domingo, 31 de outubro de 2010

Os morcegos vêem no escuro


Mas eu não sou morcego, não vejo no escuro e mesmo de dia só com óculos que a miopia não me larga desde a infância. Esta época, este inicio de Outono polaco - dito Outono dourado - é apenas o prelúdio do frio, da neve e do gelo que vão perdurar até Maio de 2011. A isto junta-se o feriado católico de Todos os Santos e as tradicionais romarias aos cemitérios e necrópoles que não tenciono mais descrever neste blogue for many years to come. Já descrevi noutro artigos a tribulação nos transportes públicos, nas estradas. As milhares de velinhas a arder nos gigantescos cemitérios, as missas...

A hora muda e sentimos um nó na garganta, sabemos que os dias vão ficar ainda mais curtos. Perto das quatro da tarde já há pouca luz solar e de madrugada o sol nasce a horas que nos dão a sensação que estamos algures no Circulo Polar Árctico onde encontramos o sol da meia-noite. São agora 17:23 de Domingo e a hora do lanche em Portugal parece a hora de um jantar tardio num restaurante português quase na hora de encerrar.

 O Inverno de 1978 e 1979 proporcionou cenários destes. O país paralisou com temperaturas que chegaram a atingir os -25 durante alguns dias. 

É preciso não pensar. É isso mesmo, é preciso não pensar muito nisto. O país é assim; começa tudo muito cedo e acaba cedo para os standards de vida portugueses. 23 horas na Polónia, mesmo numa cidade grande como Łódź, são ruas maioritariamente desertas ou habitadas por bêbados e transeuntes que procuram apenas um transporte público. É difícil encontrar conforto na ideia que os próximos 5 meses vão ser duros. Podemos tentar dourar a pílula com a ideia da neve lá fora e de podermos estar de t-shirt e calções em casas com aquecimento central ou poder praticar desportos de Inverno. Planear as próximas férias ou ir a Portugal uns dias pode ajudar a não entrar em depressão quando, por exemplo, nos esquecemos de um pacote de toalhetes para limpar o rabo a bebés no carro e no dia seguinte está congelado e duro como um tijolo ou andar constantemente a sacudir neve das botas e a encher tudo de lama suja.

Nesta minha experiência polaca houveram dias tão frios que até a nossa cadela Flora, no seu passeio diário, começava a sentir as patas frias e me apontava em direcção a casa... Não sabia se havia de rir ou de chorar. Um cão cheio de frio, ainda para mais um cão peludo! E já que falamos em cães convém referir que o mijo e a merda dos cães e dos gatos  fica nos montículos de neve o Inverno todo, estilo fóssil e, ainda por cima, em breve as sacanas das gralhas pretas vão aparecer e cortar o silêncio das manhãs com aquele grasnar rouco, como se estivessem a fazer pouco de alguém.









1 comentário:

Fernando Pires disse...

Ainda assim parece que o Inverno puro e duro resolveu chegar um pouco mais tarde. A menina da meteorologia do tvnmeteo não hesitou em afirmar "os dias muito quentes irão continuar". E de facto por estes há algumas cidades a roçar os 20ºC durante o dia o que pelos vistos é uma raridade pela Polónia.