Back to the commies
Um holandês contou-me que um amigo dele (igualmente holandês) esteve uns dias em Łódź e ficou encantado com o que viu. Disse que em determinados locais da cidade sentiu-se nos anos setenta e oitenta. Se por um lado fiquei algo discordante da observação do holandês, por outro acabei por lhe dar alguma razão. A Polónia ainda tem muitos recantos parados no tempo, fazendo-nos sentir saídos de uma qualquer máquina do tempo. Lembrei-me disto hoje mesmo quando ia na avenida principal da cidade de Łódź, a ulica Piotrkowska - também conhecida pelos locais como pietryna.
Em Outubro de 2001 conheci a cidade de Łódź enquanto estudante Erasmus pela Universidade Fernando Pessoa. Nessa altura pouco mais havia que a rua Piotrkowska para ver e para nos entretermos, com excepção da cidade universitária Lumumby - uma verdadeira Sodoma e Gomorra dentro da cidade. A dada altura aluguei com alguns colegas um apartamento grande mas algo manhoso na tal Ulica (rua) Piotrkowska e assim fui conhecendo o ex libris da cidade. Haviam nesses tempos edifícios abandonados e lojas que hoje em dia estão ocupadas com negócios completamente diferentes, alguns edifícios continuam aparentemente abandonados e outros ainda lá estão como por exemplo o Magda que não sei se hei-de definir como um centro comercial, um par de lojas manhosas ou um vestígio do que era considerado moderno e chique durante o Comunismo.
O próprio McDonalds nesse Magda pouco ou quase nada mudou nestes nove anos que passaram
A estação de caminhos de ferro Łódź Fabryczna é outra das cápsulas do tempo que podemos encontrar em Łódź e não fossem os novos comboios e os carros estacionados em frente modernos poderíamos estar a desembarcar em plena PRL (República Popular da Polónia) e sentirmos-nos um verdadeiro Álvaro Cunhal em visita a um dos satélites da URSS. Nessa estação tenho a impressão que um dos relógios na gare está parado tal como estava em 2001 - há quantos anos terá avariado?
A colonização da Polónia pelos ocupantes Nazi durante a II Grande Guerra
Quem conhece a Polónia sabe que a qualquer momento pode "esbarrar "na História, sobretudo no conflito de 1938-1945. Assim foi ontem num trivial passeio com os miúdos ao redor da minha vizinhança. Era para ter escrito sobre isso anteriormente mas faltou oportunidade.
Durante a invasão da Polónia pelo exército Nazi a cidade de Łódź passou a chamar-se de Litzmannstad em homenagem a um general Nazi que tombou aquando da conquista da mesma. Depois de tomarem a cidade - com relativa facilidade - os Nazi precisavam de colonizar com arianos a nova Polónia e a cidade como tal construíram centenas de pequenas casas e aldeamentos onde colocaram famílias inteiras e estabeleceram as bases para os militares que ficariam encarregues dessa zona.
Com a rendição os colonos saíram (não sei violentamente ou "a toque de caixa") e as casas foram ocupadas por famílias polacas. Ainda hoje podemos ver as mesmas, umas inteiras e arranjadinhas, outras mal-amanhadas, outras em ruínas. Quem lá vive não tem muitas posses e acaba por ser irónico que aquelas casinhas e arruamentos, tão bem delineados e pensados, acabariam por ser oferecidos de bandeja aos polacos que os Nazi pretendiam exterminar a médio e longo-prazo.
O ZOO de Łódź
Confesso que sempre me fez confusão o Jardim Zoológico da cidade. Compreendo que uma cidade com quase um milhão de habitantes tenha um jardim zoológico mas um país com um Outono fresco, um Inverno "lixado" (sim era para colocar esse vernáculo em vez de lixado mas a minha mãe lê o blogue), uma Primavera húmida e chuvosa e um Verão salteado de grande calor ou tempestades estilo África Central faz-me espécie.
Um destes dias fui ao Jardim Zoológico. O bilhete para crianças pequenas é gratuito e para adultos fica por 8 PLN (2€). Muito bom! A entrada contudo é bizarra. Não há um mínimo esforço para que seja atractiva, umas barracas velhas e abandonadas com uns dizeres "Consultório do Riso" (pelos vistos os polacos não acharam graça nenhuma" e umas placas indicando as direcções - inclusivamente o local onde podemos ver o novo Opel Meriva - dão-nos as boas vindas.
Revi os macacos (estavam alguns deles à andar a porrada e os outros macacos - os que andam em duas patas - a rirem. Outros ainda estavam de cigarro na mão e sandálias com meia branca), os roedores onde tenho sempre de apreciar a capivara, o mini-zoo onde a criançada pode tocar ovelhas, cabras, porcos, patos e galinhas e dar-lhes de comer, as girafas, o leão velho, os ursos, o tigre (devia estar de greve pois não aparecia), o elefante, os búfalos, aves de todo o tipo e também crocodilos, cobras, salamandras, sapos venenosos, aranhas e muita outra bicharada. Fico sempre a pensar como é que esses bichos atravessam tantos meses de frio gélido e neve.Curiosamente não têm ursos polares e pinguins - esses são os que visitam o jardim zoológico e andam na rua quando as temperaturas descem para baixo dos dez graus.
Os grandes rivais das farmácias e das urgências nos hospitais - as caixas de bêbados e de fumo
Dois negócios florescentes na Polónia. Venda de vícios e detergente para a roupa importados da Alemanha a "preço camarada"
Das primeiras palavras que se aprendem quando se chega à Polónia são o famoso kurwa, papierosy , piwo e wódka. Não é segredo, não é exagero mas todos sabemos que na Europa Central e de Leste se bebe para... lá da conta e que os cigarros são relativamente baratos. Uma tal devoção ao álcool - especialmente no Verão - requer medidas drásticas para o momento em que a luz de reserva acende no cérebro do consumidor, seja ele consumidor de álcool ou de tabaco. Algumas caixas de bêbados e de fumo estão abertas 24/7 e lá vão tendo clientes mesmo que caiam na soleira da porta. Portanto já sabeis. Se forem de emergência a uma caixa de bêbados e de fumo só precisam de pedir - Papierosy, piwo e wódka kurwa!
1 comentário:
Li e gostei.Obrigada pelo cuidado com o calão...Bj
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