Não deixa de ser irónico que uma cidade com o nome de Barco (Łódź) não tenha um rio, um lago ou esteja situada à beira-mar. Łódź, ao longo dos séculos, foi enterrando os seus afluentes debaixo das ruas e avenidas - na fúria da revolução industrial e da era do vapor. A água cristalina que correu em tempos nessa urbe foi progressivamente sendo poluída pela indústria têxtil – Łódź chegou a ser a capital dos têxteis europeus no século XIX – e por centenas de outras fábricas e manufacturas que outrora abundavam na segunda maior cidade da Polónia. Hoje em dia a cidade de Łódź é sobretudo uma cidade dormitório com um centro histórico visivelmente degradado onde, o observador atento, pode vislumbrar o esplendor de muitas kamienica (apartamentos), palácios e residencias dos judeus ricos e dos industriais da cidade.
Quando o calor aperta a cidade pouco tem para oferecer aos seus habitantes além de pequenos lagos artificiais com águas insalubres - nos numerosos parques da cidade - ou então as piscinas e aquaparques disponíveis. A praia propriamente dita fica a mais de 300 quilómetros a Norte, na costa do Báltico, e os lagos da Mazúria a uma distância similar. As alternativas para encontrar areia e água na Voivoda de Łódź são os afluentes do Odra e do Vistula - as margens do Pilica (leia-se Pilitsa) e de outros cursos de água bem como lagos artificiais de albufeiras construidas durante o Comunismo.
No passado fim-de-semana fiz a primeira incursão na albufeira de Sulejów (leia-se Sulei-uv). Sai-se de Łódź em direcção a Sudeste, percorrendo 68 quilómetros em estrada nacional – a droga krajowa 713 – com campos de cultivo a perder de vista entremeados por pequenas aldeias e aglomerados populacionais, cruzamentos inesperados, obras na estrada com semáforos de 10 minutos, passagens de nível aqui e ali e asfalto ondulado com um buraco fundo e visível no ultimo segundo quando já só se ouve o som seco da suspensão e a tremedeira da carroçaria acompanhado, no meu carro, de um porra ou um bom português f... Conduzir na Polónia é uma aventura que requer concentração e estomago. As ultrapassagens, os tractores, os camiões, as razias, os peões na beira da estrada e as bicicletas mais a velocidade excessiva são uma constante.
Um encontro de amigos justificava um saco com kiełbasa, espetadas, pão, tabuleiros em aluminio para churrasco e outros utensilios para virar a carne. Por fim lá chegamos a Sulejów depois da minha teimosia insistir em virar numa direcção oposta ao lago. A praia fluvial fica mesmo ao lado de uma floresta onde um estacionamento provisório, pago a 5 złoty o dia, providencia a sombra necessária aos veículos dos turistas. A água é quente como seria de esperar numa albufeira mas a claridade da mesma é ofuscada por algas que insistem em crescer durante a Primavera e o Verão – no pico do Inverno o lago chega a gelar. Como seria de esperar as polacas em bikini contribuem para o enriquecimento do local…
Em Sulejów podem-se praticar desportos nauticos como windsurf e vela e há possibilidades de alugar uma gaivota ou mesmo um pequeno barco.
Chegada a hora do churrasco e num ambiente multicultural que parecia atrair as atenções dos polacos lá se montou o grelhador Made in China de 13 złoty, abriu-se o saco de carvão e fez-se fogo. Soube bem o churrasco apesar da minha restrição de poder beber apenas uma cerveja gelada. Há locais mais ou menos apropriados para se fazer o churrasco e são estas pequenas coisas simples que fazem momentos para mais tarde recordar. Os miúdos gostaram apesar de ainda não se aperceberem que no país do pai há praias deslumbrantes onde o Atlântico mostra o seu vigor e reflecte um azul que neste lados parece sempre mais pálido.
2 comentários:
A nível de estradas, não tarda Portugal vai voltar a ser assim, já que todas as SCUT vão passar a chamar-se SCUTOC ( Sem Custo para o UTilizador O Cara***)...
No meu caso, o trajecto de 60km entre Castelo Branco e Covilhã será taxado, na A23, em aproximadamente 4€... Escusado será dizer que se retrocederá 20 anos para voltar a circular nas mal tratadas nacionais!
O que escreves no post mostra o que passei ontem a caminho de Kutno sem tirar nem por. Passei por Lodz etc e tal... mas a caminho de Kutno aglomerados aqui e ali fazem-me pensar um pouco no meu Alentejo. Mas nao sei porque nao iria conseguir viver assim na Polonia por causa e sobretudo da lingua. E porque me enganei numa saida de uma qualquer via rapida, se assim poderei chamar, meti-me em trabalhos. Exactamente esses 10 minutos de espera em estradas em construcaos sao realmente de fazer perder a paciencia a qualquer um.
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