6 de Julho de 2017. O Presidente dos Estados Unidos da América,
Donald Trump e a Primeira-Dama Melania Trump, acompanhados pela filha
Ivanka aterram na Polónia para uma "visita de médico", breve
mas rodeada de grandes expectativas e curiosidade por parte da comunidade
internacional. Tudo isto numa Polónia "PiSificada", governada
por conservadores e por uma elite com fortes ligações á Igreja Católica.
Trump em frente ao monumento da Insurreição de Varsóvia de 1944. |
A família Trump metida no Air Force One, atravessando o Oceano Atlântico em direcção
ao Velho Continente tinha um objectivo bem definido, a reunião anual do G20, as nações
com voz e músculo no mundo. Importantes decisões, parcerias, acordos e também desacordos são discutidos entre protestos de rua violentos e uma infindável
quantidade de jornalistas ansiosos por notícias, ainda para mais com o tão
esperado confronto Trump vs Putin entre acusações graves da Rússia ter
"viciado" as eleições nos EUA, favorecendo a vitória de Trump, com
recurso a pirataria informática, o problema da Coreia do Norte, Crimeia, Síria, Daesh, NATO, terrorismo etc...
Para a Polónia e para o agora todo-poderoso PiS de Kaczyński essas questões não interessam directamente à Polónia e os polacos. A visita de Trump e de um
Presidente dos EUA significa muito mais para um país que, mais do que nunca, bate o
punho na mesa contra tudo o que está a Leste das suas fronteiras e que não faz
parte da UE, especialmente a Federação Russa, a qual acusam de ter planeado a queda do Tupolev presidencial em 2010, em Smolensk...
A Polónia do PiS não pretende apenas ser mais um dos membros da UE, da NATO ou
cliente regular e refém da Gazprom na velha e gasta questão energética. O
partido conservador é adamante na questão do braço-de-ferro com a Rússia
pós-URSS e pretende ser o defensor dos "portões a Leste da Europa", dos valores
cristãos, patriotas e culturais contra qualquer ameaça que fale russo e escreva
em cirílico ou que professe a fé no Islão...
O Presidente dos EUA, teve uma recepção calorosa (incluiu autocarros com apoiantes de
aluguer) ao contrário de outros países da UE, incluindo o Reino Unido, onde
Trump sabe que não é exactamente bem-vindo ou mesmo na Alemanha onde violentos protestos
culminaram em actos de vandalismo.
Kaczyński, Beata Szydło a Primeiro-Ministro e o Executivo polaco do PiS mantendo distância de Lech Wałęsa (fora da imagem). |
Na Polónia correu tudo de feição e foi indubitavelmente um sucesso diplomático
para os dois paises. O Presidente polaco, Andrzej Duda e a Primeiro-Ministro
Beata Szydło (ambos do PiS) receberam Trump e a Primeira-Dama, com pompa e circunstância
e nem Lech Wałęsa, hoje em dia um idoso de bigode e cabelos brancos, faltou no discurso (ainda que tenha poucas dúvidas que Trump apenas o leu mas não escreveu) ainda
que o velho electricista de Gdańsk tenha recebido apupos entre os aplausos quando o Presidente
americano agradeceu, por três vezes, a presença do "líder do
Solidariedade"... É que para todos os efeitos o PiS acusa Wałęsa de ser na
realidade um traidor, mandatado pelo Partido Comunista por trás das cortinas,
uma marionete mais do que um herói do Solidarność, como foi, por exemplo, a
falecida Anna Walentynowicz.
O discurso de Trump foi longo e dado num local simbólico de Varsóvia, de grande
importância na História do país, na Praça Krasiński, onde a Insurreição de
Varsóvia ocorreu em 1944. Um momento histórico remarcável e impressionante na
História da Polónia e da II Grande Guerra.
Trump tinha preparado um discurso formidável no que diz respeito a "tocar o coração
dos polacos" e digo formidável porque continha uma compilação de factos históricos
que enche de orgulho os polacos, uma nação patriótica, orgulhosa da sua resiliência
face a inúmeras tentativas de aniquilação, fronteiras contraídas e eliminadas e
a traição de que foi alvo quer pelo Ocidente quer a Leste no século passado.
"Mãe,estás a ver? Deu-me um passou-bem!" Os memes na Internet polaca não se fizeram esperar como de costume... |
Recordando a famosa estrofe do hino polaco, Mazurek Dąbrowskiego,
"A Polónia não desaparecerá enquanto nós vivermos", o discurso
do Presidente Norte-Americano abordou a importância das lutas do povo polaco na
preservação dos valores culturais da civilização ocidental e de Deus, e
tomou-as como exemplo para os EUA e para o Ocidente, um Ocidente que "deve ter ensejo de sobreviver"...
Ivanka Trump e Michael Schudrich o rabino-chefe no Museu Polin da História dos Judeus-Polacos, dedicado ao Holocausto e comunidade judaica polaca. |
Como a agenda de Trump era de horas foi a sua filha Ivana que se dirigiu ao monumento dedicado à Insurreição de Varsóvia para prestar homenagem o que provocou o desagrado da agora simbólica comunidade judaica polaca que esperava o Presidente dos EUA no monumento erigido a este evento, como é tradição, apesar de Ivanka ser casada com um judeu-ortodoxo e alegadamente professar o judaísmo...
Assim no dia seguinte Trump estava já ali ao lado, na Alemanha, deixando para trás um momento memorável e simbólico para os polacos - sobretudo para os que apoiam a política do PiS - uma promessa de respeitar o artigo 5 da NATO (apoio mútuo em caso de invasão ou ataque a um dos membros) e também uma factura bem gorda (30 biliões de Złoty ou 8 biliões de Dólares) e negócios diversos nomeadamente a delicada questão energética...
O aperto de mão polaco foi selado com a promessa de aquisição do sistema de mísseis Patriot pela Polónia aos EUA e o fornecimento de gás-natural liquido americano, até agora dominado pelo gigante russo Gazprom, sujeitando a Europa Central e de Leste aos "caprichos" russos - por exemplo a ultima acção da Lituania em ser independente da Gazprom levou a uma redução de preço do gás russo em 20% - deixando a Polónia e os Estados Balticos lidarem com um ainda maior descontentamento da Federação Russa...
Entre bandeiras, ruas cortadas ao trânsito e ansiedade a visita de Trump sabe porventura a "business as usual", para ambos os lados... por um lado a Polónia pretende assegurar um papel crucial na organização estratégica do continente tornando-se essencial na NATO e protegida pelos Aliados, mostrar-se claramente como estando virada para o Ocidente, enterrando a ideia estereotipada de ser apenas mais um dos países-satélite da URSS e dando uma "reguada" na mão russa no que diz respeito ao fornecimento de energia.
Os EUA e a administração Trump selam um acordo ao estilo "Pax Americana" dando exemplo a outros membros da NATO em como é essencial a contribuição de todos, comprando mais armamento - preferencialmente aos EUA - e pagando o quinhão que Trump diz não estar a ser respeitado, apoiando a expansão do Complexo Militar Industrial na Europa, mostrando que os Estados Unidos da América serão sempre os Aliados da Europa (e vice-versa) na preservação dos valores democráticos , da liberdade, de Deus e do estilo de vida Ocidental que, na opinião quer de Trump quer do PiS, estão ameaçados por forças externas interessadas em destruir e impor outros, opostos àqueles da civilização ocidental...
O aperto de mão polaco foi selado com a promessa de aquisição do sistema de mísseis Patriot pela Polónia aos EUA e o fornecimento de gás-natural liquido americano, até agora dominado pelo gigante russo Gazprom, sujeitando a Europa Central e de Leste aos "caprichos" russos - por exemplo a ultima acção da Lituania em ser independente da Gazprom levou a uma redução de preço do gás russo em 20% - deixando a Polónia e os Estados Balticos lidarem com um ainda maior descontentamento da Federação Russa...
Entre bandeiras, ruas cortadas ao trânsito e ansiedade a visita de Trump sabe porventura a "business as usual", para ambos os lados... por um lado a Polónia pretende assegurar um papel crucial na organização estratégica do continente tornando-se essencial na NATO e protegida pelos Aliados, mostrar-se claramente como estando virada para o Ocidente, enterrando a ideia estereotipada de ser apenas mais um dos países-satélite da URSS e dando uma "reguada" na mão russa no que diz respeito ao fornecimento de energia.
Os EUA e a administração Trump selam um acordo ao estilo "Pax Americana" dando exemplo a outros membros da NATO em como é essencial a contribuição de todos, comprando mais armamento - preferencialmente aos EUA - e pagando o quinhão que Trump diz não estar a ser respeitado, apoiando a expansão do Complexo Militar Industrial na Europa, mostrando que os Estados Unidos da América serão sempre os Aliados da Europa (e vice-versa) na preservação dos valores democráticos , da liberdade, de Deus e do estilo de vida Ocidental que, na opinião quer de Trump quer do PiS, estão ameaçados por forças externas interessadas em destruir e impor outros, opostos àqueles da civilização ocidental...
Extracto do discurso de Trump:
"Esta é a minha primeira visita à Europa Central, como Presidente, e eu
estou muito feliz que possa estar aqui mesmo, neste magnificente e bonito pedaço
de terra. É bonito. (Aplausos.) A Polónia é o coração geográfico da Europa, mas
o mais importante, e que no povo polaco, vemos a alma da Europa. A vossa nação
é grande porque o vosso espírito é grande e o vosso espírito é forte.
(Aplausos).
Durante dois séculos a Polónia sofreu ataques brutais e constantes. Mas
enquanto a Polónia foi invadida e ocupada, e as suas fronteiras apagadas
do mapa, ela nunca poderia ser apagada da história ou dos vossos corações.
Naqueles dias escuros, vocês perderam a vossa terra, mas nunca perderam o vosso
orgulho. (Aplausos).
Assim, é com verdadeira admiração que eu posso dizer hoje, que a partir das
fazendas e aldeias no vosso campo para as catedrais e praças das vossas grandes
cidades, a Polónia vive, a Polónia próspera e a Polónia prevalece.
(Aplausos).
Apesar de todos os esforços em transformar-vos, oprimir-vos, ou destruir-vos,
vocês resistiram e venceram. Vocês são a nação orgulhosa de Copérnico - pensem
nisso - (aplauso) - de Chopin, São João Paulo II. A Polónia é uma terra de
grandes heróis. (Aplausos.) E vocês são um povo que sabe o verdadeiro valor do
que defendem.
O triunfo do espírito polaco ao longo de séculos de dificuldades dá-nos a todos
esperança num futuro no qual o bem vence o mal, alcança a vitória e a paz sobre
a guerra.
Para os americanos, a Polónia tem sido um símbolo de esperança desde o início
da nossa nação. Heróis e patriotas americanos polacos lutaram lado a lado na
nossa Guerra de Independência e em muitas guerras que se seguiram. Os nossos
soldados ainda servem juntos hoje no Afeganistão e no Iraque, combatendo os
inimigos de toda a civilização.
Por parte dos Estados Unidos nunca desistiremos da liberdade e independência enquanto
direito e o destino do povo polaco, e nunca, nunca o fará. (Aplausos). Os
nossos dois países compartilham um vínculo especial forjado por histórias
únicas e personagens nacionais. É uma comunhão que existe apenas entre as
pessoas que lutaram e sangraram e morreram pela liberdade. (Aplausos.)
Juntamente com o Papa João Paulo II, os polacos reafirmaram sua identidade como nação dedicada a Deus. E com essa poderosa declaração de quem vocês são, vocês vão entender o que fazer e como viver. Vocês estiveram em solidariedade contra a opressão, contra a polícia secreta sem lei, contra um sistema cruel e perverso que empobreceu as vossas cidades e as vossas almas. E vocês ganharam. A Polónia prevaleceu. A Polónia vai sempre prevalecer. (Aplausos)."
Juntamente com o Papa João Paulo II, os polacos reafirmaram sua identidade como nação dedicada a Deus. E com essa poderosa declaração de quem vocês são, vocês vão entender o que fazer e como viver. Vocês estiveram em solidariedade contra a opressão, contra a polícia secreta sem lei, contra um sistema cruel e perverso que empobreceu as vossas cidades e as vossas almas. E vocês ganharam. A Polónia prevaleceu. A Polónia vai sempre prevalecer. (Aplausos)."
Sem comentários:
Enviar um comentário