terça-feira, 6 de novembro de 2012

Łódź dos milhões - CC Manufaktura vendido a alemães



 Łódź é uma das grandes metrópoles polacas com um centro urbano antigo e em inúmeros casos decrépito onde se podem encontrar prédios devolutos outrora pertencentes a alemães, judeus e polacos abastados. Os problemas sociais de grande parte da população residente no centro são conhecidos e nos últimos anos a política tem sido a de demolir os problemas (leia-se os edifícios) com intenção de reativar o centro pela futura construção de residências e espaços de lazer. Demolir é fácil e tem resultado mas construir só mesmo a iniciativa privada.

Átrio do Hotel de quatro estrelas Andels, construido nas antigas instalações fabris do magnata Izrael Poznański.

Esta cidade tem um centro antigo e problemático rodeado por uma periferia-dormitório onde se encontram igualmente as zonas residências dos mais abastados (como Łagiewnicka) caracterizada pelos condomínios fechados protegidos por medidas de segurança que chegam ao ponto da paranoia. São contrastes flagrantes entre a classe baixa, a média-baixa, a dita "média-média" e uma classe média-alta que pretende chegar a alta. Médicos de renome, advogados, empresários, profissionais liberais, magistrados, políticos e altos funcionários públicos refugiam-se do modo que podem dos ladrões, bandidos e da "escumalha" que vive do alheio, provenientes das zonas cinzentas da cidade. Łódź tal como grande parte das grandes cidades polacas e europeias mas também mundiais é cada vez mais uma cidade de contrastes entre ricos, remediados (esse eufemismo) e pobres.

Há dinheiro na Polónia? Sim, sem quaisquer duvidas. Muitos polacos têm poder de compra e na última década o país tem vindo a aproximar-se dos padrões de vida de outros membros da União Europeia. O centro comercial Manufaktura e a zona circundante são um exemplo crasso disso mesmo. Enquanto uns se limitam a fazer window shopping* outros compram e gastam os złoty nas inúmeras lojas disponíveis nos 112.000 m2 da superfície que em tempos foi o império do riquíssimo judeu-polaco Izrael Poznański. O número de 20 milhões de visitantes anuais é prova do sucesso deste empreendimento.

Quando fui estudante Erasmus entre 2001 e 2002 a zona onde actualmente se encontra o centro comercial e o luxuoso hotel Andels (concebido por austríacos) era nada mais do que uma ruína histórica rodeada de vegetação selvagem onde um securita de cabelos brancos abria e fechava o portão de entrada e se mostrava relutatante em deixar-me tirar fotografias. Dez anos depois é uma das zonas da cidade mais fervilhantes tudo fruto da iniciativa privada, nomeadamente do grupo francês  Apsys e Euris/Rallye Group. 




Aberto ao público em Maio de 2006 o centro comercial muda de proprietários e de nacionalidade em 2012. A Union Investment Real Estate sediada em Hamburgo na Alemanha será até ao final do corrente ano proprietária do CC Manufaktura. De acordo com o diário Express Ilustrowany a transação rondará os 350 a 400 milhões de € - um número cósmico tendo em conta o salário médio de 2000PLN (487€) que se aufere na cidade. Esta mediática compra reacende em determinados círculos fantasmas do passado e alguns comentários na Internet e nas redes sociais mencionam o regresso de Litzmannstadt - nome de ocupação dados pelos Nazi a Łódź em memória do general alemão tombado durante a conquista e ocupação da urbe em 1939.

Łódź precisava (precisa) de uma revitalização urgente e não fosse a iniciativa privada pouco teria mudado no cenário pós-comunista de urbe abandonada e esquecida que caracterizava a Łódź de finais do século XX. Franceses, alemães, austríacos, italianos e também portugueses (não esqueçamos o Grupo Jerónimo Martins) são interesses estrangeiros e como tal alvo de criticas em certos círculos mais nacionalistas e conservadores mas têm contribuído indubitavelmente para o crescimento e criação de empregos numa Polónia que ainda há 23 anos saia do Bloco de Leste e do olhar vigilante da URSS.




* Window shopping - Expressão inglesa utilizada para a actividade de espreitar montras sem intenção de comprar ou apenas para fins recreativos.


2 comentários:

Pedro Lopes disse...

Passei por lá no último natal, assim muito rápido, mas achei bastante interessante o conceito e a reabilitação urbana associada.

portuguese girl with american dreams disse...

E eu que muito gosto do window shopping haha