O restaurante - Cooperativa Social (Nestes Brotos*)

W te Pędy (leia-se Vté Pende) traduz-se dificilmente, é uma expressão idiomática polaca. Significa algo como <<nestes brotos>> mas também <<agora mesmo>>. Foi o nome escolhido por cinco mães polacas (uma delas a minha companheira, a Paula Kucner Taipa) para o projeto de uma cooperativa social realizada com o apoio do Fundo Social Europeu e o suporte do Instituto dos Assuntos Civis (Instytut Spraw Obywatelskich) INSPRO. Uma longa caminhada com algumas pedras pelo caminho mas, como escreveu o nosso grande poeta Fernando Pessoa: Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo.

Ontem, dia 21 de Maio de 2013, inaugurou-se um novo espaço social e gastronómico no centro da cidade de Łódź, na ulica Traugutta 14, uma das ruas paralelas à conhecida e central Ulica Piotrkowska. Após um ano de intensa atividade e pleno de emoções a Paula, a Magda, a Paulina, a Ida e mais recentemente a Agata conseguiram chegar ao fim do projeto a que se dedicaram. A ideia era a de criarem um espaço que fosse a síntese daquilo que é economia social e toda a filosofia do go green em tempos de grande mudança e crise a todos os níveis como aqueles que estamos a viver neste início de século.

A maior parte do mobiliário da esplanada contigua ao restaurante e também aquele nas paredes do mesmo é feito com paletes. Uma ideia que pode ser replicada por quem tenha um pouco de talento para a bricolage enquanto poupa somas consideráveis que podiam ir ao invés para grandes corporações como, por exemplo, o IKEA.

O restaurante é também café e tem como característica ser vegetariano/vegan. Uma opção considerada em plena consciência num mundo e num país em que a maior parte come frequentemente carne. Os pratos foram elaborados pela Magda e a sua experiência no ramo, a par com o facto de ser vegan, garantem aos apreciadores de comida vegetariana/vegan refeições apetitosas a bom preço onde se incluem também pratos confecionados sem gluten para os alérgicos ao mesmo. O vosso escriba de há três anos a esta parte deixou de comer carne e pode confirmar que não se sente fraco, é capaz de carregar grandes pesos e não tem o cabelo a cair nem os dentes a abanar. Portanto recomendo a quem venha a Łódź - ou já aqui esteja - a experimentar as sopas, os rissóis (pierogi) e outras iguarias feitas com plantas, grãos e sementes com elevado teor calórico. Para quem tem alergia à lactose, não aprecia leite de vaca ou não quer beber há a possibilidade de beber leite de coco, soja entre outros tipos.

A vertente social do W te Pędy permite que também se possam organizar eventos como workshops, palestras, tertúlias entre outros. Se tudo correr como previsto espero organizar o 10 de Junho, dia de Portugal e das Comunidades no restaurante. Por essa altura já deverá estar disponível a licença para a venda de álcool (cerveja regional) e teremos então um bom acompanhamento para as conversas que poderemos ter entre patrícios na Polónia e todos aqueles que tenham ligações ao nosso país. 

O café foi comprado a um comerciante local de cafés fairtrade e tem origem na Guatemala e Honduras. Como vivemos num mundo global descobri que o proprietário do pequeno negócio é sérvio e vive há muitos anos na Polónia. A industria do café é conhecida por comprar toneladas de grão a empresas que usam mão-de-obra extremamente barata, por vezes literalmente escrava. As empresas de fairtrade certificadas asseguram a origem do café e suportam o desenvolvimento de economia sustentável e das pequenas comunidades em países do terceiro-mundo ou em vias de desenvolvimento.

Os meus cinco "segundos" de fama no jornal Dziennik Łodzki... Em amena cavaqueira com a Aleksandra Silva, casada com um conterrâneo de Coimbra. Fonte: Dziennik Łodzki, foto picada de: © Grzegorz Gałasiński

Para que possamos ter em Łódź um local onde se tome um cafezinho à nossa maneira pedi ao nosso conterrâneo Marcos Silva, com experiência no ramo em Portugal (no restaurante da família em Vale de Cambra), para que pudesse ensinar a "arte" de tirar um bom café. Os resultados parecem ser bons mas os polacos quando se trata de café gostam de ter a chávena maior do que aquela que nós usamos no café ou "bica". Para os apreciadores de chás o restaurante tem uma variedade de ervas onde se destaca o erva mate também de origem fairtrade.

 O trabalho é muito e tudo começou a sério a partir do momento em que se virou a placa na porta de Zamknięte (fechado) para Otwarte (aberto). Felicidades e boa sorte, wszystkiego dobrego!