domingo, 10 de janeiro de 2010

Inverno na Polónia



Tempos houve  - num país solarengo da Europa do Sul - em que os meus carros estavam sempre limpos, por dentro e por fora, tempos que passava uma tarde de Domingo a lavar, aspirar, limpar, encerar, secar e inclusivamente a colocar abrilhantador nos pneus para ficar com aquele aspecto de "saído do stand". Era um verdadeiro microcas. Agora? O que dizer quando temos estalactites na matrícula e no pára-choques? Já estou como dizia o meu tio Jorge "Não lavo carros! A chuva lava-os..." 

Quando as condições climatéricas na Polónia causam a paralisia de meios de transporte, de estradas, auto-estradas e os acidentes de viação se multiplicam algo está muito mal neste país. Assim tem sido nestes últimos dias com a queda de neve e a chuva gelada que se agarra aos vidros e carroçaria dos carros formando um invólucro de gelo com alguns milímetros de espessura que só a muito custo conseguimos remover.

O meu carro "dorme" na rua, não tenho garagem como em Portugal. Está sujeito às agruras dos Invernos polacos como a queda de neve e formação de gelo, às Primaveras polacas com as trovoadas, a chuva a cântaros e a lama nas ruas, aos Verões por vezes escaldantes e Outonos com alguma humidade e geada. Não tem vida fácil.


A escova para sacudir neve e o raspador de gelo são ferramentas essenciais para quem conduz nos Invernos polacos e devem estar sempre à mão de semear. 

Tal como o Rui Vilela descreveu no seu blogue os automóveis andam constantemente a patinar e a atravessarem-se nas estradas e cruzamentos. Se temos um carro com tracção dianteira sentimos claramente o eixo dianteiro a alargar as trajectórias e em carros com transmissão nas rodas traseiras não dá para evitar algum bailado da traseira. Nestas alturas o ideal mesmo são veículos com transmissão às quatro rodas, um jipe ou, em ultima instância, ficar em casa.

Ontem e hoje demorei mais de meia-hora a arrancar gelo dos vidros e só a muito custo consegui finalmente sair do lugar de estacionamento com um patinar constante dos pneus e muita neve a ser levantada. A pá que estava na cave foi trazida para cima e metida no carro, para abrir caminho se a neve bloquear a passagem, e alguns vizinhos lá vão dizendo ao desgraçado do português (que não se habitua a isto) para colocar o aquecimento no máximo projectando a lufada de ar quente em direcção ao pára-brisas - o que faz com que o gelo devagarinho descole e saia em pedaços (como num frigorífico quando se descongela).



 Os tapetes que devem sempre ser em borracha estão constantemente molhados e se as temperaturas descem para os -3 ou mais essa água congela totalmente. Na bagageira uma garrafa de água esquecida está totalmente congelada tal como a embalagem de toalhinhas do bebé que só se pode comparar a um tijolo. Abrir as portas requer esforço pois as borrachas estão coladas com um fino filme de gelo e de manhã quer o pedal de embraiagem quer a alavanca das velocidades estão duras de manusear. As janelas não abrem pois congelaram e não vale a pena estar a esforçar o motor eléctrico para as abrir. A temperatura do motor mantém-se sempre baixa mesmo quando rolamos em trânsito citadino durante algum tempo. Travar requer a previsão do que vai acontecer na frente e nem pensar em arrancar rapidamente pois o mais certo é ter de passarmos para segunda e terceira pois em primeira o carro não vai sair do sitio.




Vivendas e apartamentos

Dois mundos diferentes. No meu caso (um apartamento) tenho a vida facilitada em inúmeros aspectos; desde a limpeza de caminhos e passeios comunais ser feita pelo condomínio e serviços de limpeza da administração da vizinhança até ao conforto do aquecimento central que me permite, por exemplo, estar a escrever estas linhas em t-shirt e chinelos estando lá fora -1 e neve que Deus a dá. As janelas são em PVC com vidro duplo o que isola o ruído exterior e proporciona mais rendimento no aquecimento mas também provoca um ambiento seco que pode ser amenizado com a colocação de uns potes de água nos aquecedores ou usando um humidificador.

Quem vive em vivendas, moradias, zonas periféricas ou isoladas tem dias de grande preocupação e ansiedade por imensos factores. Os caminhos e as entradas/saídas de garagens devem ser limpos pelo proprietário o que em muitos casos requer muitas horas de trabalho a cavar neve para no dia seguinte (se nevar) estar quase tudo igual ao que estava. Por vezes há quem fique isolado durante dias.

O aquecimento é uma das maiores despesas para casas particulares; na montagem e na manutenção - quando não há possibilidades de ligar ao sistema de aquecimento da cidade (elektrociepłownia). Gasóleo de aquecimento, lenha, carvão, gás, electricidade são alguns dos sistemas usados e dispendiosos - amiúde há quem compre uma tonelada de carvão para aquecimento ou tenha despesas com aquecimento que podem chegar sem grandes problemas aos 1000PLN (aproximadamente 240€) mês.

Fevereiro é o mês mais gelado do ano na Polónia. Espero que este ano não seja muito agressivo. A Primavera ainda está longe e só daqui a um mês ou dois estarei mesmo no limite da paciência no que diz respeito a Inverno - até lá aguenta-te!



Quem diria que neste monte de neve estaria escondido (ou talvez abrigado) um Maluch?

 


 






1 comentário:

Geraldo Geraldes disse...

Não há respeito pelo Maluch! Parece que um camião da neve largou basculou neve para cima do dito.