Entre manifestações a favor e contra o partido PiS (Lei e Justiça) de Jarosław Kaczyńki, irmão gémeo do falecido Presidente da República da Polónia, vitima de acidente de aviação (para o PiS um atentado), o país dito "mais ocidental da Europa de Leste", divide-se entre a direita conservadora e católica e os outros que, Kaczyński, diz serem uma tradição polaca, os najgorsze sort polaków (o pior tipo de polaco) que trazem nos seus genes serem traidores da pátria (sic), numa insinuação àqueles concidadãos de mente aberta, que revelam os segredos da Polónia no estrangeiro (sic), que são a favor da fertilização in-vitro, da venda livre da pílula contraceptiva, dos direitos dos homossexuais, da integração na UE entre outras "modernices". O facto é que três juízes do Tribunal Constitucional foram literalmente despedidos sendo substituídos por outros favoráveis às politicas do partido que agora está no poder Presidencial e Legislativo da Polónia.
Opiniões como "mini-ditadura de Kaczyński" ou a tão almejada recuperação da soberania polaca perante os ditames de Bruxelas e de Angela Merkel são alguns dos argumentos a contra ou a favor do novo poder politico polaco no xadrez nacional e internacional mas foi no passado sábado que uma manifestação da oposição contra o PiS foi verdadeiramente visível na capital da Polónia, em Varsóvia. Algumas fontes mencionam cerca de 20.000 pessoas e outras 50.000 que, entre bandeiras e cartazes, levantaram a voz contra a consolidação do "absolutismo" liderado por J. Kaczyński e pelo PiS.
O Tribunal Constitucional, o ultimo refúgio da oposição contra o absolutismo do partido dominante, agora com representação na presidência e com maioria no Sejm (Senado) polaco, não escapou a esta "limpeza" daqueles que se mostram contra os conservadores. Foram expulsos três juízes - alegadamente da oposição - numa manobra de bastidores que revoltou aqueles polacos que não se sentem representados e não se identificam com esta força politica. Um atentado à constituição polaca dizem os opositores, um Golpe-de-Estado, uma intentona...
Neste cenário Jarosław Kaczyński literalmente jogou gasolina ao fogo ao declarar publicamente que existe um tipo de polaco que tem nos genes ser traidor da pátria, sobretudo aqueles que vivem no estrangeiro, partilhando os segredos da Polónia (sic), que partilham das ideias consideradas neo-liberais e ocidentais como a fertilização in vitro (a Igreja Católica é abertamente contra), a liberalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, os direitos dos homossexuais e a multitude de multinacionais que, à luz do PiS não contribuem para um real desenvolvimento da economia polaca sendo necessário taxar e retirar privilégios aos investidores estrangeiros. A tirada de Kaczyński mereceu inclusive um hashtag nas redes sociais #najgorzesortpolakow.
Num fórum polaco;
Confesso publicamente, sou o pior tipo possível de polaco, deixei o país há imenso tempo e isso estragou-me. Agora, horror dos horrores - a minha noiva é síria, um dos vizinhos negro, um colega de trabalho homossexual, com ideias liberais e de esquerda...
O ashtag virou t-shirt - por 40 złoty (9€) pode-se comprar uma via Internet |
Os najgorzsortpolakow desprezam Kaczyński e os seus seguidores incluindo a jocosa e típica "Moherowa Armia" ou "Exército dos Barretes de Mohair", uns milhões de beatas e beatos reformados que se identificam facilmente pelos barretes que usam quase todo o ano, leais ao PiS e à ICAR. São eles o eleitorado do PiS e a verdadeira força motriz do partido conservador.
Trazem consigo um grande ressentimento pelas décadas de Comunismo-Socialismo, opressão pela Ex-URSS, a quase-abolição dos serviços religiosos num país onde o catolicismo é ainda levado à letra e onde o fear mongerism pela União Europeia faz com que, aos seus olhos, todos sugam os recursos da Polónia e o dinheiro dos polacos para os outros países da união. São as grandes vitimas da UE e ai de quem se opor aos seus ideais e arreigadas convicções. Nos seus modos os russos, os judeus, os alemães, os outros membros da União Europeia, os árabes, os pretos, os escuros, os paneleiros, as lésbicas, os comunistas, os ateus e os emigrantes são o alvo a abater.
Repórter da TVP agredido por católicos munidos de cruzes durante a cobertura de uma manifestação a favor do PiS e de Kaczyński. Entre apupos e acusações de ser um "propagandista", de estar a mando de Vladimir Putin e de dinheiro russo o jornalista é finalmente empurrado, insultado, convidado a sair do meio dos brancos (sic) e finalmente tocado por idosos enfurecidos que lhe arrancam os auriculares em directo, dando-lhe uma palmada na cabeça enquanto exigem censura, ainda que os organizadores tenham por todos os meios conter as emoções dos presentes.
A manifestação deu azo a outras contra este tipo de fanáticos e definitivamente mostrou aos partidários do PiS que a Polónia tem em curso uma revolução silenciosa contra este tipo de atitudes lamentáveis, dignas do Kuk Klux Klan no Mississipi do século passado que estão erroneamente atribuídas aos movimentos patriotas. Ainda que há quem use e abuse deliberadamente dos símbolos nacionais da Polónia, a bandeira branca e vermelha, a águia da Polónia, a âncora com P símbolo da resistência contra os fascistas. Tudo servindo habilmente agendas partidárias e, em ultima instância, fomentando a intolerância, a violência gratuita contra o que é diferente - ou quem pensa diferente. Isto numa nação de emigrantes, numa Diáspora contínua com mais de 10 milhões de descendentes de polacos nos EUA, mais de meio milhão no Reino Unido e outros milhões por todo o mundo incluindo o Canadá, Austrália, Brasil, Israel, Irlanda, Alemanha, Escandinávia, França, Espanha e também em Portugal.
Kaczyński e o PiS demonstram estar tão só e apenas desconectados da realidade, parados no tempo e cristalizados ainda que tenham tocado pontos pertinentes como o descontrolo das politicas da UE relativamente à emigração e pedidos de asilo politico acompanhado pelo desastre que o partido PO de Donald Tusk causou nos últimos anos envolto em escândalos, uns graves e outros praticamente trágico-cómicos prontamente usados como arma politica.
E é assim que os emigrantes de um dos países da UE que ironicamente tem menor percentagem de emigrantes, vivem o seu dia-a-dia, integrados por esse "pior tipo de polaco" que os aceitaram. Assim contribuímos para a economia do vosso país, para o enriquecer com aquilo que podemos, com o nosso trabalho - ninguém vem para a Polónia para viver de benefícios da segurança social - e com pedaços do nosso país e cultura. Do mesmo modo levaremos um dia connosco a Polónia mas não essa dos energúmenos, dos bacocos ignorantes e a dos intolerantes.
Somos o #najgorszesortemigrantow...
Trazem consigo um grande ressentimento pelas décadas de Comunismo-Socialismo, opressão pela Ex-URSS, a quase-abolição dos serviços religiosos num país onde o catolicismo é ainda levado à letra e onde o fear mongerism pela União Europeia faz com que, aos seus olhos, todos sugam os recursos da Polónia e o dinheiro dos polacos para os outros países da união. São as grandes vitimas da UE e ai de quem se opor aos seus ideais e arreigadas convicções. Nos seus modos os russos, os judeus, os alemães, os outros membros da União Europeia, os árabes, os pretos, os escuros, os paneleiros, as lésbicas, os comunistas, os ateus e os emigrantes são o alvo a abater.
Repórter da TVP agredido por católicos munidos de cruzes durante a cobertura de uma manifestação a favor do PiS e de Kaczyński. Entre apupos e acusações de ser um "propagandista", de estar a mando de Vladimir Putin e de dinheiro russo o jornalista é finalmente empurrado, insultado, convidado a sair do meio dos brancos (sic) e finalmente tocado por idosos enfurecidos que lhe arrancam os auriculares em directo, dando-lhe uma palmada na cabeça enquanto exigem censura, ainda que os organizadores tenham por todos os meios conter as emoções dos presentes.
A manifestação deu azo a outras contra este tipo de fanáticos e definitivamente mostrou aos partidários do PiS que a Polónia tem em curso uma revolução silenciosa contra este tipo de atitudes lamentáveis, dignas do Kuk Klux Klan no Mississipi do século passado que estão erroneamente atribuídas aos movimentos patriotas. Ainda que há quem use e abuse deliberadamente dos símbolos nacionais da Polónia, a bandeira branca e vermelha, a águia da Polónia, a âncora com P símbolo da resistência contra os fascistas. Tudo servindo habilmente agendas partidárias e, em ultima instância, fomentando a intolerância, a violência gratuita contra o que é diferente - ou quem pensa diferente. Isto numa nação de emigrantes, numa Diáspora contínua com mais de 10 milhões de descendentes de polacos nos EUA, mais de meio milhão no Reino Unido e outros milhões por todo o mundo incluindo o Canadá, Austrália, Brasil, Israel, Irlanda, Alemanha, Escandinávia, França, Espanha e também em Portugal.
Kaczyński e o PiS demonstram estar tão só e apenas desconectados da realidade, parados no tempo e cristalizados ainda que tenham tocado pontos pertinentes como o descontrolo das politicas da UE relativamente à emigração e pedidos de asilo politico acompanhado pelo desastre que o partido PO de Donald Tusk causou nos últimos anos envolto em escândalos, uns graves e outros praticamente trágico-cómicos prontamente usados como arma politica.
E é assim que os emigrantes de um dos países da UE que ironicamente tem menor percentagem de emigrantes, vivem o seu dia-a-dia, integrados por esse "pior tipo de polaco" que os aceitaram. Assim contribuímos para a economia do vosso país, para o enriquecer com aquilo que podemos, com o nosso trabalho - ninguém vem para a Polónia para viver de benefícios da segurança social - e com pedaços do nosso país e cultura. Do mesmo modo levaremos um dia connosco a Polónia mas não essa dos energúmenos, dos bacocos ignorantes e a dos intolerantes.
Somos o #najgorszesortemigrantow...
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