sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Polónia a vulso VI


Tinha de tirar esta foto. Reúne alguns elementos bem típicos da Polónia e neste caso do centro da cidade de Łódź. Ao fundo um bêbado de cigarro na mão a dirigir-se a um supermercado com o curioso nome de Odido. Na rua um cartaz, devidamente preso com corrente e cadeado, onde o precário começa com quatro cervejas em promoção sendo a garrafa de meio-litro de Piwo Harnaś vendida a 1,79 PLN (cerca de 50 cêntimos de €). 

O carro estacionado em primeiro plano é um FSO Polonez Truck de fabrico polaco. Li uma ocasião, na revista de automóveis AutoŚwiat (homologa da portuguesa AutoHoje) um teste ao usado no qual informavam o potencial interessado: "Avarias típicas - Tudo". Por isso entendo hoje em dia a razão para o jubilo dos meus colegas, numa empresa polaca onde trabalhei, quando um tal de Przemek estampou o Polonez da empresa. Nem o patrão ficou preocupado; passado uns dias um Citroen Berlingo passava a fazer parte da frota...

Para compor o ramalhete uma garrafa de plástico devidamente espetada entre a parede e o cartaz do supermercado. É Odido.



Imobiliária. Vende-se. Um dos muitos interessantes edifícios da cidade de Łódź para venda. A maior parte abandonados e entregues aos elementos. Alguns foram em tempos palácios da aristocracia polaca, vestígios de uma época dourada em que a Polónia era o ícone europeu dos têxteis e Łódź uma cidade de chaminés e fumo. O século XX trouxe a luta de classes, fruto das tremendas injustiças sociais, e depois das lutas dos operários vieram duas guerras com consequências trágicas para a economia polaca. Despojados dos seus proprietários originais (muitos deles judeus), cobertos de pó e fuligem e alguns devolutos, muitos dos edifícios em estilo Secesja de Łódź estão para venda.






Um dos palácios da cidade. Uma metade pintada e outra por pintar. Um estilo arquitetónico muito particular da Polónia no século XIX.

 Os detalhes são intrigantes e carregados de simbolismo. Uma varanda onde se podem ver cabeças de carneiro (representarão Baal?), figuras estranhas e elementos que certamente têm um significado mais além do estilo Secesja.

E por falar em coisas sinistras... Passou o Halloween, essa tradição que veio do lado de lá do Atlântico e que chamamos de Dia das Bruxa, e esqueci-me de contar a história da abóbora que em polaco se chama de dynia. Numa casa com duas crianças pequenas chegou o dia em que finalmente escavaquei uma abóbora para colocar uma vela dentro e dar aquele aspecto de mistério fantasmagórico ao legume em questão. É mais fácil do que parece tendo de se começar por abrir o topo, retirar as pevides e finalmente cortar os olhos e a boca com uma faca aguçada. Os miúdos gostaram mas no dia seguinte coloquei a abobora na varanda para não ter a sala a cheirar a mercearia. O problema é que esqueci-me da dita encontrando-a em avançado estado de decomposição passado uns dias... Em vez do Buuuuu disse mesmo Blagh e garanto que o aspecto era realmente medonho!


Bąk (abelhão em polaco ou peido se quiserem) foi um bravo polaco que na Idade-Media construiu um castelo numa colina, dai o nome da aldeia Bąkowa Góra (Colina de Bąk) na voivoda de Łódź. Os séculos passaram e a pitoresca aldeia passou a ter umas ruínas em vez de um castelo. Com o fim do comunismo o monumento nacional e o terreno onde o mesmo se encontra passaram para as mãos de particulares que o restauraram, dentro da medida do possível, e fecharam o mesmo com um grosso portão em ferro. Os novos proprietários frisam em vários cartazes que estamos em propriedade privada "TERRENO PRIVADO. PAGO. PASSAGEM SÓ COM AUTORIZAÇÃO DO PROPRIETÁRIO". Ao estacionar o carro nas imediações, onde outrora havia um parque de estacionamento publico, aparece numa varanda de uma casa um homem a comer sementes de girassol e com olhar observador sobre aquela família de curiosos e o Scenic com matrícula de Łódź. Na falta de trocos deixou-nos gratuitamente e subimos a colina para ver o castelo. A minha mulher, que passou os verões da sua infância nessa aldeia, não deixou de expressar a sua tristeza pela mudança mas os tempos são outros e pelo menos o castelo está agora protegido de vândalos e devidamente cimentado para que não se percam pedras.
Há uns dias tirei estas fotos no jardim Julianowski aqui em Łódź. Agora já não há folhas, o Inverno aproxima-se a passos largos e as temperaturas, assim que o sol se põe, vão para o zero ou para lá dele. Em breve o lago vai estar gelado e as árvores despidas. Nada de especial para ver durante os próximos três meses. E pensar que há bem pouco tempo ali estivemos com temperaturas acima dos trinta graus.


Na porta de uma casa polaca alguém escreveu neste pedaço de madeira - "Mais vale ter barriga de cerveja do que uma corcunda de trabalho". Aprendam com quem sabe...

Sem comentários: