Recentemente na imprensa portuguesa veio à tona um incidente entre estudantes de intercâmbio portugueses e um cidadão polaco na cidade de Rzeszów (leia-se Jé-chuv) no Leste da Polónia, a aproximadamente 80 km da fronteira com a Bielorrússia. A agressão aconteceu sem motivo aparente e alegadamente por terem sido confundidos com... árabes. O caso foi motivo suficiente para muitos portugueses emigrados na Polónia serem contactados por jornalistas nacionais. Nas redes sociais e nas páginas dedicadas aos portugueses e à comunidade portuguesa neste país o tema revelou-se fonte de polémica e desacordo entre aqueles que nada têm a dizer de relevante contra os polacos e outros que já sentiram na pele confrontos e agressões verbais, sobretudo pela sua cor de pele.
Os jornalistas queriam saber se os que aqui residem se sentem ameaçados e se conseguem viver normalmente o seu dia-a-dia. As respostas dividiram-se entre aqueles que nunca passaram por tal e outros que já tiveram situações desagradáveis com comentários claramente racistas e ameaças veladas à sua integridade física por cidadãos polacos.
Ponto comum - e aqui também contam exemplos que conheço nos quase treze anos de emigração - é a cor da pele sobretudo com negros e mulatos mais do que a nacionalidade per se, no entanto desde a crise dos refugiados e consequente irresponsabilidade de Angela Merkel e da UE na organização e logística para recepção de refugiados de guerra e migrantes económicos (com os migrantes já ocorria há mais de uma década em Calais, França, e Dover, Reino Unido, mas a UE fez sempre vista grossa) os movimentos patriotas e nacionalistas, um pouco por toda a Europa, reaparecem com mais força e com maior número de apoiantes - vide exemplo da FN de Marie Le Pen na França ou o UKIP e BNP (British National Party) no Reino Unido. Na pacifica e tolerante Suécia os partidos que se manifestam contra a emigração descontrolada e contra o politicamente correcto ganham mais notoriedade. Geert Wilders na Holanda foi inclusivamente processado por alegados comentários racistas contra a imensa e crescente comunidade marroquina e islâmica nos Países Baixos. E ainda temos do lado de lá do Atlântico a crescente popularidade de Donald Trump...
A Polónia, um dos países mais cristãos e católicos do continente Europeu, senão de todo o planeta, não é excepção e o núcleo da sua identidade está intrinsecamente ligado a esta religião. Relembremos que a Polónia é um país maioritariamente católico e praticante situado entre outros países luteranos e ortodoxos e ainda aqueles onde a religião cada vez mais é relegada para segundo plano como na Escandinávia e Federação Russa.
A ascensão do partido PiS (Verdade e Justiça) ao poder (executivo e presidencial) arrasta consigo toda esta "artilharia" religiosa e a Polónia conservadora onde Jesus, Maria, a cruz de Cristo, a missa e uma fervorosa fé católica se junta aos media religiosos como a Radio Maryja e o canal televisivo TRWAM de Tadeusz Rydzyk. Como medida populista a promessa de "subsídio de criança" aos pais com mais do que um filho (500 PLN mês ou 120 EUR por criança) revelou-se genial, consolidando em certos meios o garante do apoio popular a este partido por muitos anos - pelo menos se conseguirem cumprir (pagar) a promessa...
Com esta conjuntura politica e sem uma palavra critica do governo contra aqueles que se manifestam de modo xenófobo e racista - o instituto governamental responsável pelo tratamento destes casos foi recentemente fechado do dia para a noite - os movimentos de extrema-direita, amiúde ligados a claques de futebol agressivas, a apoiantes de ideais de pureza racial ariana ao estilo Nazista, e à intolerância contra a diferença, seja ela religiosa ou não, crescem a olhos vistos sobretudo contra a ideia da "Islamização da Europa".
Este conceito de Islamização da Europa tornou-se extremamente popular há alguns anos atrás com vídeos virais sobre o possível futuro do nosso continente em 2050. Nesses vídeos é explicado que a actual taxa de fertilidade na Europa será resolvida por esses emigrantes que, ao contrário dos autóctones, se reproduzem num modo incomparável.
Cidades como Marselha e Malmo na Suécia serão maioritariamente muçulmanas tal como outras no Reino Unido, Holanda, Bélgica e Alemanha, no espaço de duas ou três décadas. Assim pretendem passar a mensagem os autores do vídeo.
Cidades como Marselha e Malmo na Suécia serão maioritariamente muçulmanas tal como outras no Reino Unido, Holanda, Bélgica e Alemanha, no espaço de duas ou três décadas. Assim pretendem passar a mensagem os autores do vídeo.
Os polacos, que vivem no Reino Unido e na Escandinávia, contam histórias dos efeitos do politicamente correcto, do multi-culturalismo onde a integração é frequentemente mínima com exigências de respeito absoluto por razões religiosas como, por exemplo, exigência de carne Halal em escolas públicas, proibição de vestimenta ocidental para evitar "provocar" a tentação nos homens de fé islâmica, a crescente insistência da aplicação da Lei da Sharia no Ocidente e a proibição de imagens religiosas cristãs mesmo durante o Natal e Páscoa.
Este é um dos principais motivos para esta crescente onda de anti-islamismo na Polónia aliado a um facto histórico que enche os polacos de orgulho e que ocorreu em 1683, a Batalha de Viena, quando o rei polaco Jan Sobieski III - durante a fase histórica da República das Duas Nações (Polónia-Lituânia) - derrotou os Turcos-Otomanos, protegendo a Europa de uma longa e violenta guerra religiosa, alterando para os séculos seguintes a história do nosso continente.
Na Polónia moderna a comunidade árabe não cria conflitos e está bem integrada na vida polaca; trabalham, têm os seus próprios negócios e actividades, muitos concluíram aqui os seus estudos superiores e a maioria casou com cidadãos polacos formando família. Conheço alguns deles; sírios, marroquinos, argelinos, iranianos, egípcios e tunisinos. Gente boa que, ao contrário daquilo que muitos pensam, conseguem facilmente ser nossos amigos e nós deles, alguns são mais restritos no consumo de álcool ou carne de porco pela sua fé no Islão mas outros vivem perfeitamente bem e adaptados ao nosso modo europeu, ocidental.
E onde reside a Polónia racista? Reside na intolerância de alguns cidadãos polacos que não são o orgulho desta nação, são provocadores, são de mente fechada ao estilo Mississipiano dos séculos precedentes e das comunidades herméticas onde o Ku Klux Klan ainda hoje congrega, são aqueles que fazem sons de símio quando um jogador negro toma a posse da bola ou quando compra bananas no mercado, aqueles que chamam negro sujo quando o vêem com uma mulher branca ou que ameaçam "limpar o país" de pretos, de indianos, de árabes e judeus, dos homossexuais, das lésbicas, dos ateus, dos que são ecologistas e vegetarianos, daqueles que preferem a bicicleta ao automóvel ou que pura e simplesmente recorrem a métodos anticoncepcionais que ficam fora daqueles recomendados pela Igreja Católica...
Os polacos que assim não pensam e agem foram denominados de Najgorszy Sort Polaków (o pior tipo de polaco) por, o agora comparado a Viktor Orban, Jarosław Kaczyński. Tal como os nossos compatriotas que já foram vitimas de xenofobia e racismo há milhares de polacos e estrangeiros nacionais da UE e não só no mesmo cesto... O problema é cultural e está longe de ser resolvido nas próximas décadas. É acima de tudo um problema polaco e entre polacos.
Uma coisa é certa, a Polónia não é partidária do politicamente correcto e como típica nação eslava tem poucas contemplações e paciência com interferências externas ao seu modo de vida e organização. Há-de ser sempre uma tarefa hercúlea pretender de nações eslavas comportamentos similares aqueles dos europeus do Norte, se ao longo dos seus mais de mil anos de história com invasões, divisões e tentativas de aniquilação a nação polaca nunca desapareceu e foi incrivelmente teimosa na manutenção do seu idioma (não há cá acordos ortográficos há séculos) e cultura então há que esperar sentado por uma "revolução-cultural", na realidade as coisas aqui mudam com o tempo mas demora e resolvem-se entre os que aqui nasceram...
1 comentário:
Perfeito.
[Os de fora, quanto muito, podem mostrar que estão para construir; porque revoluções, não ganham nenhuma.]
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