quinta-feira, 15 de julho de 2010

Os pobres de espírito

A cruz é a primeira letra do alfabeto de Deus (brochura do Comité de Protecção da Cruz do Palácio Presidencial)

Fotografia Filip Klimaszewski - Agencja Gazeta

No rescaldo do acidente com o avião presidencial polaco, a 10 de Abril, a onda de comoção que varreu a Polónia deixou as suas marcas um pouco por todo o lado. As manifestações de solidariedade com as vitimas e o momento histórico avivaram feridas antigas e despertaram a fé e manifestações espontâneas da maioria dos polacos, um país católico e eminentemente conservador no seio da União Europeia.

Poucos dias haviam passado sobre a tragédia quando um grupo de escoteiros colocou uma cruz de madeira em frente do Palácio Presidencial em Varsóvia, mesmo por baixo do pedestal da estátua equestre do principe polaco Jozef Poniatowski. A cruz ali tem estado, rodeada de ramos de flores e mensagens de condolências. Após a recente eleição de Komorowski foi sugerido que a cruz deveria ser “removida para local apropriado”. Foi aqui que caiu o Carmo e a Trindade para o sector conservador católico, por vezes extremista, da Polónia. Como é possivel que Komorowski se atreva a sugerir a remoção da cruz?


Fotografia Filip Klimaszewski - Agencja Gazeta

Alimentado pelo combustivel altamente inflamável da Radio Maria e dos media do padre Rydzyk uma vasta mole de mui beatos polacos prontificou-se a guardar, noite e dia, a dita cruz deixando o novo executivo com a delicada tarefa de não entrar em guerra aberta com os beatos e beatas.  Umas cadeiras de praia improvisadas e um guarda-sol são a imagem de marca da Komitetu Ochrony Krzyża pod Pałacem Prezydenckim ou seja, o Comité de Protecção da Cruz do Palácio Presidencial. Dizia uma senhora religiosa, certamente um exemplo de virtude e cristandade, que "andam por aqui a escutar-nos os judeus da Gazeta Wyborcza. Pintam os cabelos de loiro para não os reconhecermos. Falam em lingua estrangeira. Sempre os reconheço pelos seus narizes grandes e os seus olhos que destilam ódio". Conclui dizendo que reconhece a jornalista como sendo uma eslava.

Tu przychodzą podsłuchiwać Żydzi z "Gazety Wyborczej". Farbują się na blond dla niepoznaki. Mówią w obcych językach. Ja ich zawsze bezbłędnie rozpoznam po dużym garbatym nosie i nienawiści w oczach. Po tobie to widać, że jesteś rasową Słowianką.
http://wyborcza.pl/1,75478,8139133,To_juz_jest_wojna_pod_krzyzem.html#ixzz0tl1szZgg

Esta é parte da Polónia que defende os bons costumes e os valores de família, parte da Polónia que votou em Kaczyński e que se mostra xenófoba e racista. Que Deus lhes perdoe...

5 comentários:

Geraldo Geraldes disse...

Essa parte da Polónia já existe desde há séculos, e pese embora a tendência seja para diminuir um pouco, permanecerá forte.
Ps: Chiça, o que essa velhota dirá de um tuga típico?? Algo como: "agora até exóticos latinos com as nossas filhas eslavas temos de aturar!"?

Ricardo disse...

O Comunismo ter reprimido a fé católica e a eleição de Karol Wojtyła para Papa foi o suficiente para tornar este país um dos arautos da ICAR. Depois de ler o artigo da Gazeta Wyborcza prefiro nem pensar no que os reaccionários pensam dos portugueses. Tendo em conta que um polaco chegou a pensar que eu podia ser paquistanês ou árabe (tenho mesmo cara de Laden) então devem-nos ver como uns sarracenos que deveriam ser convertidos na fé católica sob pena de serem queimados num qualquer auto-de-fé na Praça Zygmunt em Varsóvia.

PM Misha disse...

Deixa o inverno chegar, logo vês se as cotas não se borrifam para a cruz.

Geraldo, a culpa de terem filhas eslavas a copular com exóticos latinos não é nossa. Se os filhos eslavos fossem competentes isso não acontecia q:)

Geraldo Geraldes disse...

Caro Misha, fugindo um pouco ao tópico, não há nada pior do que cuspir no prato. Então se os filhos eslavos não fossem competentes, como é que continuam a ser criadas tantas eslavas jeitosinhas??? Portanto, a minha vénia aos filhos eslavos pelo bom trabalho realizado, e por não serem egoistas.
Ricardo, a força da fé católica como ânimo para a resistência da Polónia está para além dos tempos do comunismo. Por exemplo, durante os 123 anos das partições, o catolicismo foi fundamental para a sobrevivência cultural do povo.
Ps: E não me parece que o comunismo tenha reprimido a fé católica. Pelo contrário, apenas deu mais força para as pessoas se unirem em torno disso. Tentou reprimir é certo, mas sem nenhum sucesso, que o polaco é um bicho teimoso, teimoso!

Zé da Bola disse...

Epa... com o tempo que sabemos que faz nesta parte da Europa no Inverno e o calor que está agora eu pergunto: Onde é que os pais vão buscar inspiração para fazer meninas tão esbeltas que me embebedam os olhos e a alma? Como não há bela sem senão eles têm essas ideias que todos vamos sabendo...