domingo, 18 de abril de 2010

Polónia - Tempo de olhar em frente

Termina hoje a semana de luto. A cerimónia fúnebre de Lech Kaczyński e da primeira-dama decorreu sem incidentes, com uma mole de gente em Cracóvia num derradeiro adeus ao presidente da III República da Polónia; no entanto a colossal pluma do vulcão islandês (de nome impronunciável) alterou os planos e as expectativas de muitos chefes-de-estado que, à ultima da hora, declinaram o convite ficando nos seus países alegando que o espaço aéreo europeu - com excepção dos países da Europa do Sul - estará fechado à aviação.

Foto in Publico Online - Wojciech Surdzie/Reuters

Barack Obama, Sarkozy, Angela Merkel, Durão Barroso, Príncipe Carlos, Rei D. Juan Carlos e a rainha de Espanha, José Zapatero o secretário-geral da OTAN, Cardeal Ângelo Sodano (representando o estado do Vaticano) entre outros não estiveram na cerimónia. No entanto o presidente da Federação Russa Medvedev fez questão em estar presente tal como a ex-primeira-ministro da Ucrânia Yulia Tymoshenko - conhecida pela sua beleza e o seu bizarro penteado com tranças. Uma infeliz coincidência o facto do mundo ocidental e os aliados estarem ausentes tal como estiveram ausentes durante parte da II Guerra Mundial, durante a ocupação da Polónia pelas tropas do III Reich e posteriormente pela URSS no infame pacto Ribentrop-Molotov. Sem se verem como o fizeram durante o holocausto e posteriormente no regime totalitário pró-soviético.

Foto in: site da Presidencia da República Portuguesa

Ninguém sabe ao certo os motivos mas o presidente da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva e a primeira-dama, Maria Cavaco Silva, estiveram a escassos 300 quilómetros de Cracóvia e do Castelo de Wawel mas a comitiva portuguesa não se fez à estrada partindo ao invés para Estrasburgo. Contudo o livro de condolências foi assinado por o casal presidencial português na embaixada da Polónia em Lisboa e fizeram-se dois minutos de silêncio em Praga como homenagem ao presidente polaco e às vítimas do fatido acidente.

Durante o conflito de 1938-1945 a Polónia esteve ocupada e só depois, em plena Cortina-de-Ferro, tiveram lugar manifestações de patriotismo relembrando os que caíram heroicamente pela pátria. Durante o Comunismo a Igreja Católica esteve sempre presente mas com 'rédea curta' em virtude do sistema e do ideal socialista.  Hoje numa Polónia democrática, de mercado-livre, membro da OTAN e da UE, o funeral de Kaczyński foi também uma prova do poder que a Igreja de Roma exerce em grande parte dos polacos e da Polónia. Os Kaczyński eram católicos devotos e o seu funeral expressa a fé dos polacos na religião católica  - em todo o seu esplendor - sem censura, sem vigilancia, sem medo ao contrário de outros momentos dramáticos na História recente como as mortes dos trabalhadores dos estaleiros de Gdańsk durante as manifestações do Solidarność ou o assassinato brutal do padre Jerzy Popiełusku pela 'PIDE' Comunista - Służba Bezpieczeństwa .

Os restos mortais de Lech e Maria Kaczyńska ficam numa cripta no Castelo Real de Wawel ao lado do General Piłsudskiego. O túmulo foi feito em alabastro - não em mármore de Carrara como se especulou - e apenas constam os seus nomes.

Lech Wałęsa aparece fugazmente neste momento histórico. Incompatibilizado desde longa data com Lech Kaczyński e com a sua colega Anna Walentynowicz, do Sindicato Livre Solidariedade, mostra-se combalido e discreto. Diz que perdoa os mal-entendidos mas que se sente infeliz por saber que nunca mais poderá haver um entendimento de parte a parte.

A Polónia levanta-se de novo, sacode o pó das roupas e caminha olhando em frente, como já o fez tantas vezes ao longo da sua dolorosa História.








3 comentários:

Ryan disse...

Sim já é hora de voltar ao normal. Já se pode ver os sites polacos ao vivo e a cores.
Quanto ao Solidariedade acho toda a confusao algo normal no mundo da política. Em Portugal aconteceu o mesmo no pós 25 de Abril por isso nao me admira.
Polónia tem de olhar em frente e quanto a mim evitar que o irmao do falecido Presidente tome as rédeas da Presidencia. Acho que se estiveram mal depois iriam ficar pior.

PM Misha disse...

de certeza que o jarosław se vai candidatar e de certeza que vai ganhar.
vamos ter um problema maior.

José Filipe Sepúlveda da Fonseca disse...

Felicito-o pela análise, e concordo plenamente com a referência que fez à atitude de alguns Chefes de Estado, entre eles, o Prof. Cavaco Silva, que inexplicavelmente não marcaram presença nas cerimónias oficiais pela morte de um seu homólogo polaco e homem de fortes convicções.

É caso para dizer, que mesmo após a morte de Lech Kaczynski, a memória do seu percurso político, assente em princípios e valores morais, continua a incomodar muitos políticos europeus.

A Europa precisava de vários Chefes de Estado como Lech Kaczynski, determinados em defender, acima de tudo, os interesses de uma verdadeira europa das Nações.