Se me permitem gostaria de clarificar o motivo pelo qual este espaço de escrita tem vindo, ao longo dos últimos anos, a ser menos atualizado e, como podem constatar, passou a ser praticamente anual.
Este "Um português na Polónia" conta já com mais de 20 anos de história (e de estórias) em terras polacas. Apesar de conhecer a Polónia desde Novembro de 2001 - aterrei em Varsóvia poucos dias depois do 11 de Setembro (medo!) - e aqui ter estudado ao abrigo do intercâmbio de estudantes Erasmus-Sócrates voltaria, de vez, no Verão de 2004 como que atraído por uma força quase magnética entre outros factores como sentir-me encurralado em Portugal, a inevitável ressaca do intercâmbio de estudantes e a intuição de que o futuro seria lá, na Polónia, um país que estava a passos de aderir à União Europeia.
O tempo passa rápido, demasiado rápido até. Em cinquenta anos de vida passei um em Angola, vinte e nove em Portugal e agora dezanove na Polónia (vinte no próximo Verão).
Já não vejo o país que me acolheu como um estrangeiro, já não é fácil comparar isto e aquilo com o que temos e fazemos em Portugal (para todos os efeitos e ainda que se possa tirar um português de Portugal, não se tira Portugal de um português) mas estou inevitavelmente "polonizado" em muitos aspetos da minha vida fruto de uma integração que incluiu matrimónio, formação de família e também genuíno interesse na História, cultura e ethos da Polónia e das suas gentes.
Como tal escrever sobre as diferenças, as idiossincrasias da cultura polaca tornou-se uma tarefa intrincada senão inverosímil.
É mais descomplicado escrever sobre o modo como vejo Portugal e os portugueses, quando lá vou de férias e o que mudou nestes vinte anos que passaram do que o contrário. Não é que me sinta um estrangeiro em Portugal, antes pelo contrário, a sensação é como vestir aquela camisola ou cobertor confortável que já não sabemos quantos anos tem mas que não tem par com nenhum outro. É de certo modo um pouco como viajar numa máquina do tempo porque tem a capacidade de nos levar instantaneamente a memórias e a outras décadas e como isto ou aquilo era e como mudou ou como permanece igual - o caso da oficina onde levávamos os carros da família e que está rigorosamente igual ao que estava há trinta anos...
Hoje neva ligeiramente em Łódź numa promessa de um possível "White Christmas" como vemos nos postais de Natal ou nos inúmeros filmes de Hollywood e a Ceia de Natal não vai ter bacalhau, não se arranjou em lado nenhum para mal dos meus pecados; nem na cadeia de supermercados Biedronka que é portuguesa. E este ano vai ser substituído com umas belas postas de salmão e umas iguarias para recordar Portugal como vinhos portugueses, castanhas e até tremoços acompanhados de zupa grzybowa, pierogi z kapustą i grzybami, ryba po grecku e kapusta z grochem...
Mais uma vez renovados votos de Boas Festas e de muita Paz - mais do que nunca urge e é primordial em tempos de incerteza e instabilidade como aqueles em que vivemos.
Łódź, 22, 12 MMXXIII
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