sábado, 10 de novembro de 2018

Os 100 anos de independência da Polónia 1918 - 2018

Cento e Vinte e Três anos roubados à nação polaca; prostrada sob o jugo do Império Austríaco, Prússia e Rússia. Mais de um século de luta, violência, submissão, resistência e finalmente a libertação em Novembro de 1918. Figura fulcral desta data é o Marechal Józef Piłsudski e as Legiões Polacas que restauraram a independência formando a Segunda República da Polónia, entre o caos do final da I Grande Guerra e o prelúdio de um conflito ainda mais destruidor a ter lugar em apenas duas décadas. 



Celebram-se no Domingo, 11 de Novembro de 2018, os cem anos da independência da Polónia depois de mais de um século onde literalmente desapareceu do mapa e até dos documentos oficias e enciclopédias de três poderes europeus que pretendiam enterrar para sempre a soberania desta nação. 
A Europa do século XVIII era um barril de pólvora, dividida entre monarquias decrépitas, lutas intestinas por territórios, fronteiras e valores patrióticos exacerbados, baseados no militarismo. Em 1795 a Polónia-Lituânia - dois reinos formando um imenso território que, no seu pico, se extendeu até onde hoje temos a Estónia, Letónia. Ucrânia, Bielorrússia, Hungria, Roménia, Rússia, Eslováquia e Moldavia. Um país originalmente mais a Leste, ao contrário da atualidade onde claramente está posicionado (movido) mais a Ocidente depois dos Acordos de Potsdam em 1945.

É neste barril de pólvora, entre uma Polónia-Lituânia fragmentada depois de negociações territoriais em troca por alianças militares, pejada de conflitos internos fruto de uma monarquia fraca, uma burguesia sem lealdade, despojada de privilégios e inúmeros levantamentos  despoletados por anos de instabilidade e perdas territoriais que os três grandes poderes europeus da época se reúnem com a intenção de suprimir a Polónia para sempre. Rússia, Áustria e Prússia dividem entre si um país  derrotado, como se de um bolo se tratasse... As três fatias divididas entre os respetivos impérios de 1795 até 1918. Uma dissolução territorial, cultural e de soberania que literalmente roubou todo o século XIX aos polacos, gerações inteiras que não souberam o que é viver numa Polónia livre, outros que morreram com o sabor da derrota e eventualmente apenas na esperança do renascimento da nação polaca - relembremos que a esperanca média de vida no seculo XIX situava-se entre os 40 a 50 anos de idade.

O Armistício, finalizando oficialmente a I Grande Guerra é também a data do fim desta tentativa de destruição de uma nação por países terceiros. O Marechal Józef Piłsudski, no cárcere em Magdeburg, é libertado pelos alemães - um estratégia pensada como favorável à derrota da Rússia que ameaçava as ambições germânicas - é colocado num comboio em direção a Varsóvia, três dias antes da assinatura do Armistício. Com as Legiões Polacas reorganizadas o processo de restauração da independência toma forma entre uma Rússia Imperial derrotada - a Revolução Russa tinha ocorrido no ano anterior - uma Prússia reduzida a escombros, tal como a Áustria, permitem o início da Segunda República da Polónia que seria brutalmente desmantelada em Novembro de 1939 com a invasão pelas forças do III Reich.


Piłsudski torna-se assim uma figura de craveira da História da Polónia, um estadista respeitado até hoje pela nação polaca - em inúmeros lares polacos, especialmente de idosos, o retrato do Marechal faz parte integrante da decoração junto com a cruz de Cristo e a imagem de Nossa Senhora de Jasna Góra em Częstochowa.

Este feriado do 11 de Novembro (11 Listopada Narodowe Święto Niepodległości) foi suprimido logo em 1947 quando a Polónia, em consequência dos acordos do Pacto de Varsóvia, emerge como um país Comunista na esfera de influência da então URSS, passando a celebrar-se livremente, com pompa e circunstância depois de 1989 com o colapso da República Popular da Polónia (PRL) e o inicio da Terceira República. 

Polónia 2018

Como é viver na Polónia de Kaczyński e do PiS? 

As recentes eleições municipais em Outubro demonstraram claramente onde reside o poder do partido conservador; no Leste da Polónia, nas zonas rurais e fronteiriças com a Bielorrússia e Ucrânia o PiS mostra-se forte mas na Polónia urbana, e nas regiões mais a Oeste e a Norte a mensagem foi clara onde em cidades como Łódź e Varsóvia, Cracóvia e Poznań os vencedores não estavam associados ao partido no poder ainda que na generalidade o PiS venceu as eleições com uma margem de 7% contra a Coligação do Cidadão (ex-Plataforma do Cidadão). 

Sente-se claramente um controlo dos medias estatais especialmente o canal televisivo nacional TVP agora jocosamente apelidado de TVPiS e outros meios de comunicação empenhados em ventilar propaganda favorável à Polónia de Direita, conservadora, católica e patriótica, no sistema de ensino básico é notório a agenda nacionalista com um forte reforço nas disciplinas de Língua Polaca, e História. 

Entre este turbilhão do ensejo dos conservadores em moldarem uma Polónia ao seu gosto, tentando modificar a constituição, remodelando o Tribunal Constitucional, alegadamente para a purga de elementos relacionados com o "ancien régime", e protestos de rua contra as proibições e imposições governamentais o Dia da Independencia pretende-se celebrar com a alegria que certamente tomou as ruas, casas e os corações dos polacos de há
100 anos. 

O Presidente Andrzej Duda demonstrou claramente que o dia será de festa proibindo manifestações por parte de elementos da Extrema-Direita polaca (intitulam-se nacionalistas) na Marcha da Independência na capital, Varsóvia. Apenas as bandeiras brancas e vermelhas serão aceites sendo os slogans vistos no ano passado, como "Polónia para os polacos, Polacos para a Polónia", e outros de caráter rácico e de exclusão banidos sob pena de intervenção policial. 
Cem anos passaram num país que viu as suas fronteiras expadirem-se, contrairem-se, desaparecerem e reaparecerem, serem deslocadas para Oeste, suprimidas e reajustadas a Leste, uma nação que seria novamente dizimada e posteriormente oprimida durante quarenta anos num mundo dividido entre duas grandes potências. Nação que, sempre em luta, veria em 1979 o mundo eleger o sumo pontífice dos católicos um cidadão polaco, Karol Wojtyła, o Papa João Paulo II, que daria ânimo e esperança em dias melhores e no fim do comunismo pró-soviético. 

Com quase 30 anos de Democracia a Terceira República passa uma prova de fogo numa Europa em convulsão com o resurgir do populismo - provavelmente em consequência dos exageros do Politicamente Correcto do principio do século - e de uma União Europeia desconectada da realidade, abalada com o descontetamento e cepticismo dos europeus revelada no Brexit, ascensão da Direita anti-Europa na França, Itália, Hungria, Polónia e na Áustria.

O espírito da liberdade, do direito à auto-determinação e soberania do Estado permanece inabalável independentemente dos partidos políticos e das personagens que passam pelo panorama político. Os polacos, melhor do que ninguém, sabem o valor que a mesma tem e nunca vão abdicar porque a Polónia existirá enquanto existirem polacos.



Sem comentários: