A Polónia talvez seja um dos últimos redutos da Igreja Católica Apostólica Romana na Europa. Fala-se de crise na Igreja, de um crescente número de (ditos) católicos não-praticantes (algo que me custa a entender - alguém conhece, por exemplo, um futebolista não praticante ou um polícia não praticante?) e também de igrejas vazias, de um número crescente de ateus e agnósticos por toda a Europa.
Na Polónia não se sente isso. As igrejas estão sempre cheias e os polacos vivem, na sua maioria, a crença em Deus e em Jesus Cristo, como Seu filho primogénito, com fervor e fé. Nossa Senhora é a Maria Królowa Polska (a rainha da Polónia) e também neste país - tal como em Portugal - goza de uma grande devoção e inúmeros templos dedicados a ela.
Prova da importância da religião Católica na vida dos polacos são, por exemplo, os imensos casamentos entre estrangeiros e cidadãs polacas serem na sua esmagadora maioria feitos numa igreja, perante um padre e, regra geral, com a necessidade do noivo ter os sacramentos necessários e documentação que prove o baptizado, a comunhão e a confissão a par do curso de formação, dado aos nubentes, pela Igreja para o casamento, vida em família dentro da tradição católica e métodos de contracepção.
Prova da importância da religião Católica na vida dos polacos são, por exemplo, os imensos casamentos entre estrangeiros e cidadãs polacas serem na sua esmagadora maioria feitos numa igreja, perante um padre e, regra geral, com a necessidade do noivo ter os sacramentos necessários e documentação que prove o baptizado, a comunhão e a confissão a par do curso de formação, dado aos nubentes, pela Igreja para o casamento, vida em família dentro da tradição católica e métodos de contracepção.
Querer "fugir" da influência da Igreja neste país é praticamente impossível e tarefa ingrata. Para alguém como eu - que se pode rotular como agnóstico - essa questão não se põe. Quando decidimos vir para a Polónia sabíamos que íamos viver com a sogra, ela está connosco e muito nos tem ajudado ao longo deste anos, não somos pessoas para abandonar os velhos quando eles mais precisam de nós. A minha sogra é católica devota e como tal cumpre com as tradições da Igreja como ir à missa aos domingos, rezar o terço, comungar e confessar-se. Coexistem dois mundos nesta casa e como tal não podemos, por uma questão de respeito, dizer não a certas tradições polacas como, por exemplo, a kolęda (visita pascal) que se efectua normalmente em Janeiro. Ontem estava agendada a kolęda para a zona onde moramos; um ou vários padres têm a árdua tarefa de calcorrear as labirínticas ruas entre prédios e subir e descer vezes sem conta vãos de escadas sem elevador.
Basicamente o padre vai abençoar a casa e a família para o novo ano, rezar um Pai Nosso e salpicar de água benta os fiéis ao que se segue uma conversa que pode ser mais ou menos longa e acaba quase sempre na oferta de dinheiro para a Igreja e também para o padre (se a aceitar). Como no ano passado a conversa descambou para uma discussão (civilizada e relativamente descontraída) sobre o porquê de não irmos à missa, não nos termos casado pela Igreja e não termos baptizado os filhos, este ano o padre (o mesmo que o ano passado) já sabia que não haveriam mudanças de opinião e não houve espaço para debate, tudo feito com grande respeito apesar de se notar alguma ansiedade no religioso - um jovem polaco de cabelos loiros e olhos azuis - a dada altura com a mão pousada na mesa a abanar e a nossa contenção nas palavras medindo cada uma delas. O ataque de choro do nosso filho -bebé de colo- ao ver o padre deu-me uma enorme vontade de me rir mas consegui manter a postura de modo a que a cerimónia prosseguisse e o padre anotasse num caderno os apontamentos relativos à família.
Obviamente que para a minha sogra estes momentos revestem-se de uma grande alegria mas também de grande tristeza por não serem partilhados; ela não consegue esconder um misto de tristeza e talvez alguma vergonha por não haver um consenso no que diz respeito a religião e ao modo como cada um interpreta Deus. Duvido que não me tivesse casado pela Igreja se isso fosse para a minha mulher um motivo suficiente para lhe causar transtornos ou conflitos com a família mas isso não aconteceu - como já escrevi noutras ocasiões.
Curiosamente temos pessoas religiosas na família; pela parte que me toca temos um Bispo Auxiliar no Porto e do lado dela uma Madre Superiora mas se do meu lado não houveram comentários e o contacto cessou, de alguns anos a esta parte, do lado dela houveram sinais de descontentamento e grande tristeza pelo nosso afastamento da Igreja. Não posso contudo deixar de louvar o lado da Igreja de Roma que me fascina e do qual tenho grande respeito - as pessoas e sua fé - a fé genuína, a boa aventurança, o amor ao próximo e a compaixão. Aquele padre independentemente das suas convicções serem diferentes das minhas calcorreou horas a fio ruas geladas, vãos de escadas cansativos, desabafos, conversas de todo o tipo e com toda a certeza não pode recusar ofertas insistentes de comida ou de um chá - algo tipicamente polaco e que todos os portugueses que conhecem a Polónia e os polacos sabem - kawa czy herbata? (café ou chá?)
E assim foi a kolęda este ano. O padre foi breve, perguntou-me se tinha obtido progressos na aprendizagem da língua polaca, quantos idiomas falo, se os meninos já obtiveram os sacramentos e depois de anotar tudo no tal caderninho convidou-nos muito educadamente a irmos um dia qualquer deste ou do próximo mês à igreja para celebrar algo relacionado com uma celebração Mariana; deixou-nos como oferta um postal com a imagem da Nossa Senhora de Częstochowa (a virgem negra) e um calendário da paróquia de Bałuty.
Dziękujemy.
5 comentários:
É melhor escreveres ´koleda´ :)
Um blogue interessante, vou voltar. Aga
Muito obrigado Aga! Espero que continues a visitar o meu blogue e a escrever tão bem o idioma português!
Já corrigi a minha "głupota". Dziękuję!
Olá Ricardo, sou católico dos tais "não praticantes" lol para mim igreja? Só em Casamentos e Baptizados... posso dizer que cresci numa família católica mas também não praticante, Já a família da minha namorada é como esses ditos 98% de polacos católicos.
E com isso já tive a oportunidade de presenciar algumas das tradições polacas, tal como essa visita do padre após o Natal e também quando o padre mais uma vez passa na Páscoa abençoa e escreve a data da sua passagem na ombreira da porta com giz, e na tradição da "missa do Galo" à 00.00 da noite de 24 para 25, e a constante ida à missa mesmo durante a semana.
Da parte da minha namorada só a avó é mais apegada aos costumes e a ida à missa diária etc... já a minha namorada o irmão e a mãe nem por isso, talvez mais o pai.
Mas já não terei esse problema caso eu lá esteja numa próxima visita do padre, talvez a pergunta seja o porquê de não ter o ultimo sacramento antes do casamento lol
E quanto é que o padre levou no envelope que a tua sogra lhe deu?
Abraço João.
Paulo
Nem me dei ao trabalho de perguntar. Não sai do meu bolso não quero saber mas não deve ter sido nada de extraordinário.
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