quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Polónia não é tábua de salvação

Desde que a crise - a enorme crise dos bancos e do dinheiro virtual - se instalou e caiu fortemente nos países apelidados jocosamente de PIGS (Portugal, Italy, Greece and Spain) que se tem vindo a sentir não só um povo totalmente resignado e triste como também mais uma nova vaga de emigração para onde quer que seja desde que haja emprego e seja longe de Portugal.  


Depois de "bitaites" sem vergonha como aquele dito por Passos Coelho em que os professores desempregados não tem outra saída senão a de procurarem trabalho no estrangeiro ou o outro em que não existe desemprego mas sim oportunidades... ou o outro do Presidente Cavaco Silva que procura emigrantes bem sucedidos que possam ajudar o país em vez de assegurar que a emigração não tem de ser forçosamente tábua de salvação e que o país de origem tem condições para todos e para o regresso. Tempos havia em que os emigrantes eram uma muleta para os cofres de Estado, décadas de depósitos das poupanças dos emigrantes que ficavam a levedar na Caixa de Depósitos. 

"Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm, nesta altura, ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma, ou consegue, nessa área, fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa encontrar aí uma alternativa" Passos Coelho

Os tempos mudaram e na realidade já ninguém poupa ou poupam pouco - com as devidas exceções claro está. Os novos emigrantes são de todos os tipos e muitos são indivíduos com formação académica e fluentes em muitos dos principais idiomas da UE. Isto per se é um factor de diferenciação e é crucial para uma integração bem sucedida nos países do acolhimento. Contudo há exceções e ainda há quem se meta em caminho para onde quer que haja trabalho. Temos sentido um pouco isso na Polónia e as empresas que recrutam falantes de língua portuguesa e também espanhola não encontram problemas em encontrarem quem queira trabalhar nestas longínquas paragens. Nos Recurso Humanos da empresa onde trabalho dizem-me que a maior pilha de CV de estrangeiros são de portugueses. Não apenas os que estão a residir em território polaco mas também outros que se encontram em Portugal e estão disponíveis para irem trabalhar na Polónia. Quando os chamam metem-se no primeiro avião que encontram e aparecem.
Sucedem-se as entrevistas por telefone e no fim as queixas que pouco diferem: Isto está muito mau, está muito difícil encontrar emprego, estou desempregado há algum tempo e não encontro trabalho, estou farto de estar aqui. Muitos deles pouco sabem sobre a realidade da "nova" União Europeia, dos salários mais baixos em relação à media dos países da Europa ocidental e dos Invernos frios. Isso na realidade já não lhes interessa e só há um objetivo em mente; ir embora!

Irlanda, Reino Unido, França, Suíça, Luxemburgo, Holanda, Alemanha mas também a Dinamarca e Suécia são dos destinos mais procurados. Depois não se exclui também o Brasil e Angola, Austrália, os EUA, Canada, Dubai... Entretanto o governo parece fazer vista grossa à debandada e até a estimula como se fosse parte da solução para a crise. Compreende-se o ensejo de ter de sair do país, não é apenas a questão de "fugir" aos problemas é também um modo de fazer um reset, de levar os quilómetros a zero e sair do nevoeiro. Não vale a pena esperar pelo D. Sebastião. Por vezes a distância ajuda a situar-nos e a vermos o que há pior mas também de melhor no nosso cantinho da Europa. Cabe a cada um julgar os prós e os contras e se a emigração é de facto tábua de salvação.  


1 comentário:

Ryan disse...

O titulo diz exatamente tudo. A Polónia não e tábua de salvação. Imigrar não vai ajudar os cofres Portugueses agora menos dados a poupanças. Logo remessas de imigrantes não vão produzir efeitos. O que o povo quer é resolver os seus problemas. Se no país as coisas não se resolvem tem de ir a algum lado. Por muito que sejam cruéis as afirmações dos nossos políticos a realidade esta mais do que a ver-se. Não há investimento então não poderá haver trabalho.
O mais intrigantes, para mim que estou fora de Portugal há 10 anos, é que quando saí já cheirava a crise. As nossas crises parecem ser de maior duração do que qualquer outro país do mundo. O pior mesmo é a política não se preocupar muito em ajudar a resolve-la.