domingo, 18 de março de 2012

A aventura de comprar um carro usado na Polónia

Os polacos gostam de dizer que não se devem comprar carros com três F... "Fiat, Ford e wszystkich francuskie" (todos os franceses). Os italianos têm má fama desde longa data especialmente por enferrujarem rapidamente e avariarem frequentemente - em parte uma herança do passado quando os Fiat fabricados na Polónia tinham um P a seguir ao modelo, como o 126P e o 125P. P de Polski (Polaco). Os franceses parecem não terem boa fama pelas suspensões macias que, de acordo com a opinião dos entendidos, não aguentam as más condições das estradas polacas e os Ford por avariarem todos os dias. 

Um stand polaco em Zduńska Wola com um nome apelativo.

Os tempos mudaram e se por um lado a nível tecnológico todos evoluíram; os japoneses, os alemães e os coreanos são ainda os que fabricam carros menos propensos a avarias. Aprendi do pior modo e quase me convenço que de facto os três F parece ser um dizer com alguma sabedoria. Em breve pretendo deixar de ser proprietário de um Renault Scenic que, de tantos problemas me tem dado, só me direciona para Oriente, para a Ásia.


Sinceramente não sei o que me passou pela cabeça - parece que me esqueci rapidamente que o carro que menos problemas me deu até hoje foi um Toyota Corolla 1200 de 1971 comprado com mais dois "sócios" para fazer rally-pirata - por 40 contos no Carnaval de 1994. Foi a custo e com relutância que o proprietário o vendeu pelo simples facto do Corolla estar completamente escavacado, de ter a bomba do travão com fuga, um radiador entupido (desentupiu com meia-dúzia de saltos nos montes de Famalicão), direção com folga, molas pasmadas no semieixo, a lâmpada de cortesia e o rádio "AM" original que não funcionava mais mossas por tudo quanto era lado, inclusivamente uma pancada a meio da mala que nem deixava fechar a tampa devidamente. A verdade é que nunca avariou, a caixa tinha um engate que parecia manteiga mesmo depois de levar um tratamento de choque com saltos, arranques a fundo, piões e saídas de traseira (tinha transmissão nas rodas traseiras) dignas de um qualquer Rally de Portugal.Vendeu-se mais tarde para peças porque estávamos cheios de comer pó (entravam carradas por os buracos das colunas de som proveniente da tal mala que não fechava devidamente).



Carnaval de 1994. Um Toyota Corolla 1200 por 40 contos era nesse tempo um verdadeiro achado! Foi deixando bilhetes em todos os Corolla que víamos que finalmente apanhamos o RT-87-86. A desculpa era que precisávamos de um carro para ir para a tropa e não tínhamos muita verba...Ah! Nenhum de nós, por acaso, foi para a tropa.
  
Isto tudo para levar ao tema de comprar um carro usado na Polónia. Não é fácil nem muito recomendado a não ser que seja um carro novo ou comprado num serviço oficial autorizado. Os stands de automóveis são chamados de Komis e na esmagadora maioria são ao ar livre, estilo feira. Uma rede delimita a propriedade e os carros estão expostos aos elementos. Em Łódź no que diz respeito a usados não vi nada como na minha terra, em Famalicão. Um verdadeiro centro do automóvel em todos os aspectos. Stands como aquele em que trabalhei ou outros como o J. Costa ou o Famocar; asseados e com os carros limpos e polidos, vendedores simpáticos e prestáveis (com os quais estudamos na escola) não se encontram.

Aqui reina o carro importado da Alemanha, da Bélgica, da Holanda e da França, por vezes uns da Itália e da Escandinávia e Suíça. A partir da adesão da Polónia à UE foi um ver se te avias. Tinha chegado o tempo de mandar para a sucata toda a maquinaria comunista e pós-comunista (FSO, Fiat, Lada, Wartburg, Trabant) e substituir os ditos por outras sucatas mais recentes mas vindas da Alemanha sobretudo. Um pouco ao modo do que acontece com muitos usados importados em Portugal mas com a diferença de terem mais idade e serem mais baratos (bastante mais). Um ponto favorável para os polacos é que muitas vezes nem se dão ao trabalho de modificarem a quilometragem. O ponto de aceitação de um carro bastante usado fica algures nos 300.000 km para um gasolina e nos 500.000 km para um diesel portanto um usado com 160.000 ou 200.000 km ainda tem uns bons 150.000 km até chegar ao fim mas como existe um mercado paralelo de peças não há nada como comprar outro motor e continuar a rolar mais uns três ou quatro anos. Na Polónia nada se perde, tudo se transforma! Polak potrafi (um polaco consegue) serve também para o automóvel. Conduzir um carro sem disco de embraiagem, mudar todos os amortecedores à porta do prédio ou os triângulos de suspensão são alguns dos exemplos do "desenrascanço" polaco.

O atendimento ao cliente é péssimo, pelo menos aqui em Łódź. Andamos para ali a abrir e fechar portas sem que ninguém se interesse muito ou então temos uns tipos de aspecto dúbio, roupas pretas, cabelo rapado, corrente no pulso com sapatos bicudos ao estilo Aladino a observar-nos como se fossemos presas. As garantias ainda são à antiga; motor e caixa por seis meses, por vezes por um mês, ou até um ano. O mais importante é a garantia que o carro não é roubado! Isto foi-me dito várias vezes com grande seriedade. Os polacos preferem comprar aos países vizinhos da Europa ocidental pelo facto de terem estradas melhores e como tal a nível de suspensões e direção estão muito bons (e é verdade) o mesmo se aplica ao estado geral, vai dai dizerem que os alemães são pedantes pelo modo com estimam os seus automóveis. 

Quem já andou nisto de vender carros sabe bem que um carro com dez anos na Alemanha parece quase novo quando tratado devidamente. Por isso os polacos preferem comprar marcas como VW, Audi, BMW, Mercedes, Opel ou Toyota, Nissan, Mitsubishi, Mazda e Suzuki. Diz o nosso provérbio que "Quem vai a Roma, faz-se Romano". Vou ter de me fazer Romano e esquecer que não vivo mais num país onde em geral as estradas são boas, não neva e portanto não há sal nas estradas nem gelo durante dois ou três meses. Na Polónia não dá para comprar carros de trato delicado, tem mesmo de ser algo que aguente muita pancada e que basicamente só seja preciso mudar o óleo e as pastilhas de travão.

Au revoir françaises! Konnichiha Nihongo!

3 comentários:

Ryan disse...

O melhor é comprares um todo terreno. Esses sim são os carros ideais para as estradas Polacas. Eu sei... compra-los até nem é assim tão caro. O pior mesmo é a manutenção em geral.
Eu quero comprar um carro mas não será já e o ideal, para mim, é comprar marcas alemãs.

Anónimo disse...

Boas! Realmente tambem tenho um corolla, e os japoneses não falham!
E a hipótese de levar um carro de Portugal para aí, como poderá funcionar? não deve ser possível andar com matricula estrangeira, ou será que dá?
obgd
João

CNN disse...

oi

Concordo completamente com o post, e ja estou a alguns anos na Polonia, agora em Cracovia e nunca comprei carro.mas agora preciso mesmo de comprar. voces têm alguma sugestao de stands websites ou procedimento, preferia nao gastar mais de 10.000zlotys e tambem nao ter um carro avariado passado 1 ano, nem andar a gastar em manutencao.

obrigado