quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Fait Divers - Polónia

Polónia sustem a respiração..



depois de Robert Kubica (Cubitsa e não Cubica) ter ficado a poucos centímetros de ser trespassado por um rail de protecção numa estrada da província italiana. O piloto da Renault F1 arriscou a vida e a sua carreira ao não resistir à tentação de levar aos limites um Skoda Fabia RS num rally sem grande importância. Dizia o poeta Fernando Pessoa que quando sentia o ímpeto de escrever até o fazia de pé -como numa ocasião em que escreveu de pé, horas a fio, com o papel encostado a um armário do seu quarto- ou Edith Piaff que sentia a necessidade de cantar como outra qualquer necessidade indispensável à vida e ao bem-estar. Assim deve ser com Robert Kubica e com todos os que são brilhantes em algo, seja o jogador de futebol ou o compositor.

O único piloto de rally que conheço desde que começou a sua carreira  -nos tempos em que comprávamos  carros velhos (chamávamos-lhes charutos) para levar para o monte- foi o Miguel Campos de Vila Nova de Famalicão. Ao contrário da maior parte da "malta" que se limitava a carregar no acelerador e andava a fazer contra-brecagem enquanto a garganta secava e as mãos e as pernas tremiam, o Miguel estava sempre calmo e dava um verdadeiro show de drifting (uma palavra desconhecida nesses tempos -dizíamos empandeirar) com um velho Opel Manta 1900 de 1973, cor vermelha desbotada, chamas amarelas pintadas a spray no guarda-lamas traseiro e um diferencial de Opel Kadett 1000! O talento estava ali, a vocação que viu-se nos anos seguintes onde inclusivamente ganhou o rally da Polónia em 2004.

Kubica despistou-se numa curva estreita quando seguia a uma velocidade desproporcional à via mas em competição os limites são para ultrapassar e andasse sempre no fio da navalha. Uma "atravessadela" levou o Skoda a bater no rail com a roda esquerda traseira e de seguida cortar o mesmo com a frente. Acontece que o rail abriu e entrou instantaneamente pelo meio do veículo, abrindo a chapa corta-fogo (chapa onde está o tablier aparafusado) saindo pela bagageira. Onde estava o tablier ficou um buraco e o rail anda empurrou o bacquet de Kubica para trás esmagando-lhe a mão e deixando-o ferido com gravidade.
Falou-se de amputação e de um fim inglório para a carreira do piloto polaco mas não passou de um rumor. Kubica vai recuperar lentamente e, espera-se, voltar as pistas de F1 onde representa tão bem a marca do losango e o país da bandeira bicolor.


Para os entusiastas um vídeo de Robert Kubica a divertir-se com um Mitsubishi Lancer EVO VI

As ruas de Łódź onde tropeçamos na História sem nos darmos conta.

Ulica Zgierska. Uma rua onde passo frequentemente. Fico ali uns minutos no semáforo ou percorro a mesma  a pé quando vou fazer análises numa clínica ali perto. A ponte já não existe e o empedrado deu lugar ao asfalto -por vezes vê-se quando há buracos- mas pouco mudou e os prédios ainda ali estão em frente à "igreja vermelha" dedicada a Nossa Senhora. Durante a ocupação foi armazém e a ponte era dos poucos locais onde os judeus podiam vislumbrar a Piotrkowska, artéria principal da cidade que estava vedada aos mesmos.
 Ao contrário de Varsóvia, que ficou completamente arrasada depois do conflito de 1939-1945, a cidade de Łódź -com o nome de Litzmannstad durante a ocupação- ficou praticamente intacta exceptuando os monumentos ao heróis polacos que foram removidos (como por exemplo a estátua de Tadeusz Koszciusko na Praça da Liberdade), as sinagogas que foram incendiadas e demolidas e o ghetto judeu que foi liquidado em finais de 1944.

O ghetto de Łódź é uma história trágica com tantas outras envolvendo a comunidade judaica na Polónia mas reveste-se de particular interesse pelo facto de em Łódź ser a segunda maior do país (até 1945) onde se contavam mais de 200.000 judeus numa população de cerca de 600.000 habitantes. Os judeus eram em grande maioria a elite da cidade, os bourgois e os detentores do capital, os entrepeneurs a par com os alemães que se estabeleceram naquela que foi a Meca dos têxteis europeus. Os russos também se encontravam em minoria tal como a comunidade Rom, os ciganos de Łódź, que foram deportados e exterminados em Auschwitz. As suas casas e o seu bairro seriam posteriormente desinfectados e as paredes salpicadas de sangue seriam pintadas de fresco não restando um resquício dos crimes hediondos que os Nazi haviam cometido uns dias antes.


Nenhum desses ciganos sobreviveu. As suas casas foram desinfectadas e incluídas novamente no ghetto. Os arames-farpados enrolados, os vestígios de sangue nas paredes pintados  por cima, nem um vestígio do crime... Estávamos todos em choque. Os dois primeiros homens a entrar no acampamento cigano -Arie Princ, o gerente da sapataria dos sapatos de palha, e Mendel Gross o fotografo [o seu verdadeiro nome era Mendel Grosman-J.P.] não recuperaram durante muito tempo do choque que tiveram ao lerem as inscrições em alemão que os ciganos escreveram nas paredes. Eram a prova que os ciganos eram educados e haviam abandonado o estilo de vida nómada muito antes. Sara Zyskind, The Light in the Valley of Tears, p.92.

Fonte: http://www.lodz-ghetto.com/the_gypsy_camp.html,36

Neue deutsche Stadt Warschau. - O plano de terraplanagem da capital havia sido planeado antes do eclodir do conflito e o plano de germanização do Leste europeu denominado de Pabst Plan.

"A cidade deve desaparecer completamente da superfície da Terra e servir apenas de estação de transporte para o Wehrmacht. Não pode ficar pedra sobre pedra. Todo o edifício deve ser terraplanado até às suas fundações." Chefe das SS, Heinrich Himmler a 17 de Outubro, numa conferência de oficiais das SS.

Tudo falhou e os grandes mentores ao aperceberem-se que o grande plano para o qual viveram não seria realizável puseram um termo à sua vida; nasceram, cresceram e morreram para um dado período na História da humanidade. As cicatrizes ficaram e os fantasmas ainda vagueiam por aí, especialmente na Polónia onde, sem nos apercebermos, estamos rodeados por eles.

Nota de rodapé: Recomendo vivamente a leitura (em inglês ou polaco) do site Lodz Ghetto para quem se interessa por esta temática - http://www.lodz-ghetto.com








1 comentário:

Anónimo disse...

A Polónia é sem dúvida,história viva da Segunda Guerra.Para quem for sensível ao assunto,sente esses «fantasmas»que surgem a cada rua cada beco ou floresta.
Muito bem descrito aqui.
Bj da Mãe.