Łódź, sem rei nem roque

A cidade de Łódź parece que não ter rei nem roque. Depois de uma "cena macaca" que levaria ao afastamento do presidente da câmara Jerzy Kropownicki e à eleição de um presidente provisório - um jovem polaco de nome Tomasz Sadzyński que caiu de para-quedas na cena politica - aparece uma senhora de nome Hanna Zdanowska que, pelos vistos, não merece sequer página no Wikipédia. 

Das grandes urbes polacas Łódz é porventura a mais feia, mais cinzenta, menos interessante e mais pobre de todas, com um trânsito caótico em determinadas artérias e onde há dezenas de cruzamentos com eléctricos  (os tramwaj) sem sinalização, onde impera a lei do mais forte. Varsóvia é a capital e isso diz (quase) tudo, Cracóvia uma cidade turística e antiga plena de detalhes, Poznań uma cidade que fervilha de vida e perto da fronteira com a Alemanha, Gdańsk é também uma cidade de turismo ali ao lado dos vizinhos alemães, Wrocław tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos e Toruń também tem feito o possível e o impossível por se destacar.

E Łódź? Łódź é um feixe de vergonhas acumuladas. Uma cidade com mais de 700.000 habitantes onde só a iniciativa privada tem salvo o marasmo em que esta se encontra. Poderia ser uma cidade lindíssima - sem exageros - se os prédios no estilo Secesja (Estilo Secessão de finais do século XIX) estivessem restaurados, as ruas bem pavimentadas, as fachadas dos prédios históricos bem iluminadas, os jardins renovados e o centro feito para cativar os visitantes e os "Lodziences". Mas não. Percorrer as ruas de Łódź é uma imersão numa espécie de limbo entre a PRL (República Popular da Polónia -ou Polónia comunista) e a Polónia pré-UE. Aqui nada de realmente relevante se passou. A iniciativa privada abriu uns centros comerciais e umas grandes superfícies como o CC Manufaktura e Port Łódź ou a Galeria Łódzka mas a Plac Wolności (Praça da Liberdade) por exemplo está  praticamente como estava há 20 anos com aquela rotunda velha e de aspecto pesado onde assenta a estátua do herói polaco Tadeusz Kościuszko, aquela igreja sempre em obras, os canteiros feios, os ruidosos eléctricos a tremelicarem nos carris torcidos pelo tempo e pelo desgaste e a rua principal, a Piotrkowska, com o piso degradado depois de um investimento brutal onde até contrataram uma equipe de calceteiros franceses!

Fonte: Express Ilustrowany Łódź

A isto alia-se o inenarrável estado das vias públicas. Nunca na minha vida vi tal vergonha, especialmente de há um ano ou dois a esta parte. Os buracos nas estradas são uma praga e as reparações uma  verdadeira anedota.
O piquete de reparação são quatro ou cinco polacos de fato-de-macaco onde um trabalha e os outros fumam o providencial papieros (cigarro) alternando aqui e ali quem segura a pistola com o fumarento asfalto que cagam no buraco. Aqui aprenderam a fazer cocó de asfalto nos buracos e passar a outro rapidamente. Não há limpeza do mesmo, colocação da brita e asfalto e passagem com cilindro ou compressor. Cagam pedaços de asfalto que vão ser rapidamente desfeitos pelo trânsito, pelos carros, autocarros, camiões e furgões. E ainda têm a "esperteza" de colocarem a bosta uns 2 cm acima do nível da estrada para que dure mais...

As estradas já não são estradas, são remendos com vislumbres de asfalto liso onde outrora foi uma estrada. Certo que o Inverno, o gelo e a neve são elementos demolidores para o piso mas para que servem a merda dos impostos nos combustíveis? Sempre que meto gasolina e vejo a brutalidade de ter o litro da gasolina sem chumbo 95 a quase 5 złoty o litro penso na merda dos buracos que vou passar logo a seguir. Só dá vontade mandar estes políticos bardamerda!

De casa ao trabalho e vice-versa percorro pouco mais de 10 quilómetros em cidade, dos quais pelo menos metade têm buracos algures, há ruas onde a par do som do motor oiço o constante "PUM " e "BONC" dos amortecedores e dos braços de suspensão - os quais mandei mudar por questão de prevenção. Com esta palhaçada a direcção já vai levando o carro ligeiramente para a esquerda. Há uns dias atrás um colega de trabalho caiu num buraco e lá se foi um pneu e uma jante em liga leve. O mesmo aconteceu comigo há uns anos atrás quando rebentei dois pneus (dois!) e uma jante em buracos. A cidade pagou o estrago e ficamos a saber que em Łódź fica mais barato pagar os estragos aos condutores do que arranjar as estradas! E andam a querer atrair investimento estrangeiro oferecendo este espectáculo?

Um empresário da cidade, Sławomir Perz, desesperado com a inércia, mandou editar um anúncio no jornal Express Ilustrowany onde apela à senhora presidente para fazer algo pelas estradas. A situação é de tal modo grave que os próprios polacos, habituados a estas coisas, perderam a paciência. O que se passa em Łódź? Quem anda a sugar o erário publico? Fonte: Express Ilustrowany Łódź

Łódź perdeu (se é que alguma vez concorreu) a oportunidade de brilhar no Euro 2012 e perdeu o Camerimage (Festival de Cinema). Dizem que Varsóvia (ou os políticos de Varsóvia) não deixam Łódź desenvolver-se, que esta cidade é uma ameaça velada para a capital pelo facto de estar relativamente perto da mesma. Canalizar dinheiro para Łódź é retirar protagonismo à capital do país. Mas será isto a verdade? Como se explica a autêntica "miséria franciscana" que foi não haver sequer dinheiro para se celebrar a passagem de ano 2010-2011 na Plac Wolności? Teve de ser a iniciativa privada a ceder o espaço no CC Manufaktura para que a cidade fizesse a festa? Feixes de vergonha!

Um dia destes a paciência esgota-se...