Chega ao fim mais uma década e a mudança do século XX para o XXI completa nada mais, nada menos que vinte anos... vinte! Números redondos que marcam eras passadas trazendo à memória a conhecida frase " a inexorável marcha do tempo" que se sente (e bem) na pele para quem, como o vosso escriba, nasceu nos princípios dos anos 70 do século passado.
2019 foi um ano prolífico em eventos na Polónia; uma escritora polaca (Olga Tokarczuk) ganha o prémio Nobel da literatura, ano de eleições para o Sejm (Parlamento) onde, sem grandes surpresas, o partido conservador PiS continua por mais quatro anos o seu mandato com 43% das intenções de voto, apesar dos protestos e convulsões sociais como a greve dos professores, marchas diversas como a Marcha pela Igualdade organizada na cidade de Białystok pelo LGBTQ, onde se registaram episódios de violência, as contra-reações e impulso cada vez mais sentido de grupos nacionalistas associados a ideais de Extrema-Direita e também o Mundial de Futebol U-20 FIFA que teve lugar neste país.
Creio que a memória mais recuada que tenho será do ano 1976 ou 1977, em São João do Estoril. A tecnologia mais avançada nessa época seria os então relativamente recentes, gravadores de cassette audio com microfone. Frente ao Rés-do-Chão onde moravamos os carros estacionados tinham quase todos (excepto os Renault 5) para-choques cromados com escudetes - uns elementos em borracha que teoricamente protegiam os carros de pequenos impactos, o telefone era o clássico modelo de discar com um toque de campainha capaz de despertar o prédio inteiro.
As calças boca-de-sino, camisolas de gola-alta em lycra, golas de camisa e gravatas largas e berrantes, a moda das patilhas, cabeleira farta e óculos de massa em tamanho XL eram a moda. A televisão ainda era a preto-e-branco e havia apenas um canal, a RTP 1 que fechava cedo, pouco depois do jantar, emitindo durante algumas horas a mira-técnica e um "piiiiip" contínuo e perturbador que, alegadamente, servia para acordar alguém caso adormecesse deixando o televisor ligado. Foram tempos complicados com o êxodo dos pais de Angola, o reiniciar uma vida nova em Portugal e toda a instabilidade política pós-25 de Abril.
As calças boca-de-sino, camisolas de gola-alta em lycra, golas de camisa e gravatas largas e berrantes, a moda das patilhas, cabeleira farta e óculos de massa em tamanho XL eram a moda. A televisão ainda era a preto-e-branco e havia apenas um canal, a RTP 1 que fechava cedo, pouco depois do jantar, emitindo durante algumas horas a mira-técnica e um "piiiiip" contínuo e perturbador que, alegadamente, servia para acordar alguém caso adormecesse deixando o televisor ligado. Foram tempos complicados com o êxodo dos pais de Angola, o reiniciar uma vida nova em Portugal e toda a instabilidade política pós-25 de Abril.
Entramos sem dar conta na década de 80, já em Vila Nova de Famalicão onde viria a crescer, sou por isso um famalicense adoptado mas convicto, afinal quando me perguntam "de que parte de Portugal é" (se não me apanharem por alguma entoação nortenha) a resposta é, invariavelmente, "Minho, Vila Nova de Famalicão". Nasci em Lisboa mas foi apenas isso...
Os anos 80 trouxeram outras modas, cores berrantes nos tons rosa, amarelo, azul bebé e púrpura substituindo a "piroseira" da década anterior por outra... Os carros passam a ser mais plastificados, pensados em economia e praticalidade como o Fiat Uno ou o Peugeot 205. Portugal desenvolvia-se no torvelinho deixado pela revolução dos cravos e o vácuo da perda dos terrenos ultramarinos, enfrentando a morte de um Primeiro-Ministro e comitiva num mal explicado "acidente de aviação" - que ocorreu no dia do meu aniversário a 4 de Dezembro de 1980. Bastariam apenas mais cinco anos para Portugal aderiar à entao CEE (Comunidade Económica Europeia).
Mário Soares assina a entrada de Portugal na então CEE em 1985. A Península Ibérica passa a fazer parte do mapa da comunidade europeia. |
Os anos 80 trouxeram outras modas, cores berrantes nos tons rosa, amarelo, azul bebé e púrpura substituindo a "piroseira" da década anterior por outra... Os carros passam a ser mais plastificados, pensados em economia e praticalidade como o Fiat Uno ou o Peugeot 205. Portugal desenvolvia-se no torvelinho deixado pela revolução dos cravos e o vácuo da perda dos terrenos ultramarinos, enfrentando a morte de um Primeiro-Ministro e comitiva num mal explicado "acidente de aviação" - que ocorreu no dia do meu aniversário a 4 de Dezembro de 1980. Bastariam apenas mais cinco anos para Portugal aderiar à entao CEE (Comunidade Económica Europeia).
O panorama musical melhorou (e muito!) com canções que ainda hoje são populares, cantores e bandas como Michael Jackson, Madonna, Tina Turner, Freddy Mercury e os The Queen, Duran Duran, Frankie Goes to Hollywood, Europe e tantos, tantos outros que se reúnem num evento musical apenas comparável ao de Woodstock em 1968, o concerto Live Aid em 1985.
Os computadores Atari os Apple Macintosh de Steve Jobs, os salões de jogos eletrónicos Arcade, os primeiros micro-computadores para jogos como os Timex ZX Spectrum, são prova da revolução que está a começar e que transformará a sociedade na próxima década e no próximo século para algo comparável quando muito à Revolução Industrial no século XIX.
No final da década os regimes Socialista-Comunistas em países da Europa de Leste e Central caiem um por um até à derrocada da URSS. O colapso do Muro de Berlim simboliza o fim de uma era dando lugar a uma nova ordem mundial para a década seguinte.
World Wide Web, Microsoft, Windows, Internet e email são palavras que entram no quotidiano para aqueles que vivenciaram os anos 90. Nada será como dantes e ninguém consegue imaginar como o novo século que se aproxima a passos largos trará tecnologia e novidades que transformarão a sociedade, para o bem e para o mal. Os telefones passam a ter botões e sons eletrónicos, são cada vez mais compactos e a portabilidade cada vez mais necessária, surgem os telemóveis e novo vocabulário como SMS e MMS. O século XX chega então ao fim, 100 anos que viram duas guerras mundiais devastadoras, o advento da Era Atómica e conflitos entre nações, ideais políticos e estratégicos que dividem o mundo em duas esferas de influência, um século que não acabaria sem uma ameaça de catástrofe, o "bug do milenio" que se revelaria apenas um susto...
O dealbar do novo século
Século XXI. Os anos 2000 que foram tão imaginados em romances e filmes de ficção científica chegaram sem carros voadores, robos empregada-doméstica ou mordomo, naves intergalacticas, bases lunares ou invasões de extraterrestres mal intencionados, em vez disso seria o começo do New American Century e de algo muito sinistro a ocorrer em Setembro de 2001 com o evento que ficará conhecido como 9/11 dando azo a um novo termo que nasce com a liberdade de expressão proveniente da Internet, as "teorias da conspiração" assim que muitos "internautas" (outro neologismo) analisaram e esmiuçaram os acontecimentos acusando o Pentágono de permitirem este ataque ao estilo operação de bandeira falsa.
O novo século começa com a guerra do Ocidente ao terrorismo islâmico, com a fraude das armas de destruição maciça que nunca seriam encontradas no Iraque, com a remoção de líderes do mundo árabe com Sadam Hussein (2003) e Muhamar Gadaffi (2011) na Líbia, um erro - propositado ou não - no caso do último já que seria o princípio de uma crise humanitária sem precedentes com o êxodo de migrantes económicos e refugiados de guerra para a Europa na década seguinte.
A China mostra-se cada vez mais como um gigante conquistando o mundo economicamente, a etiqueta Made in China impõe-se em quase todos os produtos que o mundo capitalista produz.
Steve Jobs anuncia o iPhone 1 em 2007 dando início a uma revolução não apenas tecnológica mas social.
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A era dos Smartphone inicia-se com força a partir do iPhone 1 da Apple, um telemóvel que é ao mesmo tempo telefone, computador e câmara dando lugar pouco depois aos sistemas operativos rivais Android e Windows Phone.
O tempo, esse, parece cada vez mais escasso assim que aparecem as chamadas redes sociais sobretudo o Facebook em 2004 e o YouTube em 2005. Entramos na era das aplicações para tudo... para socializar, para cuscovilhar a vida alheia, para encontrar amor, sexo, amizade, grupos de suporte, grupos políticos, de interesse, grupos de ódio, religiosos, ateístas, homossexuais, místicos, ocultos e tudo o mais que fica ao resto da imaginação. A noção de privacidade é discutível enquanto se partilham fotos de momentos na vida, de ideias e opiniões. Tudo identificado, rotulado e compartimentalizado, tornamo-nos uma espécie de ciber-criaturas no dito mundo civilizado enquanto os contrastes entre quem tem tudo e quem nada tem são cada vez maiores.
Entraremos numa nova década, nos anos 20 que prometem ainda mais tecnologia e evolução nas tecnologias de informação com o desenvolvimento de algoritmos de Inteligencia Artificial, uma mais que provável Espada de Damocles que ameaça eminentemente muitos empregos hoje em dia feitos por humanos. Os carros não voam como se previa em filmes populares como Back to the Future mas passam a ter condução autónoma e o motor a explosão gradualmente é substituído por o motor elétrico. Uma nova Era Espacial parece aproximar-se no horizonte com missões planeadas à lua e a Marte.
Entretanto o nosso habitat natural degrada-se com níveis de poluição gritantes, no ar, no mar, na terra entre discussões maioritariamente infrutiferas sobre a plausabilidade de existir aquecimento global ou não.
Caleidoscópio - Polónia 2019
Odiado por uns, amado por outros o líder do PiS teve um bom ano de 2019 somando vitórias e membros do seu partido no Sejm polaco depois de umas eleições rodeadas de tensão - e expectactivas. |
Já muito foi dito aqui sobre a vitória do PiS e sobre o controle que o partido conservador exerce na Polónia, seria portanto redundante mencionar ad nausea tópicos passados. No entanto é de assinalar a declaração de 7 de Dezembro do Supremo Tribunal da Polónia:
"Contradições entre a lei polaca e da UE [...] irão muito provavelmente levar a uma intervenção por parte das instituições da UE naquilo que diz respeito ao infrigimento dos tratados da UE e (levará) a longo-prazo à necessidade de deixar a União Europeia"
As possiveis consequências da arrogante agenda de Jarosław Kaczyński em alterar a constituição e a organização judicial parecem direcionar este país rumo a um futuro incerto onde a eventual expulsão da UE teria consequências gravíssimas para a estabilidade económica e política deste pais da Europa Central. Tal como o Feiticeiro de Oz por trás da máquina, do poder está um homunculo, covarde, com pouca argumentação.
Olga Tokarczuk
A escritora, intelectual e ativista polaca recebeu em 2019 o prémio Nobel da Literatura de 2018 em reconhecimento pela "imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o atravessar de limites como forma de vida".
Tokarczuk junta-se assim a outros laureados polacos como Henryk Sienkiewicz (1905), Władyslaw Reymont (1924), Isaac Bashevus Singer (1978), Czesław Miłosz (1980) e Wisława Szymborska (1996).
Rodeada de controvérsia no seu próprio país fruto do seu ativismo pela causa ecológica e feminista a autora enfrentou sempre com serenidade os seus antagonistas sobretudo os que a acusam de não ser patriota e manifestar-se anti-cristã ou seja, não fazer apologia dos valores que a Igreja Católica e o PiS consideram como fundação da nação polaca e a essência de se ser polaco.
Em Portugal podemos encontrar em língua portuguesa títulos como "Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos" e "Viagens". Boas leituras!
Um protesto forte por parte dos sindicatos de professores polacos parou o ensino no princípio de Abril, duas semanas em que as escolas fecharam em protesto por um aumento de 250€ (1000 PLN) nos salários (um professor em início de carreira pode receber limpos de impostos 550€ o que atualmente não fica muito longe do salário auferido por um caixa no Biedronka ou no Lidl).
O governo não cedeu e a greve não surtiu o efeito desejado. Entre acusações por parte de membros do governo em que literalmente acusaram os sindicatos de usarem "táticas Nazi", de (mais uma vez o discurso insuportável e gasto) importarem ideias do estrangeiro, ideias anti-cristãs trazidas pela comunidade LGBTQ, de serem contra os valores de família, cristãos sugerindo arrogantemente que os professores podem, eles também, ter filhos e pedirem o subsídio 500+. Entretanto os sindicatos faziam o possível para que o governo entendesse que se há dinheiro para subsídios para os pais de crianças em idade escolar, para os agricultores e pensionistas (receberam quantias substanciais do governo em ano de eleições que somaram 2,5 bilhões de Euros) também haveria margem para aumentar os professores. A luta ficou adiada e a re-eleição do PiS promete mais luta em 2020.
FIFA Sub20 na Polónia 23 de Maio - 15 de Junho
Provérbio português: "de boas intenções o inferno está cheio" o que significa que se pode prometer muito e não dar nada acabando assim com o Diabo a picar-nos as nádegas com o garfo deixndo-nos, entre outros, em companhia de imensos membros do clero para toda a eternidade...
Isto para dizer que não posso falar sobre o Sub20 na Polónia; por vários motivos... Porque sou uma exceção à regra dos portugueses pois nao costumo seguir futebol - fora o Europeu e Mundial - e porque de facto mal me recordo deste evento ao ponto de ter ido ao Google ver quem foi o vencedor (parece que foi a Ucrânia).
Mais informação no site da FIFA:
E assim me despeco desejando a todos os meus leitores um feliz e próspero ano novo e que a próxima década seja uma de realizações e progresso seja em que campo ou vertente da vida for.
Um grande bem-hajam!
Um grande bem-hajam!
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