sábado, 11 de junho de 2011

O 10 de Junho fora da pátria

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades; entre as quais a crescente comunidade portuguesa na Polónia. Estamos - os portugueses - espalhados por todo o lado, fizemo-nos ao mar quando não nos restava mais nada, tínhamos pelas costas o Reino de Espanha e a Sul os Mouros. Depois do fim do império continuamos um pouco por toda a parte.

Quando há mais de dez anos visitei o monumento ao imigrante, em Laundos, ali a dois passos de Vila Nova de Famalicão - com uma esplêndida visão para a Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Mindelo e Porto - estava longe de pensar que seria um dos muitos portugueses aos quais o monumento alude, com as devidas diferenças de não ter partido para o Brasil mas sim para  a Polónia, sem a mala de cartão e farnel e o transporte ter sido um Opel Corsa 1.0. Foto: Panoramio, autor Guizel.
O mar afinal não acabava num abismo e demos com uma terra fértil habitada por gentes que os portugueses de outrora consideravam incivilizados. Dobramos um cabo que se chamava "das tormentas", chegamos à Índia, Timor China e Japão e - dizem alguns historiadores mais afoitos - que encontramos aquilo que se viria a chamar de Austrália - mantido em segredo e prontamente revelado aos ingleses por traidores. Os índios e os negros foram nossa propriedade, colonizamos, escravizamos e tivemos um império centenas de vezes maior que aquela pequena porção de terra na Península Ibérica. O português foi o grande criador da miscigenação. O nosso maior património é a nossa História e a nossa língua, a marca deixada nos territórios do império colonial. O Brasil, Angola e Moçambique os nossos herdeiros, com tudo o que lhes deixamos de bom e de mau. 

Hoje, durante as comemorações do Dia de Portugal, o presidente Cavaco Silva apelou - mais uma vez - aos emigrantes para ajudarem o país a sair da crise. Pediu aos "filhos da Nação" que canalizem o investimento, o talento e o espírito empreendedor para ajudar o país a sair da situação em que se encontra. "Portugal tem mais de um terço dos seus membros no exterior, ao longo da história, nunca faltaram com o seu auxílio em momentos difíceis". Disse ainda, de acordo com o Correio da Manhã, que "numa época de crise, (...) espera que as comunidades no estrangeiro e o país "se voltem a aproximar e a fortalecer laços, porque Portugal necessita do seu contributo".

Não deixa de ser curioso que o país e a classe política que têm provocado uma autêntica debandada, peçam ajuda em vez de prometerem - e trabalharem - para melhorar as condições de vida; para que não se tenha de emigrar e estar longe da família e amigos, para que se regresse e para que não hajam portugueses a contribuírem para a economia e crescimento de países terceiros - portugueses que não tenham de formar família noutras paragens. 

Se para muitos solteiros já é difícil desfrutarem Portugal na sua totalidade, para quem tem família (ou pensa em construir uma) tudo se avizinha mais complicado. Fecham-se maternidades e escolas, cortam-se subsídios e abonos, faltam creches e infantários e os que existem são dispendiosos. A população envelhece e não se renova e os nossos políticos praticamente nos dizem "vão embora, produzam riqueza e depositem a mesma em Portugal". Saudades de tempos passados em que os emigrantes se dedicavam à causa da Caixa Geral de Depósitos?

Senhor Presidente da República, obrigado por se lembrar dos emigrantes, bardzo dziękuje!, como se diz para estes lados. Ao menos ainda vai falando neles ao contrário do Executivo, mas talvez ainda não se tenha apercebido que uma grande parte destes emigrantes integram-se facilmente, falam mais do que duas ou três línguas estrangeiras e emigram para viverem a vida. 

Pela parte que me toca não me interessa uma caixa nem depósitos. 

Viva Portugal!







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