Polónia sustem a respiração..
depois de Robert Kubica (Cubitsa e não Cubica) ter ficado a poucos centímetros de ser trespassado por um rail de protecção numa estrada da província italiana. O piloto da Renault F1 arriscou a vida e a sua carreira ao não resistir à tentação de levar aos limites um Skoda Fabia RS num rally sem grande importância. Dizia o poeta Fernando Pessoa que quando sentia o ímpeto de escrever até o fazia de pé -como numa ocasião em que escreveu de pé, horas a fio, com o papel encostado a um armário do seu quarto- ou Edith Piaff que sentia a necessidade de cantar como outra qualquer necessidade indispensável à vida e ao bem-estar. Assim deve ser com Robert Kubica e com todos os que são brilhantes em algo, seja o jogador de futebol ou o compositor.
O único piloto de rally que conheço desde que começou a sua carreira -nos tempos em que comprávamos carros velhos (chamávamos-lhes charutos) para levar para o monte- foi o Miguel Campos de Vila Nova de Famalicão. Ao contrário da maior parte da "malta" que se limitava a carregar no acelerador e andava a fazer contra-brecagem enquanto a garganta secava e as mãos e as pernas tremiam, o Miguel estava sempre calmo e dava um verdadeiro show de drifting (uma palavra desconhecida nesses tempos -dizíamos empandeirar) com um velho Opel Manta 1900 de 1973, cor vermelha desbotada, chamas amarelas pintadas a spray no guarda-lamas traseiro e um diferencial de Opel Kadett 1000! O talento estava ali, a vocação que viu-se nos anos seguintes onde inclusivamente ganhou o rally da Polónia em 2004.
Para os entusiastas um vídeo de Robert Kubica a divertir-se com um Mitsubishi Lancer EVO VI
As ruas de Łódź onde tropeçamos na História sem nos darmos conta.
O ghetto de Łódź é uma história trágica com tantas outras envolvendo a comunidade judaica na Polónia mas reveste-se de particular interesse pelo facto de em Łódź ser a segunda maior do país (até 1945) onde se contavam mais de 200.000 judeus numa população de cerca de 600.000 habitantes. Os judeus eram em grande maioria a elite da cidade, os bourgois e os detentores do capital, os entrepeneurs a par com os alemães que se estabeleceram naquela que foi a Meca dos têxteis europeus. Os russos também se encontravam em minoria tal como a comunidade Rom, os ciganos de Łódź, que foram deportados e exterminados em Auschwitz. As suas casas e o seu bairro seriam posteriormente desinfectados e as paredes salpicadas de sangue seriam pintadas de fresco não restando um resquício dos crimes hediondos que os Nazi haviam cometido uns dias antes.
Nenhum desses ciganos sobreviveu. As suas casas foram desinfectadas e incluídas novamente no ghetto. Os arames-farpados enrolados, os vestígios de sangue nas paredes pintados por cima, nem um vestígio do crime... Estávamos todos em choque. Os dois primeiros homens a entrar no acampamento cigano -Arie Princ, o gerente da sapataria dos sapatos de palha, e Mendel Gross o fotografo [o seu verdadeiro nome era Mendel Grosman-J.P.] não recuperaram durante muito tempo do choque que tiveram ao lerem as inscrições em alemão que os ciganos escreveram nas paredes. Eram a prova que os ciganos eram educados e haviam abandonado o estilo de vida nómada muito antes. Sara Zyskind, The Light in the Valley of Tears, p.92.
Fonte: http://www.lodz-ghetto.com/the_gypsy_camp.html,36
Neue deutsche Stadt Warschau. - O plano de terraplanagem da capital havia sido planeado antes do eclodir do conflito e o plano de germanização do Leste europeu denominado de Pabst Plan.
"A cidade deve desaparecer completamente da superfície da Terra e servir apenas de estação de transporte para o Wehrmacht. Não pode ficar pedra sobre pedra. Todo o edifício deve ser terraplanado até às suas fundações." Chefe das SS, Heinrich Himmler a 17 de Outubro, numa conferência de oficiais das SS.
Tudo falhou e os grandes mentores ao aperceberem-se que o grande plano para o qual viveram não seria realizável puseram um termo à sua vida; nasceram, cresceram e morreram para um dado período na História da humanidade. As cicatrizes ficaram e os fantasmas ainda vagueiam por aí, especialmente na Polónia onde, sem nos apercebermos, estamos rodeados por eles.
Nota de rodapé: Recomendo vivamente a leitura (em inglês ou polaco) do site Lodz Ghetto para quem se interessa por esta temática - http://www.lodz-ghetto.com
1 comentário:
A Polónia é sem dúvida,história viva da Segunda Guerra.Para quem for sensível ao assunto,sente esses «fantasmas»que surgem a cada rua cada beco ou floresta.
Muito bem descrito aqui.
Bj da Mãe.
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