrâneo em terras polacas era sarraceno! Confesso que naquele momento parou tudo. Já passei por italiano, espanhol (frequentemente) e grego mas... por sírio? Fiz portanto questão de explicar ao senhor que não; não sou árabe ou berbere, que sou português e não tenho o nariz deles apesar de ter uma cor de pele relativamente escura (em comparação com um polaco). O pobre homem pouco depois desapareceu, suponho mais por vergonha do que por dar de caras com um alegado mouro da Europa do Sul.


 Como tal já sei que da próxima vez, quando for a uma feira medieval, não vou de t-shirt e calças de ganga. Das duas uma, ou me visto ao estilo do nosso Infante Dom Henrique ou então de padre da inquisição. É que na Idade Media queimavam os hereges mais frequentemente do que o pão no forno portanto da Península Ibérica, nomeadamente do Reino de Portugal e dos Algarves, nada como um bom exemplo de cristandade. Um santo inquisidor ou um navegador no reino da Polónia... 

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