segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Polónia avulso parte XII


A rota W-Z em Łódź 
Consta que face à incompetência dos sucessivos autarcas da câmara de Łódź a cidade tem um atraso de vinte anos face a Varsóvia, Poznań, Wrocław, Gdańsk e Cracóvia. Possível. Łódź, como já escrevi diversas vezes ao longo destes anos, tem um centro urbano decadente mesmo na própria ulica Piotrkowska e na Praça da Liberdade - o coração da cidade - os quais têm sofrido as consequências dessa negligencia apesar das obras de melhoramento que decorrem e supostamente transformarão essa artéria para um estilo mais de acordo com uma cidade da UE. Alias obras é o que mais se vê mais ultimamente nesta velha cidade industrial.  
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Prevê-se que dentro de vinte anos a população diminua dos actuais 800.000 habitantes para 600.000 ou menos. Uma tendência derivada da elevada idade de muitos dos seus habitantes e também pela emigração e migração. Em 2013 a actual presidente iniciou um plano de renovação da ulica Piotrkowska mas também obras de renovação em ruas paralelas da cidade, sobretudo em arruamentos, demolição de prédios devolutos (que se encontram em abundância) e fabricas têxteis há longo tempo deixadas ao abandono. Demoliu-se igualmente a velha e histórica estação de caminhos de ferro de Łódź kaliska estando em construção uma totalmente nova que ficará ao lado do futuro centro comercial e cultural EC1 que causou celeuma pela polémica com o realizador David Lynch e o seu cilindro...
A partir de Outubro anuncia-se o inicio das obras daquilo a que se designa por Trasa W-Z (Rota W-Z) que tem como objectivo melhorar o tráfego automóvel no centro da cidade e modernizar as comunicações publicas rodoviárias e ferroviárias nomeadamente via eléctrico. O caos está prometido até 2015 pelo facto de se cortarem os cruzamentos nevrálgicos com a longa avenida Kościuszki que liga o imenso bairro de Widzew e as cidades vizinhas de Pabianice e Piotrków Trybunalski. Pedem-se nervos de aço e muita, muita paciência para os próximos anos. Pelo menos uma vantagem sobressai; deixaremos de conduzir em velocidade ao bom estilo polaco que por vezes é inevitável.
11 Listopada Narodowe Święto Niepodległości - 11 de Novembro Dia da Independência 
Os 60 anos de "União Ibérica" que marcaram a perda da independência do Reino de Portugal para com o de Espanha, durante a dinastia Filipina, parecem ser poucos quando em comparação com os 123 anos em que a Polónia desapareceu do mapa da Europa dividida entre a Rússia, a Prússia e a Áustria. Este feriado nacional reveste-se de grande importância pelo seu significado patriótico numa nação que, tal como a Fénix na mitologia grega, renasceu das cinzas inúmeras vezes.  

De assinalar que o fim desta partilha coincide com o fim da I Grande Guerra portanto tão recente como 1918!
No dia de hoje sucedem-se as manifestações publicas de patriotismo onde uma das mais conhecidas frases é a Bóg, Honor, Ojczyzna (Deus, Honra e Pátria) tida como adulteração à original Honor i Ojczyzna onde a menção a Deus não estaria incluída pela separação entre o Estado e a Igreja. Nada de espantoso num dos países mais fieis à Igreja Católica Apostólica Romana e onde a separação deste poderes parece, ainda, ser subjectiva.
Ao contrário de Portugal onde o feriado da Restauração da Independência, celebrado a 1 de Dezembro, foi anulado no século XXI pelo Primeiro-Ministro Passos Coelho, na Polónia continua a celebrar-se com grande pompa e circunstância para que todos se lembrem que a independência nem sempre é um dado adquirido.
Filme Adoracja (Adoração) 
A semana passada em Varsóvia, frente ao Centro de Arte Contemporânea, uma manifestação de católicos enfurecidos fez correr tinta nos media polacos ainda que, em alguns casos, tenha passado como nota de rodapé. O mais bizarro neste protesto foi o facto do filme em questão ser de... 1992.
Vinte anos depois surge uma onda de indignação pela cena onde um homem nu aparece a afagar e a beijar uma imagem de Jesus Cristo. Este momento considerado de arte por uns e de blasfémia por outros foi o motivo para que elementos conservadores, ligados ao pernicioso canal televisivo religioso TRWAM, com o apoio do exército de beatas conhecido na Polónia como moherowe berety (barretes de mohair) saíssem à rua envergando cruzes e slogans de protesto depois da exibição do filme no evento British British Polish Polish no dito centro de arte moderna.


Blasfémia não é arte!, Um imbecil nu não faz um artista, Polónia abre os olhos e regressa a Deus, foram alguns dos cartazes visíveis na manifestação. O canal TRWAM e a Radio Maryja fez questão de dar ampla cobertura a este momento de expressão da fé em Jesus Cristo e na Igreja Católica.
O menos positivo nesta manifestação é o facto de terem divulgado o evento e o esquecido filme e realizador que, com certeza, irá parar a inúmeros computadores via torrent...
O Síndrome anti-emigrante
Foi através do Facebook que deparei com este artigo do jornalista Nuno Ferreira Andrade - emigrado e com um carro com trinta anos (o meu é mais recente e "só" tem 12...) - escrito na página da revista P3 do Público online. Passo a citar:
Nota prévia: este texto não é simpático
Existe num certo Portugal uma antipatia emigrante. Descobri com estas crónicas no P3 que há quem olhe para aqueles que vivem fora como se de gentalha da pior espécie se tratasse.
O “salto” sempre foi mal visto por um país que é, muitas vezes, feito de invejas. Há-de ser por isso, e não pelo seu contrário mais óbvio, que as porteiras e os pedreiros em França merecem tanta vergonha alheia. Terá sido aliás pelo esnobismo nacional que a crítica intelectual arrasou com o filme de Ruben Alves.
Num comentário nas redes sociais ao meu último texto alguém escreveu qualquer coisa do género: “Tu foste para fora e ainda te queixas? Então e eu que fiquei aqui?”. O tom era ligeiramente diferente, mas esta é uma casa de respeito.
O emigrante nunca foi bem visto. O problema tem, contudo, contornos mais profundos. O sistema nervoso lusitano é particularmente avesso ao sucesso e à felicidade, até. É de bom-tom cultivar-se um certo fastio pela vida. Cai bem que se mantenha um quase permanente ar de mágoa. Fazemos (e observem o uso da primeira pessoa do plural) o culto da desgraça, preferimos a tristeza: nossa e, especialmente, dos outros. O português padrão não tolera que alguém se dê bem na vida. Pior, não aceita que um tipo normal decida ser dono do seu destino e assumir os riscos das decisões que toma.
A emigração tem a ela associada histórias de diferentes enredos. Há verdadeiros dramas familiares e pessoais. Marido, mulher e filhos separados. Gente de coragem que se sacrifica (ainda mais) para garantir o presente (até mais do que o futuro) daqueles que ama e de si próprio, numa verdadeira luta pela sobrevivência. Há também os outros, aqueles que simplesmente quiseram ou puderam virar a página e que o fizeram só porque são dotados de livre arbítrio.
Ficar, nos dias que correm, talvez seja a maior das ousadias, só comparável à de voltar. Não vos vou falar da vida que levo. É desnecessário, aborrecido e, bem vistas as coisas, não nos conhecemos assim tão bem. Mas emigrar, mesmo que por livre vontade, não é fácil (e se não experimentaram não sabem do que falam). Não sabem o que é estar longe, sem uma auto-estrada que nos leve de volta. Não fazem ideia o que é chegar a um país que nos é estranho sem conhecer ninguém. Não imaginam o que é precisar das nossas gentes e só as ter pelo Skype. O que é estar sozinho numa casa vazia. O sentir no peito uma saudade que só sabíamos de nos contarem. Portugal corre o risco de estar a criar, novamente, dois países: o de lá e o de cá. E isso, então, não nos levará a lado nenhum. Todos nós — e da equação não excluo sequer aqueles que acham que falo de barriga cheia — vivemos uma jornada estranha em que amanhã já é demasiado distante para se saber ao certo. Estar vivo e ser português é, nestes tempos, um acto de grande coragem.
Chamem-me o que quiserem, mas não nos censurem por tentarmos fazer a nossa parte. E não se preocupem, estamos só a cuidar das nossas vidas.
Confesso que nunca me tinha debruçado neste assunto daquilo que pensam dos emigrantes aqueles que ficam. Sinceramente estou-me nas tintas para o que pensam ou deixam de pensar; é um problema deles e não meu. Se ficam é porque provavelmente é melhor para eles, ou não têm outra possibilidade, jamais deixariam Portugal ou então não têm vontade ou coragem de viver no estrangeiro. Cada um sabe de si...
O sucesso é relativo e na maioria dos casos é apenas a diferença entre estar desempregado ou a viver do subsidio ou deixar de suar as estopinhas por 500 ou 600€, a aturar um patrão energúmeno quando, no estrangeiro, com as mesmas horas (ou até menos) se pode ganhar o dobro ou o triplo ou então, no caso da Polónia, ter (ainda) os custos de vida mais reduzidos e outras pequenas "coisinhas" importantes que muitos nem sequer dão o devido valor como o facto de estarem integrados sem serem vitimas de segregação ou terem os filhos em creches, infantários e escolas razoáveis, senão boas, a um preço ajustado aos salários médios.
A ajudar à festa surgem noticias na imprensa portuguesa sobre a escalada na emigração e o novo máximo histórico atingido em 2012 onde se registaram mais de 121.000 saídas para o estrangeiro (sem contar com as não oficiais) superando o pico historicamente conhecido como "o salto" desta vez sem a mala de cartão como Linda de Suza mas sim com uma mala cheia de sonhos e um diploma na mão em muitos casos.
O ultimo a sair que apague a luz...
Syrena 105 Luxe exportado para o Reino Unido
Wheeler Dealers é um programa de automóveis no Discovery Channel onde dois britânicos, Mike Brewer (comprador/vendedor de automóveis) e Edd China (engenheiro mecânico) propõem comprar um carro clássico a preço "camarada" para o restaurarem e venderem com lucro. Fazendo as delicias dos entusiastas de automóveis os dois têm vindo a restaurar verdadeiras pérolas com o pormenor de termos o carismático e alto mecânico Edd China a explicar inúmeros pormenores das reparações e funcionamento das partes mecânicas e metálicas dos veículos na sua oficina.
O facto de escrever sobre este programa no blogue prende-se com a recente aquisição por Mike Brewer de um símbolo da industria automóvel polaca no comunismo, o FSM Syrena, um pequeno carro de quatro lugares com motor de dois tempos (de moto-cultivador) e chassis auto-portante (separa-se da carroçaria) em madeira que foi o primeiro carro de muitos polacos e ajudou a motorizar este país.
O modelo comprado foi um Syrena 105 Luxe (Syrena significa sereia em polaco e símbolo da cidade de Varsóvia) de 1983 o que surpreendeu Brewer por ser literalmente um carro dos anos 50 a ser vendido nos anos 80, uma época em que a tecnologia da injecção electrónica, do turbo e das áreas de deformação programada começa a ganhar popularidade. Na Polónia vendiam-se como pães quentes os produtos nacionais como o Fiat 126P (Maluch), Fiat 125P, FSO Polonez. e em menor quantidade os Skoda, Wartburg, Trabant, Lada e Dacia 1200 (Renault 12) provenientes da RDA, Checoslováquia, URSS e Roménia.
O episódio está disponível no Youtube, copiado vezes sem conta por fãs do programa e, claro está, por os polacos que são grandes entusiastas de automóveis e de automobilismo.

http://www.youtube.com/watch?v=GfI6DVINzLQ

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