quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Polónia - Legislativas 2015. Conservadores contra-atacam!

Um momento histórico vive-se na Polónia. Pela primeira vez na democracia polaca um partido político vai governar em maioria absoluta. O PiS (Prawo e Sprawiedliwość) ou, Verdade e Justiça, dos irmãos Kaczyński saiu vitorioso numa Polónia que sobreviveu a crise económica de 2008 e que viu a sua economia crescer enquanto declinava noutros países da UE, onde se inclui Portugal. Correspondente aos conservadores "Tories" no Reino Unido o PiS vai dar que falar agora que a presidência e o poder legislativo estão nas mãos de forças políticas críticas às decisões de Bruxelas, fortemente católicas e com ódio de estimação aos russos e alemães.

A morte do presidente Lech Kaczyński em 2010, juntamente com a primeira-dama, tripulação do Tupolev presidencial, staff e figuras de craveira da política, do exército e da história recente da Polónia não foram o canto-de-cisne das ambições politicas dos gémeos que em 1962 "roubaram a lua"...



A nova cara do PiS e novo Primeiro-Ministro da Polónia, Beata Szydło (leia-se Cheduó) tem origens humildes, é filha de um mineiro de carvão da Voivodia da Pequena-Polónia. Tem dois filhos sendo um deles diácono.

Cinco anos volvidos o partido símbolo da Polónia da velha-guarda contra-ataca e literalmente humilha o rival liberal-democrata, PO ou Platforma Obywatelska (Plataforma do Cidadão), abandonado pela sua principal figura, Donald Tusk, agora na sua nova carreira em Bruxelas, sai em bicos dos pés entre escândalos, demissões, fogo-cruzado, guerras intestinas a nível interno e uma enorme pressão dos media. A verdade é que o PO se pôs a jeito de sofrer uma pesada derrota ainda que ninguém esperasse uma verdadeira tareia, como a que se verificou no passado domingo.


Jarosław Kaczyński, o irmão sobrevivente, por detrás das cortinas, qual eminência parda, certamente regogiza-se, com a estratégia eleitoral e com o regresso a uma Polónia à antiga, pouco tolerante com essas "modernices" da igualdade relativamente aos direitos dos homossexuais, da liberalização dos contraceptivos e da fertilização in-victro. Deus, Pátria e Família ou "Bóg, Honor, Ojczyzna" - Deus, Honra e Pátria são os valores mais próximos dos ideais do PiS.

Com promessas fortes, a tocarem o âmago de muitos polacos, como a redução da idade da reforma, baterem o pé a Bruxelas e apontarem o dedo em riste aos eurocratas, num regresso à soberania da Polónia, mostrando-se abertamente hostil aos ditames de Merkel, marcando uma oposição firme a Moscovo (que consideram responsável pelo acidente aéreo de Smolensk), aumento da taxação às empresas com capital estrangeiro nomeadamente supermercados e bancos - Jerónimo Martins e Eurocash vão certamente sofrer um abalo - e cancelarem medidas impopulares como o início da idade escolar aos seis anos e não sete, a par com a manifesta posição anti-emigração levaram a uma mega-vitória que, uma vez mais, demonstra uma cisão entre a Polónia urbana e rural e a diferença entre os polacos abertos à mudança e aqueles com medo da mesma.

A promessa do novo executivo em taxar empresas com capital estrangeiro poderá tocar os agora abundantes service centersglobal delivery centers e BPO's a florescer na Polónia como a IBM, Fujitsu, HCL, HP, Accenture, Infosys, Symantec, Atos, Citi e muitos outros que têm vindo a empregar grande parte dos estrangeiros e inúmeros cidadãos polacos em Varsóvia, Łódź, Cracóvia, Wrocław e outras grandes cidades polacas.  

Resultados das eleições legislativas na Polónia em 2015.


A juventude, cada vez mais alheia aos processos democráticos, apolítica em muitos casos ou simplesmente desinteressada entregou, em parte, de bandeja esta maioria. Uma resignação por parte dos perdedores é notória e a organização do Sejm (parlamento) polaco muda substancialmente.

Associado a forças políticas provenientes dos primeiros anos da Democracia pós-comunismo e também com elementos do ancient-régime de Jaruzelski o PO tem pela frente a batalha de recuperar a confiança do eleitorado e de se redimir de erros crasos como ignorar petições de referendo para a questão da gestão do património florestal não ser entegue a privados, a idade escolar e de reforma e os escândalos como as gravações debaixo da mesa num restaurante de Varsóvia comparando a política externa polaca com os EUA a fazerem-lhes o felácio, num escândalo que jocosamente ficou conhecido como "Waitergate" levando à demissão de Sikorski e outros elementos do PO.

Resta saber se estas medidas populistas não serão um tiro no pé na medida em que o problema do progresso é que o mesmo progride sempre, a Polónia não é um país católico mas sim um país com muitos católicos e os partidos de Esquerda parecem ter alguns problemas de contabilidade quando estão no poder.


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