quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Palácio de Edward Herbst

Łódź foi, nos finais do século XIX e princípio do século XX, uma poluída cidade industrial onde o fumo de centenas de fábricas empestava o ar. O romance do escritor polaco Władysław Reymont, Ziemia Obiecana (Terra Prometida) retrata o frenesim de Łódź, a opulência contrastante com a miséria, a sobrevivência contrastante com o esbanjamento, os valores morais do cristianismo polaco contrastantes com a luxúria e a imoralidade. O realizador polaco Andrzej Wajda imortalizou o livro em película no filme com o mesmo nome. 


 Esta introdução serve para sugerir ao leitor o visionamento deste filme icónico do cinema polaco - e da cidade de Łódź - e também como introdução para a compreensão da História de uma urbe que, para muitos, não tem nada de atrativo para além de alguns edifícios centenários e, claro está, algumas das suas habitantes...  

De facto não vale a pena dourar a pílula. Łódź não é uma cidade atraente ou turística, não consta nos roteiros turísticos polacos e não tem nenhum rio ou pedaço de mar para a enfeitar, ou melhor; tem rios não no centro, mas sim na periferia. Inúmeros afluentes que irrigam os campos e as áreas rurais que cercam de verde a tal cinzenta e melancólica metrópole. Basta ver no Google Maps para constatar a imensa área verde da cidade.

Recentemente foi restaurado um dos palácios dos magnatas de Łódź; a residência de Edward Herbst, a dois passos gigantesca fábrica do seu sogro, a "Fábrica Branca" ou Biała Fabryka - uma verdadeira cidade dentro da cidade. Księży Młyn é o nome dado à propriedade de Karl Wilhelm Herbst, um rico industrial alemão que se instalou em Łódź em 1855. Edward casaria com a filha do industrial, Matylda Scheibler, em Maio de 1875, tornando-se um dos maiores aristocratas da cidade O palácio inspirado no estilo renascentista italiano ficava praticamente encostado à fábrica e imagina-se que dali se poderia ouvir o ruído abafado da maquinaria pesada enquanto os milhares de operários sentiam a omnipresença do patrão ali ao lado, a toda a hora.

Refletindo a opulência desmesurada da elite de Łódź o palácio compreende um jardim com lago e repuxos, sala de baile gótica e um salão espelhado em estilo rococó.
O sonho dos ricos, a aparente inabalável elite de Łódź duraria o suficiente até às grandes greves gerais no principio do século XX. As greves que eram a génese do socialismo. As bandeiras vermelhas começavam a ver-se nos confrontos, nas barricadas, na revolta de uma população que vivia no limiar, na revolução de 1905. Na obra de Władysław Reymont compreende-se o despertar dos anarquistas, o crescente descontentamento perante a verdadeira tirania dos industriais. 

O ser humano era apenas uma engrenagem numa complexa maquinaria, morrer numa qualquer máquina a vapor ou ficar trucidado era um prejuízo e não um infortúnio.
Em 1917 a Revolução Russa seria o derradeiro prego no caixão dos plutocratas. Ferida de morte pelo conflito de 1914-1918 a Polónia nos moldes da Revolução Industrial desapareceria com a invasão Nazi em 1939. A debandada da comunidade alemã no período entre-guerras e o extermínio dos judeus durante o Holocausto seria o Canto de Cisne de uma Era que, hoje em dia, se pode ainda distinguir entre velhos edifícios degradados, prédios cinzentos, palácios esquecidos, prédios de habitação, ruas e vielas sombrias.


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