Happiness is only real when shared
(A felicidade só é real quando partilhada)
Christopher McCandless
Christopher McCandless, um jovem americano de 23 anos, morreu de fome no Alaska em Agosto de 1992. O seu corpo em decomposição foi encontrado dentro de um autocarro abandonado que servia de refúgio aos caçadores de alces e patos que, durante o Verão, se entretêm a abater animais na imensidão hinóspita da dita “última fronteira”. Chris, também conhecido como Alexander Supertramp acabou os seus estudos em Antropologia e História e partiu para Norte ao volante de um velho Datsun Sunny - os 23.000 dólares que tinha numa conta, para usar na continuação dos seus estudos, foram dados à caridade.
Depois de abandonar o carro no deserto e queimar o dinheiro que tinha com ele andou à boleia pelos EUA, foi até ao México de canoa, foi trabalhador braçal em silos de cereais, virou hamburgueres em McDonald’s e optou por ser vagabundo. Chris queria estar longe da civilização, do dinheiro, das pessoas. A sua aventura acabou trágicamente quatro meses depois de ter desaparecido na taiga. A sua história tornou-se conhecida com o livro e filme Into The Wild (O Lado Selvagem) e impressionou-me.
O último auto-retrato de Cristopher Maccandless junto ao "magic bus" número 142 onde viria a falecer
Tenho algo de McCandless em mim sobretudo a inquietude na alma e aquela vontade de deixar tudo para trás e pensar apenas no presente, faltou-me a coragem a dada altura da minha vida – sobretudo na adolescência. Quando era miúdo quantas vezes não me sentei no tanque de lavar a roupa na varanda da cozinha lá em Famalicão, sentado naquele velho tanque de cimento, com os pés no muro da varanda, a contemplar o horizonte e pensando que deveria viajar, ver o que estava para além dos montes ao redor, em frente à praia de Vila do Conde - a imaginar que em linha recta, a milhares de quilómetros, estaria porventura Nova Iorque ou Boston.
Passaram muitos anos desde esses dias. O tanque acabou por ser destruído para termos mais espaço na varanda, os montes ao redor foram sistematicamente incendiados e passaram a ser uma amostra daquilo que eram. Vila Nova de Famalicão passou de uma pequena e pacata vila minhota a cidade com tudo o que tem de bom e de mau. Em 1994 acabei finalmente o liceu e, como a maior parte dos meus colegas, fui para a universidade onde estive numa espécie de limbo até 2001. O Alexander Supertramp em mim ecoava e batia violentamente no meu peito, preso durante anos a fio queria liberdade e uma oportunidade.
Passaram muitos anos desde esses dias. O tanque acabou por ser destruído para termos mais espaço na varanda, os montes ao redor foram sistematicamente incendiados e passaram a ser uma amostra daquilo que eram. Vila Nova de Famalicão passou de uma pequena e pacata vila minhota a cidade com tudo o que tem de bom e de mau. Em 1994 acabei finalmente o liceu e, como a maior parte dos meus colegas, fui para a universidade onde estive numa espécie de limbo até 2001. O Alexander Supertramp em mim ecoava e batia violentamente no meu peito, preso durante anos a fio queria liberdade e uma oportunidade.
Na Primavera de 2001, estava no Porto dentro de um carro e via um aluno do ISEP a beijar uma estudante Erasmus no relvado junto ao parque de estacionamento de Química. Quando me apercebi o Alexander estava no banco do passageiro, ao meu lado, primeiro a sorrir e por fim a dar gargalhadas. Quase que instantaneamente comecei a dar conta do local onde estava, do exacto momento em que me encontrava, do ridículo que era estar dentro de um carro que pertencia a uma namorada que já nao me dizia nada, numa universidade que nem sequer era a minha, rodeado de gente que igualmente não me dizia nada. Nesse dia regressaram a Famalicão três pessoas naquele Ford Escort – eu, a ex-namorada e, no banco de trás, o Alexander.
Só eu o via, com a sua mochila, com a sua camisa aos quadrados, a sorrir para mim e a dizer-me que a partir dali algo ia mudar. Nesse dia decidi que ia fazer um Erasmus, não sabia bem aonde, quando e com que dinheiro mas teria de ir, nada me poderia impedir – isso era um dado adquirido. Tinha ouvido falar da Polónia, de uma cidade chamada Lodz, de Roma e também da Grécia. Transversal a todos os destinos e universidades eram as histórias de borgas, álcool, sexo, "ganzas", riso, diferenças culturais e nunca mais ver a vida da mesma maneira. Comecei a ficar obcecado com a ideia e acabei por puxar um amigo para a aventura. Fomos praticamente recambiados para a Polónia, não queriamos Roma nem a Grécia. A aventura só fazia sentido num país desconhecido, do qual nada sabia com excepcção do facto que as mulheres eram o mais atractivo por aquelas paragens. Esse cartaz turístico parecia-me animador…
A Polónia foi apenas o prelúdio. Viajei pela Europa, estive no Egipto, na China, na Tailândia, do ar vi o plateau do Tibete, a India, o Paquistão, a Rússia, a Ucrânia… Há tanta terra para conhecer! Agora estou a viver na Polónia há mais de seis anos, a rotina invariavelmente aparece, o carro é outro e quando olho pelo espelho no banco de trás estão duas cadeiras de criança mas, no entanto, vejo por vezes o Alexander de polegar no ar a pedir boleia na estrada, um dia destes vou parar…
8 comentários:
Muito bom, este post. Não posso deixar de sorrir depois de o ler.
Desde logo pela referência à minha terra natal, Vila do Conde, se bem que o meu percurso tenha sido um pouco diferente.
Embora não tenha feito Erasmus, depois de terminar o curso comecei a ter mais vontade de me pôr a andar, e já vivi em três países desde que o fiz. O próximo poderá muito bem ser a Polónia, já que entretanto me liguei afectivamente a uma das suas cidadãs. :)
Uma outra coicidência que me faz sorrir ao ler este post é efectivamente o impacto que esta história teve em mim. Depois de ver o filme algumas vezes e de ter ouvido ainda mais vezes a sua banda sonora acabei, há uma semana, de ler o livro que lhe deu origem.
Há realmente algo que me puxa para o desconhecido, mas sempre o fiz de uma forma muito menos aventureira do que McCandless. De qualquer forma, estou certo de que não ficarei por aqui. :)
Abraço, e continuação de bons posts! :)
Obrigado MrRogers. Espero que continues a encontrar o Alexander nessa estrada da vida.
Tenho um grande afecto por Vila do Conde e pelos momentos que passei nessa cidade.
ab
Lindo, Ricardo!!!
Agora quero ver o filme...
Bjns
Ines PL
Muito bom post Ricardo sigo o teu blog a algum tempo depois de encontrar no Fórum da Autohoje um maluco que decidiu viver na Polónia ;)
«O Sonho comanda a vida»....
Escreves muito bem e vou conhecendo aquela parte do teu Ser tão íntima onde, nunca consegui chegar.
Vejo-te emocionada sentado naquele tanque da varanda de olhar perdido no horizonte,não te adivinhando os pensamentos....BJ
@ Inês: Lê primeiro o livro e depois vê o filme. Vais gostar.
Kauskas: Obrigado. Quem és no fórum AHO?
Anónima: Sei muito bem que és, conheces-me de ginjeira. Bons tempos não é? Tudo era mais fácil e simples.
eu vi o filme e gostei muito aho a historia muio imocionante e vou ve outra vez!!!
Você tem sede de algo. Não me surpreenderia se fosse do infinito. Porque não passa algum tempo em uma trapa? Errar pelo mundo é sinônimo de busca para algo na alma. Geralmente o que queremos está dentro de nós.
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