Maio de 2011 - O mês dos polacos.

Abril de 2011 encerra com um casamento real lá para os lados da velha Albion. Transmissões em directo, comentários ad nausea e muita gente bem intencionada - porventura sem outras alegrias na vida  e muito tempo livre - a verem passar o príncipe William e a sua consorte Kate Middleton. Londres encheu-se de mirones e enfeitou-se com milhares de bandeiras do Union Jack nas ruas. 

O melhor do United Kingdom, o país do chá das cinco, dos Rolls Royce, do Palácio de Buckingham, da caça às raposas com matilhas de cães a ladrar atrás do pobre bicho assustado, das corridas de cavalos e apostas, ladies com chapéus exóticos, dos volantes de automóveis e do lado direito onde na maior parte do mundo se encontra o porta-luvas, tomadas e voltagens diferentes e milhas em vez de quilómetros. A festa acabou e agora o mundo espera as cenas de traição que sempre alimentaram uma imprensa dita cor-de-rosa, avida de escândalos e segredos de polichinelo.

Hoje, 1 de Maio de 2011 procede-se a beatificação do Sumo Pontífice, o Papa viajante, o Papa De Laboris Solis de acordo com as profecias de São Malaquias. Roma está inundada de peregrinos polacos, de bandeiras vermelhas e brancas, de cartazes com localidades e cidades polacas. Organizaram-se excursões a Roma por todo o país, celebram-se missas, penduram-se bandeiras da Polónia e do Vaticano nas varandas, retratos do Papa veem-se nas janelas de muitas casas, honra-se a memória de João Paulo II.

O país conhecido pelas lutas do Sindicato Livre Solidariedade, Lech Wałesa, Papa João Paulo II, Varsóvia, vodka, mulheres bonitas, a beleza de Cracóvia e uma fé inabalável na Igreja Católica. Polónia onde o chá se toma a todas as horas e não apenas às cinco, onde o prato tradicional é kiełbasa com batata cozida e cournichons. Aqui não se perseguem raposas mas sim cogumelos selvagens. A bandeira não é uma composição como a Union Jack e resistiu divisões e invasões. Hoje a Praça de São Pedro é maioritariamente polaca, uma beatificação que espelha o orgulho de uma nação e projecta sentimentos patrióticos.

 Curiosamente, Karol Wojtyła, terá sido muito provavelmente o primeiro polaco que vi na vida, era ainda uma criança quando o comboio que transportava o Papa - ainda relativamente jovem e saudável - parou brevemente na estação de caminhos de ferro de Vila Nova de Famalicão. Estive ali a escassos metros dele de mão dada com a minha mãe, o Papa acenou a todos e abençoou uma criança de colo. Em consequência a rua onde morei durante mais  de 25 anos passou de Quinta da Vinha para rua João Paulo II e um dos seus habitantes iria viver para o mesmo país onde nasceu essa Papa, viria a falar e a entender esse difícil idioma eslavo. Serão apenas coincidências? Uns dizem que sim, outros dizem que não há coincidências...

O Papa João Paulo II é hoje recordado pela sua vida, pela sua obra e pelo seu serviço à Igreja. Como em tudo há oposição a este acontecimento; afinal o Papa é a autoridade máxima da instituição religiosa e não está imune a criticas em relação à contracepção e aos inúmeros escândalos sexuais que assolam a Igreja de Roma que terão passado em branco durante o seu pontificado. A verdade é que a Polónia tem agora um futuro santo, um polaco que se destacou de todos os outros, que trouxe esperança ao seu país quando foi mais preciso. João Paulo II é  sem margem para duvidas o Papa dos polacos sejam eles crentes ou não. 

O momento vive-se de acordo com a fé de cada um. Para uns é um momento de grande alegria, um acontecimento histórico marcante enquanto que para outros é apenas o observar de uma tradição da religião mais poderosa e influente do planeta.