quinta-feira, 2 de abril de 2020

O mundo, Europa, Polónia e Portugal no Estado de Emergência (Covid19)


Cem anos atrás temia-se a Gripe Espanhola que havia começado em 1918 devastando o mundo ao longo de 1919 e 1920 quando, alegadamente, a estirpe mais perigosa do vírus cessou, junto com os que morreram dela. O Influenza mutou para um tipo tratável numa era em que a Aspirina ainda só estava no mercado, patenteada pela alemã Bayer, há vinte anos. Patente essa que se perdeu, no Tratado de Versalhes como recompensa pelos danos da Primeira Guerra Mundial.
Saltamos um século, estamos no início de 2020, e as semelhanças são, por vezes, aterradoras. Em cem anos a Humanidade evoluiu tecnologicamente para um nível nunca antes visto mas mesmo assim ainda continuamos à mercê da Mãe Natureza.

Algumas pessoas apercebem-se agora em como estavam viciadas em estarem ocupadas.

Mais de cinquenta milhões de óbitos foi o resultado da pandemia do vírus Influenza ou Gripe Espanhola - apesar de não ter origem nesse país da Península Ibérica - entre os anos de 1918 e 1920.
Entre o rescaldo do conflito mundial de 1914-1918 o mundo tinha de lidar novamente com mais mortes, de todas as idades, raças e escalões sociais, ninguém foi poupado sendo a tecnologia e tratamentos na época ainda básicos senão rudimentares. 
A Aspirina patenteada em 1899 pela firma alemã Bayer estava ainda no princípio e a descoberta da penicilina por o Dr. Alexender Fleming só seria revelada em 1928. O rádio ainda estava nos primórdios; nem vinte anos haviam passado desde as primeiras emissões radiofónicas  e o mundo ainda estava muito longe da denominada "aldeia global" que a Internet proprorciona.

1920 - foto digitalizada e colorida tirada durante a pandemia do vírus Influenza ou Gripe Espanhola.
2020 - Cem anos depois as semelhanças são surpreendentes com a exceção dos veículos e da tecnologia empregue na vestimenta conhecida como Hazmat Suit (uniforme Hazmat).

Quarentena em 2020

Ásia, Europa, Américas, África e Oceania tomam medidas para conter os contágios, uns países mais do que outros, líderes mundiais apelam ao bom-senso, uns mais responsáveis, outros irresponsáveis e por vezes energúmenos como o Presidente Jair Bolsonaro no Brasil ou o Presidente mexicano Andres Obrador, o primeiro com declarações como o Covid19 ser apenas um "resfriadinho" ou uma "constipaçãozinha" para a maioria das pessoas deixando ainda a nota que ele, sendo no passado um atleta, não sentiria sintomas caso fosse contaminado ao passo que Andres Obrador mostrava dois amuletos de cariz religioso que o protegem do vírus sendo mais tarde filmado a dar um passou-bem a uma idosa de noventa e muitos anos, mãe do El Chapo, um dos mais temidos traficantes de drogas mexicano...


O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro referia há pouco mais de uma semana que pela sua "condição de atleta" o Covid19 seria sentido por ele como um "resfriadinho", uma "constipaçãozinha" e que o país não terá necessariamente de tomar medidas de encerramento já que o que será necessário conter é a histeria em massa, culpando os mídia brasileiros pela mesma. Uma semana depois o discurso já é outro, mais moderado, face ao evoluir da situação de Pandemia no Brasil, um país que é praticamente um sub-continente com mais de 210 milhões de habitantes - cerca de metade da população da União Europeia (445 milhões).

"O coração de Jesus está comigo" diz Andres Obrador, o Presidente do México. Amuletos de cariz religiosos protegem as pessoas de todos os males, incluindo esta pandemia. 

A liberal Suécia, ao contrário do resto do continente europeu continua sem grandes ações de lockdown (estado de emergência) e só recentemente, no início de Maio, começam ações de prevenção após um número elevado de casos no país o que parece estar a enfurecer a população. Será este um caso de levar o "Politicamente  Correto" até níveis absurdos como prejudicar a própria população? Nas próximas semanas saberemos se o método sueco resulta ou não. 

Portugal

Portugal, "esse jardim da Europa à beira-mar plantado" e a "ditosa pátria minha amada" parafraseando respetivamente o poeta Tomás Ribeiro e Luís Vaz de Camões, gere a situação como a maior parte dos países europeus com a agravante de ter fronteiras com a Espanha que, neste momento, se encontra num estado gravíssimo de pandemia.


O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro-Ministro António Costa anunciaram uma extensão de quinze dias ao Estado de Emergência com efeitos ainda mais restritivos e punitivos entre casos de desobediência civil, negligência e exceções - como as feiras - e outros mais mediáticos como o caso dos passeios na Avenida dos Banhos na cidade costeira minhota da Póvoa de Varzim, ou as filas para atravessar as pontes que ligam a capital portuguesa aos destinos balneares dos lisboetas, entre outros casos de desleixo por parte de alguns portugueses que, felizmente, não espelham a maior parte dos meus concidadãos que entendem a necessidade de quarentena para reverter o cenário atual, o número de contágios e falecimentos. 

Polónia

Com uma população de 38 milhões de habitantes e mais 20 milhões em diáspora a Polónia foi dos primeiros países a entrar em lockout e a decretar Estado de Emergência com o fecho de escolas, creches, instituições e repartições públicas quando os números ainda estavam na casa das centenas, números esses que foram aumentando à medida que as semanas passavam, principalmente na capital Varsóvia e em Łódź, uma cidade que tem vindo a conhecer um crescimento exponencial nas multinacionais que procuram uma força de trabalho especializada e disponível a um custo relativamente baixo em comparação com outras cidades polacas como Cracóvia e Poznań.

Os estudantes polacos agora têm aulas através da Internet, o que viu as vendas de material informático dispararem em tempos de contenção e incerteza. Muitos professores de um tempo em que não haviam computadores e ainda com uma mentalidade algo cristalizada relativamente ao ensino, encontraram agora novos desafios. A informatização apanhou de surpresa pais, alunos e professores.

Do mesmo modo que o Covid19 alterou o sistema de ensino também obrigou muitas empresas, sobretudo corporações, a deslocalizarem os seus colaboradores para aquilo que em língua inglesa se denomina de Home Office (trabalho a partir de casa). Outras empresas tiveram de suspender atividades e mesmo dispensar pessoal. Nas fronteiras a Leste, com a Ucrânia e a Bielorrússia sobretudo, o movimento migratório aumentou a partir do momento em que determinada mão-de-obra não-especializada, feita por muitos imigrantes desses países foi dispensada. É notório um abrandamento da economia a atingir sobretudo os negócios familiares e as pequenas e médias empresas levando a uma outra muito provável crise, desta vez de cariz económico já que todos os indicadores apontam para uma recessão económica com as consequências nefastas que sempre acontecem quando a economia abranda e o desemprego aumenta exponencialmente.


As eleições de 10 de Maio

A Internet polaca nao perdeu tempo com memes de Jaroslaw Kaczyński

"Se a situação melhorar em finais de Abril - e as crianças regressarem à escola - não vejo motivo para cancelar as eleições" disse Bartlomiej Wroblewski um deputado do PiS, o partido no governo. Mais uma vez o partido no poder causa polémica e mesmo revolta entre a classe política e o eleitorado. As eleições de 10 de Maio deveriam ser adiadas por um ano tendo em consideração a pandemia que se vive neste momento.

A Polónia, por exemplo, apesar das medidas de emergência não é dos países com maior percentagem de testes realizados para determinar infeções com Covid19, os números atuais (em crescimento) e as cada vez mais restritas medidas de contenção dos contágios refletem precisamente a necessidade de evitar situações que potenciem o risco de haver mais casos, como seja a deslocação de pessoas para votarem.

O maior problema de haver deslocações às urnas (isto soa extremamente irónico nos tempos que correm) são precisamente os idosos, o grupo de maior risco do Covid19 que constituem também a esmagadora maioria dos votantes do PiS e leais seguidores de Jarosław Kaczyński e do seu partido, Lei & Justiça. Como tal foi sugerido o voto por correspondência já que a Internet não se apresenta como solução viável para os idosos polacos que, maioritariamente, não têm sequer uma ligação à rede ou mesmo um computador. Desse modo os emigrantes polacos deixaram no ar a questão de como se podem deslocar às urnas e formarem filas quando nos seus países de emigração estão em curfew (estado de emergência ou estado de sítio).
Ainda não há certezas de nada mas, como afirmou sobranceiramente o presidente Andrzej Duda; "se há condições para se ir ao supermercado, então também há condições para se ir as urnas".


Fotoblog




Merda em polaco nas traseiras do supermercado Netto. Alguém não parece estar conformado com a situação atual. 


Nos primeiros dias de Estado de Emergência o papel higiénico foi um dos primeiros produtos a desaparecer das estantes nos supermercados, um pouco por todo o mundo. Neste imagem, no supermercado Biendronka do grupo português Jerónimo Martins uma velhinha perdeu a oportunidade de ter o seu rolo de papel. Como na canção de Zeca Afonso"Os Vampiros - Eles Comem Tudo". E sim, eu tinha papel-higiénico em casa, não precisava de reforço... 

Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhe franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada


Na semana seguinte os "vampiros" do papel-higiénico não precisavam mais e o stock havia sido reposicionado. Desde então não tem havido carência deste "novo ouro" nem uma explicação racional do motivo pelo qual em frente de um problema como uma pandemia muitas pessoas temem esvair-se em matéria fecal...


Os elétricos (conhecidos com Tram na Polónia) e os autocarros urbanos iam praticamente vazios. Na segunda semana foram higienizados todos os dias e os passageiros aconselhados a viajarem com uma distância de, pelo menos, dois assentos entre si.


Uma rua que costuma estar pejada de carros, a Ulica Fabryczna, onde centenas de trabalhadores do Global Delivery Center da Fujitsu e outras empresas estacionam os seus carros todos os dias, por vezes é mesmo complicado arranjar um lugar de estacionamento. Num dia da semana, apresenta-se vazia.


O vosso escriba numa selfie pouco elaborada à espera do táxi para (finalmente) levar o equipamento de trabalho para casa tal como milhares de outros na Polónia.






Nas padarias, lojas de conveniência 24/7 e farmácias os polacos começaram a manter distância entre si, um hábito que, para muitos estrangeiros que vivem neste país, já devem ter reparado parecer não estar muito enraizado devido à proximidade das pessoas entre si nas filas talvez em virtude do passado, durante o Comunismo, onde as filas eram cerradas para evitar aqueles que queriam passar à frente de outros num tempo de escassez de bens e nervos de aço esperando muitas vezes no frio gélido por algo que poderia esgotar rapidamente vindo para casa de mãos a abanar, triste e gelado.



Os editais na entrada dos prédios a avisar o perigo do Covid19 e os números de prevenção em caso de suspeita de infeção.


Áreas de recreio, lazer e exercício  fisico vedadas ao público são parte das regras de Estado de Emergência decretado por o Primeiro-Ministro Morawiecki. 

Vivemos um momento histórico no início desta década, uma experiência que terá certamente um antes e um depois da pandemia e que será recordada por muitos. Tempos difíceis avizinham-se perante uma mais do  que provável crise económica.
Estamos em confinamento, sem possibilidades reais de ter o estilo de vida anterior à epidemia, teremos de enfrentar esta nova realidade, não se sabe até quando.

Estamos mais do que nunca com tempo para refletir naquilo que realmente é importante nas nossas vidas e em companhia de alguém que negligenciamos muitas vezes, por estarmos demasiado ocupados com os outros, com o trabalho, com entretenimento e distrações materiais, muitas vezes temporárias. Esse alguém somos nós próprios. 



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