segunda-feira, 20 de junho de 2011

O parque infantil

Enquanto uns se divertem ao som do Hip-Hop polaco até ao nascer do sol outros tentam dormir para enfrentarem um fim-de-semana onde finalmente se pode limpar uma casa varrida por dois tufões El Niño durante a semana e um Sábado onde se celebram os cinco anos da pequena Julka. A Julka é uma das companheiras de infantário do meu luso-polaco mais velho. O grupo tem a particularidade de terem datas de aniversário muito próximas o que causa uma Primavera e Verão repleta de festinhas de aniversário.

 
O festival Hip-Hop Arena 2011, no velho estádio Start, fica a menos de dois quilómetros da zona da cidade de Łódź onde resido. O ruído propaga-se facilmente numa área geográfica cortada pela longa e larga avenida Wólkniarze, sem elevações e sem vegetação significante e foi possível ouvir o concerto. Nada que uns tampões de ouvidos Made in Poland não abafassem proporcionando o descanso merecido depois de horas de brincadeiras, ralhetes, banhos e muita paciência. Pela manhã a actividade do dia foi prontamente relembrada pelo meu filhote aos seus progenitores. - Vamos ao aniversário da Julka?

E foi relembrada mais uma vez e outra e ainda mais outra e outra... 

No século XX (sim, no século passado), quando fui criança, as festas de aniversário tinham a mesma magia mas havia uma diferença significativa. Eram em casa do aniversariante. O lanche tinha menos doces, haviam menos prendas e não se imaginava o que seria uma festa de aniversário num parque infantil onde estão à disposição das crianças os mais diversos tipos de brinquedos e de brincadeiras. Os pais pareciam menos preocupados em terem um olho nos petizes do que os pais contemporâneos e puxavam do cigarro enquanto as pedras de gelo tilintavam nos copos de whisky.


Os parques infantis - em polaco Sala Zabaw - são uma extraordinária invenção; por um lado permitem aos mais pequenos gastarem rapidamente parte da "pilha" diária e aos pais terem menos problemas em encontrarem condições para albergarem dezenas de pessoas e crianças num apartamento, menos trabalho com a preparação de acepipes, casa desarrumada e pilhas de loiça. O lado menos positivo será porventura o mercantilismo que espreita nos jogos electrónicos pagos a moeda (na sua maioria a 5 PLN), no guincho para apanhar o prémio, nos ovos surpresa e naquelas vitrinas estrategicamente colocadas no balcão à altura dos olhos das crianças, repletas de coisas doces e coloridas...

Nos parques infantis não há lugar - e ainda bem - para o fumo do cigarro nem para o copo de whisky. Fico sempre com a sensação que vivemos num mundo com muito menos margem de manobra, onde tudo é muito mais restrito, consciencializado, estandardizado e avaliado ao pormenor. Tem as suas vantagens e desvantagens; por um lado praticamente já não há crianças à solta ou deitadas a dormir profundamente no banco de trás - como eu fazia confortavelmente no Fiat 128 Sport do meu pai nas saudosas viagens por estrada nacional entre Vila Nova de Famalicão e Faro - e por outro as crianças são talvez menos criativas do que nós fomos (tivemos) de ser. Tudo à mão de semear, pleno de luzes a piscar e botões, sons e imagens em movimento. Os brinquedos de hoje superam até a nossa fértil imaginação de crianças mas não retiram a mística das brincadeiras de rua de outros tempos. 

 

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