Desconhecida por muitos e ignorada por outros tantos a presença russa ainda se mantém nas fronteiras da Polónia. Sensivelmente do mesmo tamanho que a nossa Beira Interior, rodeado de União Europeia e de Espaço Schengen por todo o lado o enclave de Caliningrado bate o pé à nova ordem mundial pós-comunista e é actualmente uma das zonas da Federação Russa com mais crescimento económico.
Uma das fronteiras da UE. A Polónia (à esquerda) e a Federação Russa (à direita). |
Há 21 anos a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tinha uma extensa fronteira com a Polónia. Onde hoje temos a Ucrânia, a Bielorrússia e as Repúblicas do Báltico existia apenas a União Soviética também conhecida como grande irmão. A RDA simbolizava o inicio da esfera de influência soviética e a Polónia era mais um dos países-satélite da URSS. O Pacto de Varsóvia assim o ditou e o isolamento rompeu-se em 1989 sendo a queda do muro de Berlim a imagem simbólica desses ventos de mudança. No Báltico, no inicio da década de 90, as repúblicas anexadas e a frustração de décadas romperam em conflitos que levariam à independência da Estónia, Letónia e Lituânia. Caliningrado desconectava-se fisicamente da Rússia tornado-se um enclave. Com a adesão da Polónia e dos estados bálticos à UE as fronteiras passaram a ter um controlo mais apertado sendo visível nos inúmeros postos de controlo, barreiras, rede e arame farpado sobretudo no Golfo do Vístula e ao longo da fronteira com a Lituânia e a Voivodia da Vármia-Masúria na Polónia.
Outrora parte da Prússia e habitada por alemães a região denominava-se de Koenigsberg sendo anexada à Lituânia em 1918 no final da I Grande Guerra. Em 1938 foi rapidamente tomada pelos nazis e a sua população prontamente classificada como não-ariana portanto alvo de extermínio. Em 1945 a população germânica havia fugido para ocidente ou sido evacuada e o repovoamento foi prontamente efectuado pela URSS. Com o colapso do comunismo o enclave tornou-se uma espécie de armazém militar onde todo o material bélico proveniente dos países-satélite se acumulava tornado-se, durante determinado tempo, a região mais militarizada da Federação Russa.
Quando em 2008 os EUA e a Polónia estiveram a passos de instalar o dito Escudo Anti-Míssil a poucos quilómetros do enclave a Federação Rússia, pela voz de Vladimir Putin, reagiu com ira e imediatamente afirmou a sua intenção de colocar o sistema de misseis do tipo Iskander que serviriam para neutralizar misseis nucleares e não-nucleares da OTAN e EUA. O assunto ainda não está totalmente esquecido e os russos prosseguem com a militarização da zona tal como prosseguem os rumores de existir armamento nuclear soviético no enclave.
A General Motor, BMW e Kia escolheram a região para a fabricação de componentes para automóveis. O turismo é especialmente centrado no istmo da Curlândia, uma língua de areia com dunas que se estende por 100 km e é considerado património oficial da UNESCO. A costa báltica é também conhecida pelo âmbar que se pode encontrar nas sua costa e é uma das principais marcas do artesanato local. O enclave de Caliningrado retém a maior parte das reservas de âmbar da região.
Quem tiver disponibilidade e tempo para visitar a região báltica pode passear ao longo da fronteira com a Federação Russa mas não espere encontrar a recepção de outros tempos ou guardas femininos de olhos azuis com nome de homem. Ah! Isso era em Berlim, desculpem... Por ali só mesmo polacas que, diga-se de passagem, não ficam nada a dever à Nikita do Elton John.
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