Ontem, dia 3 de Outubro de 2016, confirmou-se que a Polónia é cada vez mais um país dividido. O partido conservador no poder, o PiS de Jarosław Kaczyńsky, na sua caminhada pela preservação dos ditos valores tradicionais polacos - sobretudo aqueles ligados ao catolicismo - viu as ruas da capital Varsóvia e as grandes urbes como Cracóvia, Łódź, Wrocław, Poznań e Gdańsk em protesto pelos direito das mulheres relativamente à polémica questão do aborto. Chamaram-lhe de Segunda-Feira negra, Protesto Negro e Greve das Mulheres, os movimentos pró-vida prometem retaliar, vestidos de branco, ao estilo Senhor dos Anéis de Tolkien...
Não vale a pena esmiuçar os detalhes que se encontram em pormenor nos media portugueses aqui e brasileiros aqui. O protesto público, difundido nas redes sociais com o ashtag #czarnyprotest (protesto negro), surge face ao plano de completa modificação da lei do aborto e por consequência de qualquer método anticoncepcional não aceite pela religião católica no território polaco.
O pacote de medidas do PiS relativamente a este assunto criminalizará qualquer excepção à interrupção voluntária da gravidez inclusivamente má-formação do feto, violação e incesto prevendo penas até aos cinco anos para as mulheres, médicos ou parteiras. Na realidade a nova lei é de tal modo intrusiva que inclusivamente situações de aborto de espontâneo podem passar pelo crivo das autoridades. Do mesmo modo testes pré-natais podem vir a ser recusados por especialistas pelo simples facto de estes temerem represálias.
No coração de Cracóvia, no Palácio de Wawel as ruas apinhadas de manifestantes num dia particularmente chuvoso e triste. |
Depois de um ano politicamente agitado o <<czarnyprotest>> é visto pela oposição como um claro sinal do descontentamento relativamente ao PiS e observado com sobranceria por alguns membros do governo onde tiradas como aquelas ditas por o ministro dos negócios estrangeiros, Witold Waszczykowski; <<Eles (os manifestantes) que se divirtam [...] Avante se pensam que não há problemas mais importantes na Polónia>>. Comentário este já rechaçado pelos seus pares que entenderam a mensagem...
Entre palavras como <<Queremos médicos, não missionários!>>, <<Rua Jarosław!>> <<PiSoff>>, <<No woman no Kraj (Kraj = País)>> foi visível a quantidade de cidadãos vestidos de negro, por vezes totalmente, outras parcialmente, nas ruas, transportes públicos, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades... Apenas em Poznań o lançamento de flares provocou desacatos e a acção pronta da policia de intervenção que a dada altura carregou nos manifestantes.
O PiS terá porventura cometido um dos maiores erros desde que está no poder, meteu-se com elas, numa sociedade ocidental onde o feminismo desenvolve-se a cada ano que passa e, como já foi visto inúmeras vezes na História, enquanto o assunto é com homens resolve-se de alguma maneira - nem que seja à porrada - mas com mulheres e especialmente com as polacas, que gostam de expressar a sua opinião e muitas delas são activistas, compraram uma guerra onde ninguém se vai render e onde certamente elas sairão vitoriosas, mais tarde ou mais cedo...
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