quarta-feira, 24 de março de 2010

A Leste do paraiso



A enfermeira polaca Pologne, je t'attends (Polónia - Cá te espero). Brilhante campanha publicitária ao turismo polaco usando os receios de uma invasão de emigrantes polacos depois da adesão da Polónia - invasão essa que nunca ocorreu.

No fórum da comunidade portuguesa na Polónia foi colocado um tópico com uma hiperligação para um interessante artigo sobre a Polónia - da autoria de João Marques de Almeida no 'Económico' em Sapo.pt.

Até há bem pouco tempo a Polónia era um ilustre desconhecido para a esmagadora maioria dos portugueses. Não quer dizer que, de um momento para o outro, passou a ser um país conhecido ou 'da moda' onde se podem passar férias em águas cálidas ou onde existem monumentos das civilizações antigas. A Polónia tornou-se mais visível a partir da adesão à UE em 2004 e também pela expansão de empresas portuguesas na dita 'Europa de Leste' a par com os milhares de estudantes Erasmus que já aqui estiveram e encontram-se nestas paragens.

Portugal, um país em crise, com uma dita 'manta de retalhos empresarial', com 23 anos de presenca na UE tem na Polónia motivos de orgulho pelos investimentos bem-sucedidos e expansão de negócios, alguns bem conhecidos como a cadeia de supermercado Biedronka do grupo Jerónimo Martins, o Millenium Bank entre outros.


O picheleiro polaco que nunca invadiu a França nem atacou as francesas. Escusado será dizer que exemplares de polaco como este nunca vi por estes lados...

Durante décadas Portugal e Polónia foram países com as costas viradas um para o outro. Um carregou o fardo de uma ditadura e outro o fardo do totalitarismo soviético no pós-guerra. Dois mundos diferentes que tem em comum o catolicismo e o culto mariano. O facto é que a Polónia tem e terá mais peso na UE do que Portugal, não só pela sua população de 40 milhões de almas mas também pelo facto de estar 'entalada' entre a Europa Ocidental e a Europa de Leste onde mantêm uma relação de proximidade (por vezes com um certo tom paternalista) com a Bielorrússia, Lituânia e a Ucrânia e o conhecido braço de ferro com a Federação Russa.

Posto isto fica o artigo de José Marques de Almeida:


A Alemanha, a França e o Reino Unido são, obviamente, muito influentes. Nem sempre se entendem, mas quando o conseguem, lideram praticamente sem resistência. A Itália tem fortes tradições europeístas, considera-se igual aos “três grandes”, mas os outros discordam.


A Espanha ambiciona tornar-se um "grande", mas a crise económica não ajuda. Por razões históricas, a Holanda e a Bélgica conseguem influenciar, por vezes, o curso da integração europeia. A Suécia tem uma influência política superior ao seu peso demográfico. E, depois, há a Polónia. Tem, desde logo, a economia que mais cresceu na Europa nos dois últimos anos, o que a torna um exemplo para todos os outros.


Para o bem e para o mal, a Polónia já era importante na política do velho continente, antes de ser membro da União Europeia. A Segunda Guerra Mundial começou na Polónia. Foi a propósito da Polónia que todos perceberam o desígnio imperialista de Estaline na Europa Central, em 1945. E foi na Polónia que o império soviético iniciou a sua queda, com o Solidariedade, no início da década de 1980. Como se fosse impossível contar a história europeia da segunda metade do século XX sem encontrarmos, a cada viragem importante, a Polónia.


Agora, na União Europeia, a sua influência política e diplomática aumentou consideravelmente. A Polónia é um dos Estados-membros com maior capacidade para formar alianças e coligações. Prossegue o que se poderia chamar uma estratégia de círculos de coligações. O grupo Visegrado, composto pela Polónia, pela República Checa, pela Hungria e pela Eslováquia, constitui o círculo mais imediato. Partilham interesses e objectivos, encontram-se com frequência e definem estratégias comuns. Mais importante, de acordo com as regras do Tratado de Lisboa, o grupo terá tantos votos como a Alemanha e a França juntas.


O segundo círculo é formado pelas Repúblicas Bálticas, onde a Polónia conta muito, e pela Bulgária e a Roménia, muitas vezes associadas ao grupo Visegrado. O peso da Polónia entre os novos Estados-membros estende a sua influência a outros países. Varsóvia tende, por exemplo, a estabelecer boas relações com países como a Suécia e a Irlanda. Consegue tudo isto, e simultaneamente, construir interesses comuns com os três grandes. Com a França, partilha posições em relação à Política Agrícola Comum, à defesa e ao orçamento. Com o Reino Unido, olha de um modo idêntico para o alargamento à Turquia, para a prioridade da relação com os Estados Unidos, e por fim comunga da mesma desconfiança em relação às estratégias de poder do eixo Berlim-Paris. Com a Alemanha, é o país com quem partilha relações económicas mais fortes e são ambos grandes defensores de uma relação próxima da União Europeia com a Ucrânia.


Resistindo à tentação de ser o "mais pequeno dos grandes", e decidindo ser o "maior dos médios e pequenos", a Polónia tornou-se no quarto Estado-membro com mais influência na União.

João Marques de Almeida, Professor universitário

1 comentário:

Geraldo Geraldes disse...

Num futuro não tão distante assim, talvez até a Polónia se possa tornar o 4º mais influente país da UE. Actualmente discordo que o seja. E mais forte sinal de que não é, é o facto do presidente do parlamento europeu ser polaco.
Como as evidências demonstram, só estão nesses cargos de "topo" pessoas de países menores (Portugal, Bélgica) sendo o RU a excepção mas colocou lá uma senhora na diplomacia sem experiência diplomática.
Uma coisa são as aparências, as reuniões, as formalidades. Outra são as evidências. E era só o que faltava era países recém chegados à UE aspirarem a mandar mais que França e Alemanha. O Joãozinho ainda deve acreditar no Pai Natal...