Volvidos três anos sobre o acidente do Tupolev presidencial da Polónia em Smolensk na Rússia as manifestações de pesar, sobretudo nos meios mais conservadores, e respetivas teorias da conspiração abundam. Perfeitamente compreensível quando devidamente enquadrado na trágica História do país e sobretudo no horrendo fim de 22.000 polacos, a maior parte militares de alta-patente do Exército Nacional da Polónia, entre Abril e Maio de 1940.
Dizem que os vencedores escrevem a História. O Massacre na floresta de Katyn no ano de 1940 é prova disso mesmo. É hoje em dia um facto provado (e admitido) que a URSS, com a assinatura do ditador Josef Estaline, e a força brutal da NKVD (mais tarde KGB), foram os responsáveis pela sentença de morte de mais de 22.000 cidadãos da Polónia, um número chocante que durante mais de 60 anos foi considerado pelos russos e por os comunistas de todo o mundo como mais uma "teoria da conspiração" do III Reich.
O filme Katyń do realizador polaco Andrzej Wajda. Está no Youtube (com legendas em inglês) e vale a pena ver antes que o apaguem.
Os Nazi foram acusados de terem sido os carrascos de milhares de oficiais e militares polacos, intelectuais, professores, médicos, engenheiros, religiosos, civis refugiados e um príncipe polaco nas florestas de Katyn e durante os anos de comunismo na Polónia qualquer menção ao envolvimento da URSS no massacre não só era proibido como punível. Estaline traiu os polacos no infame acordo secreto entre a Alemanha Nazi e a URSS - pacto Ribbentrop-Molotov - depois da Polónia ter recusado ser um corredor de passagem para o Exército Vermelho atacar a Alemanha.
Estaline e Hitler dividiriam a Polónia em duas esferas de influência sem qualquer consideração para a nação polaca. O plano ricocheteou mais tarde quando se iniciou a Operação Barbarossa, o plano alemão para a invasão e aniquilação da Rússia e dos bolcheviques mas entretanto havia que desmantelar a Polónia e tudo o que ela representava.
De modo sistemático os prisioneiros de guerra polacos em Katyn eram atados com as mãos atrás das costas e abatidos um a um com um tiro na nuca e outro na cabeça com pistolas Walther PPK, calibre 7,65 mm de fabrico alemão iguais às usadas pelos Nazis. Seguidamente eram enterrados numa vala comum.
Os assassinatos eram metódicos. Após a verificação das suas informações pessoais, o prisioneiro era algemado e levado para uma cela isolada com pilhas de sacos de areia e encerrada por uma porta pesada. A vítima recebia ordens de se ajoelhar no meio da cela, o executor se aproximava por trás e lhe dava um tiro na nuca ou na parte de trás da cabeça. O corpo era então carregado por uma porta de saída, do outro lado da cela, e jogado dentro de um dos caminhões que esperavam para recolher os corpos, enquanto o próximo condenado era introduzido na cela pela porta de entrada. Além do abafamento do barulho dos tiros causados pelo isolamento da cela, máquinas - talvez grandes ventiladores - passavam a noite toda operando fazendo grande barulho. Este procedimento foi seguido todas as noites, à exceção do feriado de Primeiro de Maio.[29]
Perante este trágico destino da elite polaca, todo o secretismo e traição da URSS em relação ao seu envolvimento no genocídio polaco, a coincidência do avião presidencial da República da Polónia se despenhar na mesma floresta no 70o aniversário do massacre é per se motivo para grande desconfiança da esmagadora maioria dos polacos mesmo que os relatórios oficiais apontem para falha humana no acidente. A lista de incongruências, omissões e atrasos nas investigações russas não geram consenso e a polémica provavelmente irá durar para sempre.
O Massacre da floresta de Katyn em 1940 e a tragédia do acidente de aviação de Smolensk em 2010 marcam de forma indelével a História da Polónia e nalguns círculos acrescenta mais 96 nomes à longa lista de mártires de uma nação que não esqueceu, não quer e não pode nunca esquecer o seu passado.
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